sexta-feira, 29 de maio de 2020

Homer Simpson


Embora no Facebook ele esteja no rol dos meus amigos, Homer Simpson é só um conhecido. No sentido verdadeiro da palavra amigo, temos poucos em comum. Socialmente, já cruzei com ele em alguns ambientes. Sempre tive a impressão de Homer ser um homem cordial, respeitoso. Depois, descobri ele ser, na real, um polido fake, um pseudo-gentil.

Desde a última campanha eleitoral, em 2018, percebi que ele era, digamos, um bolsonarista-raiz. Jair Bolsonaro encorajou Homer a liberar seus instintos mais primitivos. Num post meu da época, o “cidadão de bem” não teve ferramentas retóricas para contraditar o meu escrito, mas teve ferraduras e foi covardemente pra cima de uma amiga que comentava concordando com o teor do que eu argumentava. Rolou pra cima da moça com impropérios, insultos e aqueles rótulos de praxe aos que se opõem a Bolsonaro: petralha, comunista, esquerdopata etc. 

Homer também é participante de grupos de WhatsApp bolsonaristas. Aqueles que reverberam memes, fake news, xingamentos à jornalistas e aquelas distorções da realidade oriundas de blogs e perfis bancados pelo Gabinete do Ódio. Ele jamais compartilha notícias de órgãos sérios de imprensa, declarações de especialistas respeitados e análises feitas por gente da ciência e da academia. Homer é destes que pregam o fechamento do Congresso e do STF em nome da causa nazifascista que abraçou.

Dia destes vi novamente a cólera de Homer. Numa postagem crítica ao governo, muito ponderada, embasada, sem massacres nem paixões, ele entrou de sola comentando e ofendendo a autora —Homer tem, ao que parece, fixação em brigar com mulheres. “Vá pra Cuba, vá pra Venezuela!”, foi seu clamor final no comentário infame que em nenhum momento apresentou um contraditório compreensível. Não duvido que ele creia no terraplanismo, na cloroquina, no catecismo do Olavo de Carvalho e nas estapafúrdias previsões do Osmar Terra.

Formado e bem posto na vida, diriam os cronistas de antanho, Homer tem sérias dificuldades com a escrita e com a exposição lógica de suas ideias. Não o condeno, tampouco o recrimino por estas deficiências de comunicação. O que me causa repulsa é sua patológica deficiência de civilidade fermentada por uma abominável adoração incondicional àquele capitão que gosta de dar uns tiros pra relaxar enquanto seus compatriotas morrem aos milhares.

sábado, 23 de maio de 2020

Nathalia Ferreira Doces Finos

A obra da imagem é uma massa levinha, tipo uma esponjinha bem fofa e úmida. A cobertura, que tem muito mais do que beleza aparente, leva ganache de chocolate branco belga saborizado com pasta italiana 100% pistache. Aos montes, pistaches finalizam chapiscados na parede verde e cremosa do bolo.

A dona da arte é Nathalia Ferreira, 31 anos, confeiteira de bolos do cotidiano e sofisticados, mestre de brigadeiros e doces finos. Ela entrou quase sem querer no mundo da pâtisserie fazendo cupcakes para o aniversário do sobrinho, João Vitor. Vai daí que ela se apaixonou pelo planeta doce, pediu demissão na empresa onde vendia equipamentos industriais e foi buscar teoria e prática no universo colorido das massas, cremes, frutas, polpas, essências, caldas e afins.

Sessenta meses vivendo disso provam o quão recompensador é o labor sério que mescla qualidade dos insumos, bom senso na harmonização, técnica apurada e produtos esteticamente atraentes.

Quero mais, Nathalia!

🍰 🧁 🥧 
Zap-encomendas 19 99833-8359
*consulte também bolos para o dia a dia

segunda-feira, 18 de maio de 2020

Quiches & Letras

A massa é aquele segredinho de família, a crocância única que vem do aconchego amanteigado da cozinha da avó. O recheio foi descoberto no puído livro de receitas da mãe. Descoberto, testado, aperfeiçoado, diversificado e… aprovado!

Lucinda Noronha, do magistério letrado, está usando o isolamento social para escrever a crônica da quiche perfeita. Creme de leite, ovos e mozzarella é a base encorpada que recebe, ao gosto do freguês, sabores múltiplos: lorraine (a clássica de queijo com bacon), quatro queijos, brócolis com bacon, margherita e a sublime que protagoniza o post, abobrinha com bacon.

