sexta-feira, 20 de julho de 2018

Na Chácara


 Sigo na árdua e sacrificante missão de navegar e comer pela região...

CHÁCARA PIZZA BAR 🍕 

No fim do colegial —aquilo que hoje chamam de ensino médio—, o jovem interiorano pegou o rumo da capital atrás do curso superior, de trabalho e de fazer a vida. 

De 1975 até 2015, ele construiu uma trajetória profissional de sucesso. Na lendária Varig, o gramense rodou o Brasil e o mundo trabalhando na área comercial daquela que foi uma das maiores companhias aéreas do planeta. E viagens de lazer também foram muitas pela facilidade dele em adquirir bilhetes para qualquer destino global por modestos 30 dólares. 

Aviação —a revolucionária TAM do comandante Rolim também está no seu currículo—, hotelaria e treinamento de vendas são segmentos que estão carimbados na recheada carteira laborativa de José Marcos Anadão Rossi.

Voltar ao solo natal foi consequência natural depois de passar quarenta anos no turbilhão do mercado e de ver os filhos encaminhados. 

São Sebastião da Grama e região ganharam com a aposentadoria de Zé Marcos. Ganharam a Chácara Pizza Bar, um restaurante que nasceu da vontade de empreender de um cara que foi forjado num caldo de cultura de satisfazer os clientes.

Evandro e Arlete, um casal baiano, foram raptados da cantina paulistana I Vitelloni por Zé Marcos. Eles sabiam tudo da arte “pizzeira” e deram essencial contribuição na implantação da Chácara, deixando, no ano que ficaram “encarcerados” no interior, um notável legado na identidade do estabelecimento dos Rossi.

Num imóvel de família da esposa Lúcia Helena Alves de Sá Rossi, rústico, de atmosfera rural, mas pertinho do centro da cidade, a pizzaria atrai pelo ambiente, pelo forno a lenha e pelas belas redondas, que podem ser as clássicas ou outras mais ousadas. 

E falando na mulher, Zé Marcos deixa claro a importância da parceria conjugal: “Sem ela, companheira de convívio, de lutas e conquistas, nada disso seria possível. Lúcia foi fundamental no que somos e temos hoje”. 

Das pizzas heterodoxas, este escriba glutão menciona uma primorosa: Fazenda Especial, que leva molho fresco de tomate, abobrinha, alho-poró, bacon crocante e queijo brie.

O pacato lugarejo que já tinha apelo gastronômico pelo bom café, pelo torresmo do Carlão e pelo Laticínio Roni, agora tem um plus napolitano que faz compensar qualquer incômodo estradeiro.

🍕🍕🍕

Em tempo: dica pra estas noites frias: após a inevitável esbórnia à mesa, o digestivo e singular chá de maracujá da casa;

Em tempo 2: uma pizza conceitual que sintetizaria bem a vocação da culinária local. Sabores da Terra, com mozzarella Roni —que é a oficial da Chácara—, molho de tomate fresco e torresmo picado do Carlão. Se combina eu não sei, mas proporcionaria um marketing sensacional.

🍕🍕🍕

Funcionamento: de quinta a domingo, a partir das 19h.




domingo, 15 de julho de 2018

Festa do Biscoito


Lindeza estas festas populares da mineiridade. Simplicidade, o frio da montanha, o cheiro do fogo na madeira, o sabor de casa de vó, gente acolhedora. Aquelas receitas de família que atravessam gerações. A caipirice em estado puro!

Em Caldas, a tradicional Festa do Biscoito que acontece em todos os fins de semana de julho tem como atração principal a iguaria do polvilho assada no forno a lenha, em versão graúda, recheada com pernil, calabresa ou linguiça defumada, tudo com vinagrete e queijo. Tudo farto e gostoso com o DNA do melhor das Gerais.

Das mesmas fornadas biscoiteiras saem também pães de mandioquinha, broas de fubá —que baita BROA—, roscas, bolachinhas mil...

Isso é Minas!



sexta-feira, 13 de julho de 2018

Casa Verrone


Neste julho de temperaturas polares, tão bom quanto o vinho é conhecer histórias do vinho.

Alguém em algum lugar disse para Márcio Verrone que o solo do seu —dele— torrão natal, São José do Rio Pardo, não seria bom para o cultivo de videiras. 

Dogmas estão aí para serem contestados. A colheita de inverno, decorrente da poda invertida —ou dupla poda—, está aí para provar que, com pesquisa e inovação, certezas de outrora não são mais absolutas. A EPAMIG —Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais— foi fundamental no apoio técnico do primeiro plantio em 2009.

E essa cultura pioneira veio depois de Márcio ter frequentado por oito anos a Associação Brasileira de Sommeliers, a ABS, onde se aprimorou no métier em cursos, workshops e degustações. Viagens para vinícolas na França, Itália e Portugal consolidaram esse envolvimento.

Com trabalho duro e com as bênçãos de Bacco, no início de 2016 a primeira safra da Casa Verrone foi para o mercado. Nos rótulos dessa primeira leva estavam sauvignon blanc, syrah e chardonnay. Esse último, dois meses depois de lançado, conquistou o prêmio de melhor do Brasil na sua categoria. 

O batismo com troféu colocou a Casa Verrone em destaque na mídia especializada e no boca a boca entre os experts do wine world. Desde então, outras prêmios enriqueceram a galeria de Márcio Verrone e o 1,5 hectare inicialmente plantado foi expandido. 20 promissores hectares em Itobi, nas cercanias de Rio Pardo, são hoje o futuro dessa ousada vinícola orgulhosamente paulista. Ali —foto abaixo— está fincada a pedra essencial de um ambicioso centro de enocultura. Por enquanto, sem instalações fabris próprias, a empresa produz e engarrafa seus produtos em Caldas, MG.

Tarde destas, fui recebido pelo staff da Casa para prosas e provas. Algumas garrafas depois, entusiasmado e emocionado, Márcio se despediu com esse desejo:

—Um dia, eu quero sentar sobre a minha barrica, tirar o vinho com uma pipeta, encher uma taça, erguê-la, da minha vinícola olhar para o horizonte e dizer: “realizei meu sonho”. 


segunda-feira, 9 de julho de 2018

Fazenda Irarema


Da represa Bortolan, em Poços de Caldas, rodamos 4 km na estrada de terra que vai para São Sebastião da Grama. Já em solo gramense, paramos numa propriedade de cair o queixo: Fazenda Irarema.

O empreendimento da família Carvalho Dias impressiona pela beleza, magnitude e organização.

A pérola do lugar é a fábrica de azeite, idealizada e tocada por Moacir Carvalho Dias, cujo rótulo tem o mesmo nome da fazenda. Uma charmosa loja-café junto à indústria, construída em vidro, madeira e ferro, marca o visitante por ser um dos recantos mais lindos da região.

Em abril deste ano, na categoria "delicate blend", o óleo de oliva da Fazenda Irarema foi premiado em Nova York com o prêmio "best in class" na World Olive Oil Competition.

As tortas e doces servidos na pequena cafeteria são também produzidos artesanalmente pelas talentosas mãos de Lili Carvalho Dias, irmã de Moacir. Guloseimas que são harmonizadas com café da própria terra.

O passeio ali se completa com um contêiner surpreendente que oferta sabonetes artesanais de azeite da lavra de Mônica —mãe de Moacir e Lili— e uma boutique de carnes nobres, cujos cortes têm preços justíssimos pela qualidade.

A arquitetura, as cores, os aromas, o entorno de natureza, o clima de montanha.
Impossível não se apaixonar!