segunda-feira, 30 de maio de 2022

Botas vermelhas

 


Elas irromperam espalhafatosas pelo Velho Mundo. Tanto quanto a berrante cor rubra, os barulhentos atritos com o chão chamam a atenção do desavisado turista. É o fim do silêncio contemplativo de séculos nos museus de Firenze. É o fim das preces serenas nos templos católicos de Siena. É o fim do flanar quieto pelos jardins de Montreux. É o fim da degustação tranquila de queijos em Gruyères. É o fim do chocolate relaxado na Maison Cailler. É o fim do schnitzel sossegado no Augustiner de Munique. É o fim do remanso com uma caneca de cerveja nas calçadas de Innsbruck. É o fim da hidratação em paz nas fontes de Evian. É o fim da calmaria insossa de Liechtenstein. É o fim…


Culpa da Arezzo, não a urbe da Toscana do filme “A vida é bela”, esta também fustigada em seu solo medieval pelas vigorosas pisadas, mas a grife dos trópicos que insiste em não adaptar um redutor de ruídos no solado que protege os pés da elegante mulher. Num mundo onde já existe impressoras 3D, câmeras 4K em dispositivos móveis e internet 5G, o avanço da civilização ainda não foi capaz de silenciar as passadas das atrevidas botas vermelhas. É o fim!


sábado, 28 de maio de 2022

Ovos Fonte Platina

 

Dona Marisa, matriarca do clã Figueiredo de Jardinópolis, SP, se apaixonou por Águas da Prata na década de 1980. Os filhos Luís Ricardo, Antônio Carlos e Suzana, então jovens, não viram tantos encantos na pacata estância.


Nada como o passar dos anos para virar a chavinha bagunça/sossego. Vai daí que…


A família nunca se desfez do apartamento pratense e a frequência que começou um bocado incômoda para os meninos foi se transformando em adoração. O clima, a paisagem, a tranquilidade, as trilhas de bike, a Fonte Platina. Ah!, a Fonte Platina.


Estabelecidos, bem postos na vida, Luís Ricardo, professor universitário, e Antônio Carlos, dono de restaurante, decidiram abraçar os 60 reforçando os vínculos com este abençoado torrão: há vinte e poucos meses compraram um sítio. Óbvio, na Fonte Platina. Na roça!


E na roça tem fogão a lenha, tem cisterna, tem casa com piso de cimento queimado, tem água na moringa de barro, tem linguiça curando, tem queijo já curado, tem café coando… E na roça tem galinhas saudavelmente soltas nas pastagens que botam ovos saudavelmente caipiras. Aqueles cujas gemas avermelhadas tingem lindamente um arroz branco e um miolo de pão.


Generosamente, Luís e Toninho compartilham com a região um naco desta caipirice. Os ovos Fonte Platina, alimento que carrega a alma da terra e o suor bendito dos pequenos empreendedores, têm sua modesta produção disposta em poucas e afortunadas prateleiras da aldeia Sanja-Prata.


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OVOS FONTE PLATINA

📲 16 98833-1850

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👉🏻São João: 

📌 SuperVitória

📌 Açougue Vitória

📌 Hortifruti+


👉🏻Águas da Prata:

📌 Quitanda da Val

📌 Forte Prata

📌 Supermercado Wan


sexta-feira, 27 de maio de 2022

Zé Pelé, o camisa 10 da mandioca


Ninguém conhece José Vítor de Araújo pelo nome de batismo. Fonteplatinense de alma, 62 anos, ele está no bairro desde 1974, quando chegou de São Sebastião da Grama com a família para trabalhar nas lavouras de café. A boia era fria, o sol era quente, a idade era pouca e o vento nas montanhas trazia alguns sonhos de mudar de vida. Muita água correu de lá pra cá.

Líder comunitário e vereador por quatro mandatos (1982-2000), Zé Pelé sempre usou sua cadeira na Câmara para melhorar o Principado da Fonte Platina.

Num balcão de botequim na Barrinha —Bar do Norfinho—, recebeu clamores para comercializar aquela mandioca que ele levava para acompanhar a cerveja com amigos.

Então funcionário da Renovias, Zé percebeu uma oportunidade de negócio. Fez proposta a donos de terrenos baldios do Principado: “eu mantenho seu imóvel limpo e você me permite o plantio da mandioca”.

Com a ajuda essencial da irmã Célia e do genro Sandro, Zé Pelé montou uma eficiente linha de produção para descascar, lavar, cozinhar, embalar e congelar as macaxeiras platino-pratenses. “Pesquisando e testando, conseguimos ofertar ao freguês a mandioca mais perfeita para fritar. Sequinha, ela não encharca na fritura. Tenho o meu segredo!”, discursa o orgulhoso empresário que entrega mensalmente 1.300 quilos daquilo também chamado por aí de aipim.

Desde 2018 com a pequena fábrica 100% regularizada nos órgãos sanitários, o selo Mandioca Prata está em pontos de venda em Águas da Prata, São João, Pinhal e Poços. Cá no pedaço, poucos mencionam o nome oficial. MANDIOCA DO ZÉ PELÉ, reto e direto, é a marca que está na boca e no prato do povo.

Zé Pelé, o camisa 10 da mandioca, ainda tem planos de crescer. “Duas toneladas por mês? Quem sabe!”

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MANDIOCA PRATA

19 3642-2525 // 19 99729-5567

quinta-feira, 26 de maio de 2022

Mamma Mia - Casa Branca


A casa centenária da pacata urbe ocupa uma esquina no Centro. Sem recuo, portas e janelas grandes voltadas para a rua integram interior e exterior. O parapeito baixo de uma das aberturas faz o transeunte no passeio público sentir o calor da lenha queimando e testemunhar o trabalho frenético dos pizzaiolos para saciar o apetite do salão lotado numa gelada sexta-feira de outono. Vencidos os degraus pouco amigáveis da entrada principal, os cômodos acolhedores da velha habitação têm mesas dispostas sobre um gasto piso de madeira. As paredes espichadas pelo alto pé-direito são forradas por retratos de uma Casa Branca que ficou no passado. Os gentilíssimos garçons, trajados com as clássicas camisas brancas e pretas borboletas, são tipos de profissionais que quase mais não se vê nos restaurantes. Desde 1986, a Mamma Mia fundada por Fernando “Dóca” Furlanetto Romano é uma cantina que encanta a região com imaculadas pizzas e massas. Hoje auxiliado pelos filhos Fernando e Felipe, Dóca levou a Mamma Mia e suas sedutoras redondas a São João da Boa Vista. O delivery não tem o charme da original, mas mata a saudade do sanjoanense que não fica sem os discos napolitanos que contam trinta e cinco anos de história.

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Casa Branca

Rua Luiz Piza, 353

(19) 3671-1318

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São João da Boa Vista (só delivery)
(19) 3623-5132 // (19) 99664-1214

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[PS: Embriagado pelo vinho, pelo aroma da lenha e pela pizza de jabuticaba, o cronista cometeu alguns lapsos na apuração da história, a seguir devidamente sanados. 1) a Mamma Mia foi idealizada pelo citado Dóca na companhia de seu primo Matias Romano; 2) no delivery recém-inaugurado em São João da Boa Vista, Renato Romano é sócio dos brothers primos Fernando e Felipe]