No torrão pratense, neste frio outonal, o professora inspira o ar da montanha e se inspira também para lavrar poemas açucarados. Os versos fumegantes brotam mesclados com aromas de maçã, banana e canela. Sim, senhoras e senhores, há poesia naquele fim de tarde perfumado com o doce das tortas caseiras reinando sobre a velha toalha xadrez.

🥧 🥓 🧀 🍎 🍌 🥧
Cozinharias
Zap-quiches 19 99618-5827
Entregas em Águas da Prata e São João da Boa Vista



sábado, 16 de maio de 2020

Fungos do bem


O paulistano Ricardo Alex de Sá, 28, agrônomo formado pela Universidade Federal de Lavras, tem vínculos afetivos e familiares com Águas da Prata. Seus avós maternos, como tantos, vieram da Itália no pós-guerra para trabalhar na lavoura de café. Se estabeleceram inicialmente no Bairro Alegre.

Faculdade concluída, Ricardo foi para Santa Catarina labutar no ramo de fertilizantes. Morar em Águas da Prata foi um clamor das raízes e a necessidade de estar próximo dos pais, então aposentados e residindo na estância.

A esposa Nathana Vieira, 27, mineira de São João da Mata, ele conheceu durante o período universitário. Ela cursava Engenharia de Alimentos na mesma instituição em que Ricardo fazia Agronomia. O trabalho num laticínio em Lavras foi a primeira, e não muito realizadora, experiência profissional dela. Nathana queria empreender e uma vida no campo.

Da junção de vontades, diplomas e premências, o cogumelo shitake foi eleito para ser o ganha-pão do casal. Zeraram as economias e compraram um pequeno sítio nas montanhas, no trajeto do Caminho do Fé. A propriedade escolhida tinha uma vista cinematográfica e estrutura nenhuma. Começaram do nada. Estudaram fungicultura, pesquisaram mercado, adequaram o terreno íngreme e construíram uma estufa.

Estão aí na nobre lida, Ricardo e Nathana, desde janeiro deste ano espalhando fungos do bem —sem qualquer química, agrotóxicos ou conservantes— nas mesas desta Mantiqueira de tantas exclamações.

🍄🍄🍄🍄
Fui gentilmente suprido com precisas informações técnicas e selecionados shitakes para redigir o post. Dou-me o direito de não sair da minha cerquinha cronística, fotográfica e gastronômica, e ofereço aos leitores somente o meu modesto escrito, a pizza da imagem e o contato dos fungicultores que estão disponíveis, não só para o comércio do produto, mas também para explanações sobre interessantes especificidades do cultivo de cogumelos e afins.

🍄🍄🍄🍄
Cogumelos Entre Serras
Km 143 da rodovia Águas da Prata-Poços de Caldas
Zap-Shitakes 35 9919-5366 // 19 99960-6770 
Entregas em Águas da Prata, São João da Boa Vista e Poços de Caldas

risoto de shitake com pancetta defumada do Empório 3 - Linguiçaria

segunda-feira, 11 de maio de 2020

Geleia BBQ

Ricardo “Geleia” Alarcon, veterinário de pequenos animais, é tão zeloso com os pets quanto com a fome de humanos nada miúdos.

Apaixonado por carne e fogo, aquela respeitável brasa que era lazer de final de semana virou trampo. Ele, na prática e na teoria (fez diversos cursos na área), transita bem nas várias vertentes do churrasco: varal, fogo de chão, parrillas argentinas e uruguaias, American BBQ etc.

Durante o isolamento, óbvio, os eventos zeraram. Vai daí que Geleia botou pra queimar no quintal seu pit smoker profissional, em que ele prepara o legítimo churrasco norte-americano. No método American BBQ, as carnes condimentadas com dry rub (tempero seco) são assadas lentamente numa espécie de defumador, o acima mencionado pit smoker.

Vamos falar da fodaça iguaria na imagem. A costelinha de porco Duroc (Geleia faz questão de citar que ela tem o selo VPJ), depois de ser generosamente envolvida por um mix especial de dry rub, vai ao pit smoker para cinco horas de cocção sob o calor aromático de lenhas de laranjeira e jabuticabeira. Para servir, acompanha um picante molho barbecue artesanal. A combinação deste com a carne é maravilhosa.

Extasiado, ainda, com a suculência e o sabor da costelinha, posso afirmar que o trabalho do Ricardo é muuuuito mais consistente do que um pote de geleia.

