quinta-feira, 30 de maio de 2013

Kapadokya

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Agosto de 2011. Depois de Istambul, Kusadasi, Pamukkale, Alanya e Konya —ufa!, lugares e exclamações—, o destino é Göreme, na região da Turquia nominada Anatólia Central.

Finzinho de tarde e, após alguns embananamentos rodoviários de praxe, chegamos, os caipiras, à tão esperada Capadócia.

Antes de procurar hospedagem e restaurante, compramos, mais do que depressa e já para o dia seguinte, o obrigatório passeio de balão.

A van da Anatolian Ballons nos pega no hotel-caverna —sim, dormimos dentro de uma rocha— perto das 5 da matina. A causa nobre e a ansiedade despertam os dorminhocos.

Vamos para o pré-embarque num pavilhão turístico onde é servido o café da manhã, já incluso nos 100 euros por cabeça. E falando em desjejum, lembro-me de uma coisa que não falta na primeira refeição dos turcos: azeitonas. Verdes, pretas, saborosas e carnudas.

À época, bem antes de Salve Jorge, o folhetim global, os brasileiros não pagavam tão caro pelo tour. Parece que a novela da Glória Perez inflacionou estratosfericamente os preços na Capadócia.

Organizados e etiquetados, saímos para o local da decolagem e, ainda meio escuro, o ar quente dos maçaricos faz dezenas de balões subirem sequencialmente numa das cenas mais espetaculares que estes cansados olhos já viram.

Viajam, apertadas e boquiabertas, em cada brinquedinho, umas doze pessoas, incluindo o condutor.

Lá em cima, em quase uma hora de voo, o campo visual contempla uma geografia extraordinária com formações rochosas indescritíveis e, durante o devaneio no céu, o astro-rei surge no horizonte, deixando o vivente mais espantado ainda com tal e tamanha beleza.

De volta, 7 da manhã, depois da aterrissagem cirúrgica na traseira de uma caminhonete, comandante e passageiros cumprem a tradição e brindam com champagne. A sensação é de embriaguez, não pela taça do espumante, mas pela experiência única neste singular painel cinematográfico que é a Capadócia.

E dá-lhe exclamação!!!!!!!!!

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quinta-feira, 23 de maio de 2013

Genwa

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Los Angeles, segunda-feira, 18 de março de 2013.

Deixar a maior cidade da Califórnia sem levar na memória um sabor marcante seria herege para um comilão itinerante. A metrópole angelena tem uma absurda oferta de temperos étnicos.

Queríamos um oriental diferente dos que já conhecíamos [japonês, chinês, tailandês e vietnamita] e, com a ajuda de várias resenhas positivas no Google, decidimos por um coreano na Wilshire Boulevard. Genwa é o nome do restaurante, GENWA.

Sem reservas, chegamos às 9 da noite. A casa lotada, a maioria de olhos puxados, e 40 minutos de espera eram prenúncio de, no mínimo, uma comida correta, sem surpresas desagradáveis. O jantar foi bem mais do que o trivial coreano.

Salgado, doce, amargo, azedo e umami. Sensações do paladar numa única refeição. Por 50 doletas, quase de graça, duas pessoas são deslumbradas pelo menu que eles chamam de “course”.

Um macarrão artesanal tipo lamen, frio, meio adocicado, mais de 20 cumbuquinhas com peixes, pimentas, legumes, ervas, raízes, queijos, o escambau. Uma sequência inusual para ocidentais. Diria até estapafúrdia para os gostos mais ortodoxos.

Ainda bem que a covardia culinária não está entre os meus inúmeros defeitos.

O cardápio está grafado naqueles intraduzíveis ideogramas asiáticos e em inglês. Mesmo na língua anglo-saxônica não deu pra saber o nome de quase nada do que engolimos com curiosidade e prazer.

No centro da mesa há uma grelha a carvão para o preparo de mais de uma dúzia de rolinhos de carne, que é marmorizada no estilo Kobe Beef e cortada bem fininha.

