Amigos têm a [boa] mania de me aguçar com interrogações sobre acepipes nunca dantes explorados. O dono desta pança insaciável sente um desconforto com certas provocações culinárias.
Primeiro foi o Ricardo “Caminhão” Nasser: “Você já comeu o bauru do Jair?”. Ante minha murcha e frustrada negativa, o comedor de quibe fuzilou: “Não sabe o que tá perdendo!”.
Continuei perdendo por algumas semanas.
Hoje, começo da tarde, defronte a Catedral de Pinhal City, o “botequeiro” Sérgio Moraes —que conhece a arte dos dois lados do balcão— fez a mesma indagação desafiadora do Ricardo.
Conheço o Jair Morgabel desde que o mundo é mundo. Busquei na Drogamérica —que o Jair e o Paulo Abdal comandaram por mais de 40 anos— muito Melhoral e Merthiolate pra curar meus infantes resfriados e machucados. Marcava na caderneta.
Lá no meio dos anos 70, o farmacêutico prático fundou o Tekinfin, uma das melhores e mais longevas casas sanjoanenses de comida e bebida. Jair comandou o Tekinfin —onde se comeu o primeiro cheese-burger deste torrão macaúbico— por menos de dois anos, mas a sua cria tá aí, firme e forte, desde 1975.
Engolida pelas grandes redes, a Drogamérica baixou as portas na primeira década deste 21 internético. Jair, comerciante inarredável, santificou a Dona da Avenida e abriu no mesmo ponto da finada farmácia a Santa Gertrudes, um misto de sorveteria com cafeteria.
A coisa não emplacou. Dia destes veio a guinada. A esquina é a melhor de Sanja —Dona Gertrudes com Gabriel Ferreira— e as mesas na calçada pediam chope. Pediram, ele atendeu e foi pra chapa fazer com capricho uma divindade gastronômica desta província crepuscular: o bauru de lombo.
Jair não perde o vício em remediar. Por décadas, com a alopatia. Hoje, cura patologias da alma servindo um dos melhores baurus deste cativante planeta mantiqueiro.