🔥 🥩 🐖 🔥 
Geleia BBQ
zap-BBQ - 19 99935-2325

🔥 🥩 🐖 🔥
Gnocchi Pasta da Serra formou um belo dueto com a costelinha do Geleia.

quarta-feira, 6 de maio de 2020

Dona Lahila

Filha de libaneses, dona Lahila Yazbek era a típica matriarca que deleitava os queridos com as delícias do seu fogão. A mão de quituteira, de tão abençoada, fez da cozinha também o seu ganha-pão. 

Em 1996, a herdeira Rita, que tem nas veias a virtude culinária da mãe, abriu as portas do Café Lafarrihe para não privar os crepusculares da fantástica comida libanesa da família. 

Mais recentemente, Flávia e Fabiana, netas de dona Lahila, também mergulharam de cabeça no pequeno negócio que está no DNA dos Yazbek. Flávia, mestre confeiteira, introduziu doçuras no cardápio da casa, algumas sem ligação com a mesa de seus ancestrais, mas todas primorosas no paladar e na estética.

Meu modesto lanchinho da tarde trouxe o coração de dona Lahila à Tereziano Valim. Carinho em forma de esfihas, abertas e fechadas, kibe frito, malfuf (charutinho) de folha de uva e babagnoush, que é aquele antepasto feito com berinjela defumada, na companhia de pãezinhos sírios. Ói o doce da Flávia: banoffee! A massa super amanteigada recebe um recheio de ganache de chocolate meio-amargo, doce de leite cremoso e banana. A finalização tem o branco do creme de leite fresco batido e chuviscos de chocolate em pó.
🇱🇧 🇱🇧 🇱🇧 

Café Lafarrihe
Praça Roque Fiori, 18
São João da Boa Vista, SP
De segunda a sábado, das 9:00 às 15:30 (horário especial neste período de isolamento)
De quinta a sábado, combinado de comida libanesa por R$ 19,00
Encomendas de salgados e doces pelo fone 19 3631-8771 // WhatsApp 19 98187-3476
Delivery com taxa de R$ 4,00 ou para retirar no local

domingo, 3 de maio de 2020

Gegê Bombril

Alguém em algum lugar na longa e incrível trajetória do hoje maestro cravou-lhe um apelido pândego, mas muito simbólico do personagem: Gegê Bombril. 

Esse cacondense de 69 ciclos faz jus à alcunha de 1001 utilidades. Músico, professor de Educação Física, diretor universitário, técnico de natação, secretário municipal, fisioterapeuta, cafeicultor, ator, teatrólogo, proprietário de restaurante… ufa! 

Aos 49, o dono desse notável currículo multifacetado ainda buscava o sonho batuta das batutas. Do renomado Conservatório de Tatuí veio a almejada bolsa de Regência. As aulas seriam semanais, a grana era curta.

O jeito módico de vencer os 720 km —na época ele morava em São José do Rio Pardo— a cada sete dias só poderia ser sobre duas rodas. Durante os quatro anos do curso, Agenor Ribeiro Netto viajou quase 100.000 km montado numa valente Honda Sahara 350, enfrentando calor, frio, chuva, vento…

Ouvir, óbvio, é fundamental em aulas de Regência. O sono inevitável era rebatido com cafezinhos e Red Bulls. As refeições rápidas vinham nas formas de coxinhas, croquetes, empadinhas…

O menino que aos 6 começou estudar violino e acordeon, aos 53, depois de 48 meses de batalha permeada por estrada, aprendizado e cansaço, concluiu com os louros de melhor da turma o curso de Regência Musical no Conservatório Dramático e Musical Dr. Carlos de Campos. Sim, o mais velho da classe foi diplomado em 1º lugar.

Dali em diante as coisas aconteceram em passos Allegro. Vivace, talvez. Agenor, o maestro, liderou e organizou importantes movimentos musicais na região. A convite da EPTV, ele criou o Viola de Todos os Cantos, um festival de canções sertanejas raiz, o chamado “modão”, que teve 11 inesquecíveis edições deleitando um público total de 500 mil pessoas.

Foi, ainda, o responsável pela reativação da Orquestra Sinfônica de Poços de Caldas e idealizador, em 2006, do evento Sinfonia das Águas, que está integrado ao calendário cultural da cidade mineira. Desde 2010, o regente e a mulher Rita residem nessa estância turística.

Em São João da Boa Vista, maestro Agenor organizou a Orquestra Jazz Sinfônica que nos seus 6 anos de história tocou para mais de 300 mil extasiados espectadores em 34 cidades de São Paulo e do Sul das Minas Gerais.