A brigada, muito simpática, se esforça para agradar aos comensais. Um deles, tagarela, contou-nos em espanhol que seu “cumpleaños” foi comemorado numa churrascaria [Fogo de Chão] brasileira em LA: “Me gustó la picanha”.

O arremate, digestivo?!, é um chá que mistura os aromas peixe e doce. Tomei o meu e o da Josi, que entortou a boca e fez mil caretas ao experimentar o líquido.

Mesmo finalizando com essa controversa infusão lambari-caramelo, o jantar no Genwa foi para um lugar de destaque na minha modesta prateleira de experiências gustativas.

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domingo, 12 de maio de 2013

FIUCA, para todos

vó Fiuca
Quero homenagear as mães, TODAS, especialmente a minha, falando da mãe dela: vó FIUCA.

FIUCA é o apelido de infância de Ordália Figueiredo Ribeiro Bittencourt. Cognome este que extrapolou a intimidade dos próximos para deixar Ordália só no papelório da vida civil. FIUCA, para todos!

Convivi com ela até os meus doze anos. Intensamente!

Generosa! Trabalhadora! Uma mulher itinerante, viajante por vocação!

Muito, muitíssimo me influenciou! Aprendi com ela o equilíbrio entre trabalho e prazer.

Foi dos maiores nomes da alta costura de Sanja nos anos 1960/70. Do seu atelier, sempre na Tereziano Vallim, saíam os modelos sob medida que bem vestiam as damas da sociedade crepuscular.

Dedicava uma tarde semanal para coser em prol de entidades assistenciais.

O dinheiro que vinha da sua arte tinha destino: comer bem, mimar os netos e viajar. Viajar muito, pelos prazeres do turismo e pela afeição à família. Não tinha distância que a impedisse de rodar para abraçar irmãos e sobrinhos.

Em 1982, disse o neto numa crônica, ela foi costurar para os anjos na eternidade. Mais do que isso, completa o mesmo neto, as plagas celestiais nunca mais foram as mesmas depois da chegada da festeira e peregrina FIUCA.

Saudade, vó, saudade!

domingo, 5 de maio de 2013

Pedais, sorvetes e entusiasmo

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Papear com o Beto Mançanares é sempre cativante. De manhã, nós, eu e Josi, caminhando no Mantiqueira, ele passa de bike e para pra falar da causa que abraçou com paixão: a ciclovia São João-Prata. Agitador pelo bom combate, a primeira parte da ciclovia na Avenida Durval Nicolau vai sair do papel no meio do ano. E, diz com entusiasmo, as costuras e tratativas para o prolongamento da ciclofaixa até o Bosque de Águas da Prata estão bem adiantadas. Beto dá como certo esse projeto bacana que vai unir as duas cidades pela prática esportiva.

À noite, na sua "filha" de delícias geladas, a
Copabacana Sorvetes, mais entusiasmo falando da cria. Sem medo dos experimentos, Beto vai muito além do convencional nessa terra do icônico sorvete de macaúba. Os sabores tradicionais, claro, estão lá no seu múltiplo cardápio. Mas o que encanta esse glutão é o off-mesmice. Degustados na casquinha ou em taças, os sorvetes excêntricos também agradam vários chefs da região para acompanhar pratos salgados e sobremesas: agrião [pra acompanhar uma salada de manga], hortelã com mel [pra escoltar um cordeiro], parmesão [pra compor uma sobremesa com goiabada ou uma salada de folhas]. Tem ainda um sensacional de cerveja preta feito com a mogimiriana SauberBeer, que fica muito bom servido com calda de chocolate.

E ainda: com auxílio de uma alquimista do bem, vários dos seus itens aliam o prazer com a funcionalidade do alimento. Há complementos vitamínicos em alguns dos seus cremes gelados.

