domingo, 7 de março de 2021

Verme & vermes

Um sábado de fim de verão carente de poesia pelo cinza que ameaça no céu, pela reclusão prudente e pelo medo do vírus letal. Busco alento na leitura e nas películas da sempre salvadora Netflix. A feijoada, presente de um cozinheiro amigo, proporciona um fugaz e gordo prazer no meio de tanta aflição.


Pensamentos recorrentes vêm e vão, inafastáveis, sem cor. Do vírus, já devidamente esquadrinhado pela Ciência, sabemos à exaustão o quão essenciais são as vacinas e o cotidiano preventivo para combatê-lo. Façamos o que nos cabe e gritemos sem pudor para que consigamos o que compete ao Verme, ops, ao governo. 


O verme, naquele sentido de priscas eras, é causador de barrigas inchadas, de desconfortos abdominais e de apetites insaciáveis. 


Hoje, o Verme, numa versão piorada e desumana, mata por negar a gravidade do vírus, por causar retrocessos medievais e por disseminar comportamentos irresponsáveis. 


E o mais triste é que 30% dos nossos gostam dos efeitos decorrentes da ação do Verme e boicotam a prescrição vital de vermífugos institucionais. Esse um terço de brasileiros é resistente à claridade dos fatos, à verdade dos números e à Ciência. A marcha, em todos os sentidos, toca e avança em notas e formação fúnebres enquanto o Verme gargalha e arrota satisfeito com seus recordes macabros. 


A noite avança e a sobra da feijoada do almoço chama-me à mesa anunciando um invencível verme —uma lombriga— e um cerrar de dia menos melancólico. 


No fim, quero crer, as flores da vida hão de se destacar sobre o plúmbeo do obscurantismo.