Em uma, digamos, aguerrida militância musical, ele é entusiasta de repertórios populares, brasileiros ou não, nas orquestras. Trilhas sonoras de clássicos do cinema, facilmente identificáveis, também são arranjos que o maestro usa para levar música instrumental a um número maior de pessoas. 

Esse ecletismo nas sinfônicas por ele regidas causa certo desconforto aos mais eruditos e puristas do mundo da música. Resistentes às partituras que fogem dos grandes clássicos, esses ortodoxos torcem o nariz para as multidões que deliram sob a regência do virtuose de Caconde.

Sobre isso, Agenor filosofa: “Não se ensina raiz quadrada a quem não sabe somar e subtrair. Não se pode cobrar do nosso povo uma cultura erudita se nós não temos uma cultura erudita. Nós temos uma riqueza musical miscigenada e devemos valorizá-la. Pedagogicamente, eu quero levar boa música ao máximo possível de ouvintes. E para isso, sem abrir mão da qualidade nos arranjos, eu adequo o repertório ao ouvido do grande público. Eu quero proporcionar sentimentos, emoção. Se eu não conseguir fazer o público se emocionar, não fiz bem o meu trabalho. Por que, nos dias de hoje, não posso tocar Mozart num arranjo de rock’n’roll?”.

Qualquer vivente que tenha na biografia percursos realizadores como o do cidadão Agenor Ribeiro Netto, deveria chegar aos 70 ativo, mas sem perrengues financeiros. Ele, ao contrário do que é o ideal de dignidade humana, ainda carece da dura labuta para sobreviver. E neste período pandêmico em que a atividade artística minguou, o maestro paga suas contas fazendo linguiça caipira. Sem perder o bom humor e a gana de viver, o polivalente Gegê Bombril acrescentou a charcutaria à sua interminável lista de, agora, 1002 utilidades.

Bravo, maestro!

sábado, 2 de maio de 2020

Pasta da Serra


Gnocchi ou nhoque?
Juntar os queridos em torno de uma mesa enfarinhada, moldar e esticar aquela tira de massa e cortar em pedacinhos. Uns gostam de desenhar a massinha com os dentes de um garfo, outros preferem a rusticidade decorrente do simples picote. Pela força da colonização italiana, grande parte dos brasileiros tem na memória afetiva o fazer e/ou comer nhoque, esse prato tradicionalmente feito de batata, que no Brasil tem na mandioca e na mandioquinha algumas variações consagradas.  

Nhoque de batata-doce e nhoque de castanha-do-Pará são outras experiências mais ousadas que surpreendem. Onde tem? Na Pasta da Serra! Vou contar…

Thais, engenheira química, saiu de São João da Boa Vista em 1999 para ganhar a vida. Rodou um bocado pelo país, trabalhou na França e na Inglaterra e, recentemente, montou em São José dos Campos uma empresa que faz comida natural congelada para cães.

A crise transportou Thais de volta aos Crepúsculos. Na bagagem, ela carregou a empresa de rango canino. Nos braços, ela trouxe o marido Gustavo, engenheiro de produção, que cozinha uma enormidade. Ele, que também joga rúgbi, faz desde sempre uma receita de nhoque da avó Maria de Lourdes. 

Da receita clássica aprimorada com segredinhos de família, Gustavo arriscou, e se deu bem, em releituras da pasta. O de batata-doce tem, óbvio, notas adocicadas que casam à perfeição com a suave acidez do molho de tomate. Pedacinhos de castanha-do-Pará estão no outro nhoque atrevido do cardápio que harmoniza com o molho pesto da mesma castanha. Ambos têm a massa levíssima. Os molhos devem ser creditados à Thais, sendo o ao sugo uma coisa magnífica, pela cor, pela baixa acidez, pela ausência total da casca e pelo processamento sem liquidificador, que proporciona densidade, cremosidade e visíveis pedacinhos de tomate. 

Pasta da Serra é o selo que nasceu da vocação culinária do Gustavo, da virtude “molhada” da Thais e da necessidade urgente das pessoas comerem mais em casa durante o isolamento. 

🍝 🍷 🍝 🍷 
zap-nhoque: 11 98268-8107 // 11 97490-3741
Nhoques: tradicional, batata-doce e castanha-do-Pará
Molhos: ao sugo, de carne e pesto
*consulte também salpicão de frango e caponata de berinjela
🍝 🍷 🍝 🍷 
Valorize quem trabalha com produtos artesanais e frescos. O pequeno comerciante precisa de você. Prestigie o comércio local. Receba o alimento no conforto de sua casa e ainda ajude quem precisa do seu consumo nestes tempos tão difíceis.