Taí o Betão, alma realizadora, músico virtuoso que largou a guitarra como meio de vida para fazer uns trocos nos EUA. Entregando pizza em Boston, fez mais que uns trocos ralando muito e poupando idem. Voltou para a família e para os Crepúsculos e, no circuito Prata-Bairro Alegre-Sanja-Aguaí [sim, tem Copabacana lá também], vai bem, vai muito bem pedalando nesse pé da Mantiqueira e deliciando os paladares macaúbicos.

Evoé, Beto! Evoé, Copabacana Sorvetes!

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quarta-feira, 1 de maio de 2013

Detalhes

RC

Reincidente em buscar na Justiça [e conseguir!] censura a obras literárias que contenham menções/referências a ele, Roberto Carlos acha que é rei no sentido mais déspota da palavra. Sua realeza é musical e perece sempre que estas medidas arbitrárias são perpetradas pela sua, eternamente de plantão, equipe jurídica.

Cioso da sua responsabilidade na defesa da liberdade de expressão, e com uma queda irresistível por mexericos da intimidade de celebridades, o blogueiro, depois de intenso trabalho de investigação, traz à luz detalhes demasiadamente privados da vida de RC, só conhecidos até então por um restrito grupo de empregados e assessores do artista.

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Roberto come unhas. O estarrecedor é que não são as próprias. Ele dispõe de um time de beldades, cujas mãos são rigorosamente higienizadas, para saciar seu inusitado apetite. Sazonal, o cantor alterna suas preferências. Ultimamente sua predileção é pela lâmina de ceratina [tucanei a unha?] de uma professora primária de Madureira chamada Pâmela Falange. A poucos amigos ele revelou o motivo da atual primazia da professorinha: “As unhas de Pâmela são delicadas, têm refrescante aroma frutado, com toques cítricos e um marcante retrogosto de tangerina”.

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RC é um viciado em pó branco. Não, maldosos, não é aquele da Colômbia. O rei cheira diariamente cinquenta gramas da mais pura farinha de trigo. Exigente com a qualidade do produto, ele só consome a argentina da marca Estupenda. O incomum hábito vem da infância em Cachoeiro de Itapemirim, época em que ele passava as tardes na cozinha da voluptuosa boleira Marinalva, que o iniciou na mania de aspirar as partículas minúsculas do trigo. Perguntado sobre se mais alguma coisa acontecia na casa da confeiteira, ele encerrou a conversa: “Nada mais. Tentei inalar canela uma vez, mas achei muito forte. Só rolava farinha mesmo”.

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O rei esculpe nádegas femininas. Curiosa demais é a matéria-prima de sua arte. RC modela bundas juvenis em, acreditem!, muco nasal. Isso mesmo, catota, meleca, ranho... Pra dar conta da sua profícua, escatológica e libertina produção, quilos e quilos da secreção são comprados de diversos fornecedores nos cinco continentes. A massa chega como um mosaico de tons de verde e, por isso, passa por um processo de homogeneização da coloração. Na forma, ele prefere os salientes traseiros das africanas. Sobre o muco preferido, ele explica: “Gosto de um que vem de Aitutaki, uma ilha do Pacífico Sul. A massa deles não resseca fácil e tem uma textura boa para a modelagem. Com essa matéria, as nádegas parecem pintadas com tinta metálica. Os habitantes de Aitutaki produzem as melhores catotas do planeta”.

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Metrossexual como todo popstar, Roberto Carlos jura que Pitanguy nenhum usou o bisturi na sua cara ou em qualquer parte da sua anatomia. Sobre a cútis cada vez mais aveludada, ele esclarece: “Sou fissurado em cremes faciais e hidratantes. Uso os produtos milagrosos do selo Macaubeauty. A fábrica, totalmente artesanal, manufatura seus cosméticos com a polpa de um coquinho gosmento, e fica no interior de São Paulo, pertinho da divisa com Minas. Ouvi dizer que lá a fruta é muita apreciada como sabor de um sorvete. Sei não, prefiro minha pele impecável. Paladar frutal é bom e saudável, mas sou mais o das unhas da Pâmela”.