sexta-feira, 19 de novembro de 2021

A foto crocante


 Convidado fomos, eu e Josi, para o almoço em homenagem ao escritor Ricardo Ramos Filho. A casa no morro em Águas da Prata, ampla, arejada, ajardinada, remete a um passado glorioso da estância dos anos 1970. Família anfitriã brinca e fala muito à mesa grande de uma cozinha idem. Panelas fartas, copos cheios, prosa solta. Tudo acolhe.

Sobre o fogão, a leitoa inteira, pururucada, soberana, aguardando o ataque furioso dos escritores famintos. Meu instinto mandava sacar o celular e capturar a imagem daquela lindeza suína antes do apocalipse da gula deixar só restos de farofa na fôrma. Hesitei constrangido, temendo ser invasivo, indiscreto.

Ricardo Ramos, neto de Graciliano, o cara que motivou o encontro cometeu rápido a contravenção que eu planejara. Ele registrou em múltiplos cliques o finado porquinho, sem pudor.

Perdi a vergonha, ora pois, e deixei minha compulsão gastrônomo-fotográfica guiar-me. Se o neto do Graciliano pode, por que o neto do professor Augusto Bittencourt não poderia?