sexta-feira, 30 de janeiro de 2015
Objetivos para 2015
quinta-feira, 29 de janeiro de 2015
Selfie stick
O Robert de Niro ainda usa aquelas jurássicas máquinas fotográficas com filme. Não, ele não, quem a utiliza é o personagem Frank Goode, que de Niro, pra variar, magistralmente representa em “Estão Todos Bem”, uma belíssima película —em tempos digitais ainda posso falar “película”?— lançada em 2009. Divaguei rapidamente sobre foto-antiguidades para vaguear acerca de uma foto-bugiganga que tem dado o que falar. Vagueio abaixo, pois.
Entendidos de tudo e todos —grupo do qual me excluo— profetizaram: 2015 vai ser o ano do pau-de-selfie. Até a revista Time referendou o estrelato da geringonça pelos próximos 12 meses.
E, se tem alguém que ainda não sabe, o parvo escriba tenta explicar: pau-de-selfie é um bastonete de comprimento regulável que tem numa extremidade um suporte para encaixe de câmeras ou celulares. Serve o cacareco para propiciar enquadramentos aumentados em auto-retratos —as selfies.
Nosso tosco nacionalismo engoliu “selfie”, mas, sei lá o porquê, recusou “stick”. Botaram o “pau” no lugar e criaram este monstrengo vocabular.
E a feiúra extrapola a gramática. O objeto em si é horroroso. Vá lá que a coisa seja útil nestes tempos foto-narcisísticos de Facebook, Instagram, WhatsApp e afins, mas tanto a estética como o seu uso em público são de doer.
Hordas de turistas que não passam cinco minutos sem uma selfie, agora serão tomados por uma fúria de incivilidade espichando a vareta em narizes desavisados. Um vale tudo descortês pelo melhor auto-registro.
No que se refere a costumes, parece que a humanidade não consegue brecar a queda para buracos de disformidades, desrespeito e egoísmo cada vez mais fundos.
Num mundo com tantas carências, seria de se esperar anos vindouros com invenções mais, digamos, proveitosas. Como também seria de se esperar que o blogueiro ocupasse este espaço com escritos mais, digamos, proveitosos.
Em tempo 1: passado algum tempo, não muito, o pau-de-selfie vai ser lembrado como aqueles modismos que nos envergonham.
Em tempo 2: passado algum tempo, não muito, o escrevinhador vai se lembrar desta crônica como uma das muitas que o envergonham.
Em tempo 3: alguém já viu o Robert de Niro num filme ruim?
Clamores
Confesso, ajoelho e rezo: sou um boçal. Ignoro a cultura popular do meu país. Minha sensibilidade auditiva está a um triz da nulidade.
Onde eu estava em 2014 pra não ouvir sequer uma vez a música mais executada do ano em terras tapuias? A melosa que estourou é “Domingo de Manhã”, da dupla —sertaneja?— Marcos & Belutti.
Na curiosa canção, o cara poderia estar velejando no Caribe ou num módulo lunar —juro!, num módulo lunar—, ou, ainda, num hotel mil estrelas em Dubai. Mas, paixão ao quadrado, ele prefere perturbar as domingueiras matinais da amada para ser, ao telefone, acarinhado pela voz de sono dela.
Ele aporrinha, gruda, mas se desculpa: “Foi mau se te acordei”. Sim, cara, foi mau. Pior ainda é rimar inverno com tédio e Caribe com livre. Mas muito, muito pior, é o abestado que duvida e corre pra assistir.
Confesso de novo: eu li e duvidei. Fui ao YouTube pra conferir e engordei as estatísticas de acesso. O clipe tem espantosas 54 milhões de visualizações.
Se o autor destas linhas tem algum crédito, rogo: não duvidem nem caiam em tentações. Só ajoelhem e rezem, rezem muuuuuito!
AquaPedro
E continuo descobrindo motivos prementes para pedir preces.
O espirituoso e religioso Ministro da Luz da dona Dilma, o amazônico Eduardo Braga, deu de ombros ao apagão da semana e clamou aos céus: “Deus é brasileiro e o chuveiro de ninguém vai esfriar”. Sem acesso ao passaporte do Criador, vou fazer força para crer na afirmação ministerial.
