quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Ainda o Charlie, ainda a França

torre eiffel

Até agora não tive forças para abandonar a discussão. Então, segue o andor...

Na subjetividade das sátiras, charges, quem é o dono da razão? O retratista ou o retratado? Nenhum. Ou os dois, cada um é dono da sua razão. E no Estado Democrático de Direito, em nações civilizadas, estas "razões" não podem e não devem descambar para o terror. Contra-argumente na mesma moeda, via charges, crônicas, recorra até ao Judiciário, se necessário for. E o bom senso? O limite? Também subjetivo demais. O que é inofensivo pra uns pode não ser pra outros. E aí? E aí dá-lhe retórica contundente, boicotes, gritos, esperneios, Justiça, o diabo. Rasgue jornais, queime-os. Só não pode atentar contra a integridade física. Só não pode queimar e rasgar ninguém.

Sobre muitas charges publicadas no Charlie Hebdo: não faria, não gosto e não as acho engraçadas. Mas também não acho que charge tem que ser obrigatoriamente engraçada. Ela pode ter, também, crítica, sarcasmo, ironia, acidez, ternura. Ela pode ser controversa, agressiva, provocante, incômoda. E engraçada.

Por que podemos polemizar com paixões políticas e esportivas, por exemplo, e não com paixões religiosas? Por que podemos debochar de palmeirenses e corintianos e não de muçulmanos e católicos? Por que podemos desdenhar de petistas e tucanos e não de judeus e protestantes?

Não compactuo com a assertiva de que, vá lá, agressões satíricas podem colocar em risco a vida de pessoas inocentes. Não concebo a ideia de que, numa sociedade civilizada, o humor, inconsequente que seja, exponha vidas a sérios riscos. Se é assim, e eu acho que para alguns é mesmo assim, a banda dos que pelejam com papel e tinta não pode sucumbir àqueles insanos que provocam sangue e morte com a violência das armas de fogo. A barbárie não está nos cartuns, ela está em quem descarrega fuzis em cartunistas.

E é sempre bom relembrar o caso Salman Rushdie, o escritor britânico de origem indiana, autor d'Os Versos Satânicos, que recebeu uma fatwa —sentença de morte— do desmiolado Aiatolá Khomenini. Até hoje, desde 1989, Rushdie vive na clandestinidade, sob proteção policial, para não ser assassinado pelos extremistas islâmicos. Enclausurado e sempre escoltado, ele jamais capitulou ante as ameaças. Ele jamais permitiu que o fanatismo de alguns podasse sua liberdade de expressão.

Por valores pessoais intransigíveis, por Salman Rushdie, pelos mortos do Charlie Hebdo: Je suis Charlie, je veux la respect, je veux la liberté.

Ainda a França

Nestes dias em que o mundo, mais do que nunca, está reverenciando os valores franceses, eu também estou. Já cantei por aí a minha solidariedade aos mortos no massacre do Charlie Hebdo.

Agora, mais mundano, voltei à querida Pinhal City para buscar sabores franceses. Nenhuma decepção e muita empolgação com os crepes do Mundo dos Sabores. As caps da casa, Cris e Najara, trouxeram da Europa, onde moraram por anos, receitas corretíssimas e deliciosas do tradicional acepipe francês. A casa, aconchegante, muito bem montada, oferece uma carta de crepes com recheios de respeito. No paladar, na apresentação e na generosidade.

Este glutão, arremedo de colunista que vos fala, extasiado, comeu e recomenda o de camarão com catupiry —Champs-Élysées no menu— e o de banana e morango com Nutella, acompanhado por creme chantilly e sorvete de baunilha. #JeSuisComedorDeCrepe

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