sexta-feira, 13 de abril de 2012

Da arte de remediar

Bauru do Jair

Amigos têm a [boa] mania de me aguçar com interrogações sobre acepipes nunca dantes explorados. O dono desta pança insaciável sente um desconforto com certas provocações culinárias.

Primeiro foi o Ricardo “Caminhão” Nasser: “Você já comeu o bauru do Jair?”. Ante minha murcha e frustrada negativa, o comedor de quibe fuzilou: “Não sabe o que tá perdendo!”.

Continuei perdendo por algumas semanas.

Hoje, começo da tarde, defronte a Catedral de Pinhal City, o “botequeiro” Sérgio Moraes —que conhece a arte dos dois lados do balcão— fez a mesma indagação desafiadora do Ricardo.

Conheço o Jair Morgabel desde que o mundo é mundo. Busquei na Drogamérica —que o Jair e o Paulo Abdal comandaram por mais de 40 anos— muito Melhoral e Merthiolate pra curar meus infantes resfriados e machucados. Marcava na caderneta.

Lá no meio dos anos 70, o farmacêutico prático fundou o Tekinfin, uma das melhores e mais longevas casas sanjoanenses de comida e bebida. Jair comandou o Tekinfin —onde se comeu o primeiro cheese-burger deste torrão macaúbico— por menos de dois anos, mas a sua cria tá aí, firme e forte, desde 1975.

Engolida pelas grandes redes, a Drogamérica baixou as portas na primeira década deste 21 internético. Jair, comerciante inarredável, santificou a Dona da Avenida e abriu no mesmo ponto da finada farmácia a Santa Gertrudes, um misto de sorveteria com cafeteria.

A coisa não emplacou. Dia destes veio a guinada. A esquina é a melhor de Sanja —Dona Gertrudes com Gabriel Ferreira— e as mesas na calçada pediam chope. Pediram, ele atendeu e foi pra chapa fazer com capricho uma divindade gastronômica desta província crepuscular: o bauru de lombo.

Jair não perde o vício em remediar. Por décadas, com a alopatia. Hoje, cura patologias da alma servindo um dos melhores baurus deste cativante planeta mantiqueiro.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Exagero, heresia e outras pílulas

Texto para a página esportiva do O MUNICÍPIO. Edição do próximo sábado.

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Na cidade do exagero, o beque são-paulino Rhodolfo exagerou na dose de emoções. Fez um contra e se redimiu marcando dois de cocuruto na virada do SPFC sobre o Ituano. 2 X 4 foi um triunfo memorável do Tricolor em Itu. E o cotejo ainda teve um golaço de Lucas. O pó-de-arroz que grafa estas linhas quer ver Rhodolfo sempre perpetrando exageros que produzam um final feliz para o escrete do Morumbi.

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Herege esse mosqueteiro Liedson. Na Santa Semana ele não esperou o domingo de Páscoa para encerrar o jejum de treze partidas sem estufar a rede. O “comer antes da hora” foi cometido contra o pobre Oeste. O desjejum veio logo com dois tentos. O anticorinthiano que rabisca neste papiro quer uma maldição divina contra pecadores alvinegros.

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Silvio Luiz, legendário speaker brasuca, protagonizou um dos Roda Viva mais pobres de todos os tempos. Abusou de clichês, quis ser contundente e engraçado, mas não conseguiu falar mais que um punhado de ideias desconexas e insossos gracejos. Para um sujeito que tem o jornalismo como profissão, faltou um princípio básico do ofício: clareza. O arremedo de cronista que vos fala quer ver Silvio Luiz [só] narrando futebol.

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Na liga dos grandes do Velho Mundo, Messi segue imbatível no vezo de ser o maestro do impecável Barça. Contra o Milan, mais uma vez os meninos da camisa catalã ensinaram como se pratica o ludopédio. A superioridade é tão avassaladora que provoca conflitos na percepção do espectador: beleza e chatice. O caipira que ocupa este espaço, por vezes, vê mais emoção num prosaico XV de Piracicaba versus Catanduvense.

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Quarta-feira, 04/04, 21:45, o macaúbico Luis Roberto de Múcio está na tela da Globo para transmitir Inter X Santos. Não vou esperar o fim do jogo em Porto Alegre para dar um basta nestas infames pílulas. O fut-aficcionado que passa vez ou outra neste rodapé de página quer, por amor à arte, ver mais um baile de Neymar e Ganso na arena colorada.

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Leio por aí que alguns fardados reformados tiraram o pijama e foram às ruas comemorar o aniversário do Golpe de 1964. O democrata aqui quer que estes tiozinhos insanos, saudosos dos Anos de Chumbo, saiam de casa por motivos mais nobres. Um dominó na praça, talvez brincar numa cancha de bocha, um passeio com os netos...