Nada de hidrelétricas ou termoelétricas. Pela declaração, o Brasil vai ser pioneiro num novo modelo de usina: a DivinoElétrica.
No plano estadual, vira e mexe São Pedro é responsabilizado pela seca —ou crise hídrica, no tucanês— que aflige os paulistas.
Com tanta divindade invocada nas duas esferas de governo, oremos irmãos!
Ainda o Charlie, ainda a França
Até agora não tive forças para abandonar a discussão. Então, segue o andor...
Na subjetividade das sátiras, charges, quem é o dono da razão? O retratista ou o retratado? Nenhum. Ou os dois, cada um é dono da sua razão. E no Estado Democrático de Direito, em nações civilizadas, estas "razões" não podem e não devem descambar para o terror. Contra-argumente na mesma moeda, via charges, crônicas, recorra até ao Judiciário, se necessário for. E o bom senso? O limite? Também subjetivo demais. O que é inofensivo pra uns pode não ser pra outros. E aí? E aí dá-lhe retórica contundente, boicotes, gritos, esperneios, Justiça, o diabo. Rasgue jornais, queime-os. Só não pode atentar contra a integridade física. Só não pode queimar e rasgar ninguém.
Sobre muitas charges publicadas no Charlie Hebdo: não faria, não gosto e não as acho engraçadas. Mas também não acho que charge tem que ser obrigatoriamente engraçada. Ela pode ter, também, crítica, sarcasmo, ironia, acidez, ternura. Ela pode ser controversa, agressiva, provocante, incômoda. E engraçada.
Por que podemos polemizar com paixões políticas e esportivas, por exemplo, e não com paixões religiosas? Por que podemos debochar de palmeirenses e corintianos e não de muçulmanos e católicos? Por que podemos desdenhar de petistas e tucanos e não de judeus e protestantes?
Não compactuo com a assertiva de que, vá lá, agressões satíricas podem colocar em risco a vida de pessoas inocentes. Não concebo a ideia de que, numa sociedade civilizada, o humor, inconsequente que seja, exponha vidas a sérios riscos. Se é assim, e eu acho que para alguns é mesmo assim, a banda dos que pelejam com papel e tinta não pode sucumbir àqueles insanos que provocam sangue e morte com a violência das armas de fogo. A barbárie não está nos cartuns, ela está em quem descarrega fuzis em cartunistas.
E é sempre bom relembrar o caso Salman Rushdie, o escritor britânico de origem indiana, autor d'Os Versos Satânicos, que recebeu uma fatwa —sentença de morte— do desmiolado Aiatolá Khomenini. Até hoje, desde 1989, Rushdie vive na clandestinidade, sob proteção policial, para não ser assassinado pelos extremistas islâmicos. Enclausurado e sempre escoltado, ele jamais capitulou ante as ameaças. Ele jamais permitiu que o fanatismo de alguns podasse sua liberdade de expressão.
Por valores pessoais intransigíveis, por Salman Rushdie, pelos mortos do Charlie Hebdo: Je suis Charlie, je veux la respect, je veux la liberté.
Ainda a França
Nestes dias em que o mundo, mais do que nunca, está reverenciando os valores franceses, eu também estou. Já cantei por aí a minha solidariedade aos mortos no massacre do Charlie Hebdo.
Agora, mais mundano, voltei à querida Pinhal City para buscar sabores franceses. Nenhuma decepção e muita empolgação com os crepes do Mundo dos Sabores. As caps da casa, Cris e Najara, trouxeram da Europa, onde moraram por anos, receitas corretíssimas e deliciosas do tradicional acepipe francês. A casa, aconchegante, muito bem montada, oferece uma carta de crepes com recheios de respeito. No paladar, na apresentação e na generosidade.
Este glutão, arremedo de colunista que vos fala, extasiado, comeu e recomenda o de camarão com catupiry —Champs-Élysées no menu— e o de banana e morango com Nutella, acompanhado por creme chantilly e sorvete de baunilha. #JeSuisComedorDeCrepe