domingo, 31 de julho de 2022

O piano


 História e histórias. Difícil precisar exatamente quando esse piano C. Bechstein chegou em São João da Boa Vista. Fabricado em 1918, o instrumento aterrissou nos Crepúsculos em meados da década de 1920. O historiador Antonio Carlos Lorette defende a hipótese de que o piano foi adquirido pelo quadro associativo do Centro Recreativo Sanjoanense, então composto por filhos intelectualizados da aristocracia rural que comandava a cidade.

Certo é que a peça histórica integrou a patrimônio do Theatro Municipal e da Sociedade Cultura Artística, esta última uma confraria de intelectuais e artistas sanjoanenses fundada em 1930 que se reunia no pavimento superior do foyer do Theatro. Segundo o pesquisador Lorette, naquele mesmo 1930 Heitor Villa-Lobos se apresentou no Theatro usando o antológico piano de cauda.

Em 1946, Guiomar Novaes voltou a São João para um recital no Theatro em prol da Casa da Criança. A consagrada pianista também mostrou seu talento no enorme C. Bechstein que protagoniza este texto.

Com o passar dos anos, a falta de manutenção, cessões infelizes e reformas inadequadas foram cabais para deixar o piano à mercê de melancólicos usos corrosivos: aparador de vasos de samambaias, mesa de pingue-pongue e tábua de refeições.

Lorette, o incansável gladiador do patrimônio histórico de São João, pediu socorro ao casal mecenas Angela Bonfante e Geraldo Dezena para salvar o piano de cento e quatro anos da ruína absoluta. Sensibilizados, eles assumiram o ônus do restauro, contrataram um paulistano expert na marca C. Bechstein e, depois de oito meses de um trabalho minucioso e dispendioso, o instrumente de cauda inteira está lindo, renovado, impecável, imponente. Onde? Na Boca do Leão em Águas da Prata, totalmente disponível para visitação.

domingo, 17 de julho de 2022

Liti, o sábio da montanha

 

Voltei ao bairro da Cascata, aquela provinciana fronteira paulista que beija Minas Gerais. Vi empórios e bares modestos, vi senhoras proseando na calçada e carros puídos estacionados, vi crianças brincando na rua e homens cobertos com chapéus ostentando canivetes na cintura, senti o cheiro de alho e cebola fritando e o aroma de lenha queimando, vi jovens nas portas de humildes casas vidrados nas telas de celulares nada humildes. Vi galinhas ciscando no asfalto…


E vi o Liti, entrei na inusitada morada de madeira do Liti. O registro civil revela que ele é Luís Antônio de Oliveira, 64 anos. Liti é um cascatense nativo, retireiro de toda uma vida nas fazendas do pedaço. Descobri o personagem em 2017, trilhando com Josi. Do nada, numa aparição típica de bons caçadores, ele surgiu do mato com seu pastor alemão, Lobo, e nos mostrou atalhos e picadas que só um matuto da montanha conhece. Pintor e escultor diletante, Liti faz suas obras com ossos de animais granjeados em suas intermináveis incursões pelas florestas e pastagens da região. Não há quem domine melhor as veredas destas selvas pratenses. Ele, ainda, é um poeta popular que escreve diariamente. Liti, o cara não para, é um difusor da cura com plantas e ervas que ele mesmo colhe nos bosques recônditos que só ele acha. O papo com a figura é eclético e recheado de histórias que trazem ovnis, espíritos, crendices, folclore e um profundo amor por este solo bendito. 

quinta-feira, 7 de julho de 2022

#ForaBolsonaro



Um brinde…

🥂🥂

…aos que resistem aos arroubos autoritários, aos que não perderam a humanidade, aos que acolhem e abraçam a diversidade, aos que não são insensíveis aos vulneráveis, aos que se norteiam pelo pensamento racional, aos que combatem os mercadores da fé, aos que rejeitam a pregação insana de pseudolíderes desalmados, aos que repelem o ódio de falsos moralistas, aos que condenam a violência de messias sebosos, aos que se indignam com a vagabundagem sobre duas rodas, aos que não compactuam com roubos rachados e propinas douradas, aos que não digerem chocolates lavados e mansões sujas, aos que lutam incansavelmente para destruir as novas câmaras de gás do nazifascismo. Saúde!