quarta-feira, 28 de junho de 2023

Geest Destilaria

 


Moonshine é um whisky não envelhecido que se tornou popular nos EUA na década de 1920. Para driblar a Lei Seca, a bebida clandestina era produzida nos campos, à noite, sob o brilho da lua. Fui apresentado à bebida e à história recentemente em Vargem Grande do Sul. Sim, na cidade vizinha, sede da novíssima e surpreendente Geest Destilaria. Filho da terra, o empreendedor Marcelo Maaz, que tem bar e cervejaria em São Paulo, voltou ao torrão natal com o projeto inicial de destilar gin. A fábrica ficou tão bacana e o ramo é tão apaixonante que ele mandou às favas a monogamia com o gin e decidiu destilar tudo, vodka, cachaça, whisky, moonshine, absinto, logo até rum vai rolar. Empresa pequena, familiar, sem aspirações comerciais exageradas, a Geest, segundo Luis Nascimento, gerente de produção e mega conhecedor do métier, quer ser reconhecida pela qualidade e inovação: “Temos obsessão pela pesquisa, testamos tudo à exaustão até chegar no resultado que queremos. E o apuro não é só com a bebida em si. Queremos também destaque pelo design de nossas garrafas e rótulos.” E a coisa vai decolando, de Vargem Grande do Sul para Bruxelas. O Hopped London Dry Gin da Geest conquistou a medalha de ouro no famoso concurso mundial da Bélgica. A propósito: será que na terra da batata a Geest vai ter no seu portfólio um destilado de batata? Quem sabe, com o perdão do trocadilho tosco, a vodka Vargengrandoff.

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Contato e loja de fábrica
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(11) 99963-0391
Rua Ivo Rodrigues, 13, Centro
Vargem Grande do Sul, SP

quinta-feira, 8 de junho de 2023

Limonada amalfitana

 


Antiga vila medieval, Ravello é das cidades mais lindas da região da Costa Amalfitana. Cravada no alto de um penhasco, a espetacular vista para o Mar Tirreno faz de Ravello visita obrigatória para quem está no pedaço.


O ônibus (barato) que sai de Amalfi para Ravello estava inoperante devido às obras na estreita e sinuosa estrada. Ir de táxi foi o jeito.


Na volta, verdade ou não, compramos a história de outro taxista dizendo que a chegada a Amalfi estava congestionada, podendo a viagem de sete quilômetros demorar até três horas. O jeito seria descermos do táxi no vilarejo de Pontone, de onde, segundo ele, caminharíamos vinte minutos até nosso destino.


Não foi bem uma caminhadinha de vinte minutos, foi uma escadaria de, seguramente, mais de mil degraus. PQP!

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Dos limoeiros cultivados aos montes por lá, fizemos limonadas na ladeira sem fim. Limonadas de fotos, de risadas, de humor autodepreciativo ao sermos deixados muito atrás por duas inglesinhas idosas que sumiram como faíscas colina abaixo.


Marcelino Palomo e a caneta suspeita

 


Empolgado pra conhecer a Basílica de São Pedro, o turista Marcelino Palomo, como homem precavido que é, abasteceu sua mochila com água, protetor solar e outros penduricalhos para enfrentar o calor romano deste fim de primavera.


O aparato de segurança do Papa Francisco é rigoroso. Mochilas e bolsas são verificadas minuciosamente por raio-x.


Marcelino, o menino afável da Dona Glaudys, foi o último do grupo a passar pela revista do Vaticano. As mulheres passaram primeiro e saíram em disparada rumo ao monumental templo católico. Eu, logo à frente do parça de viagem, caminhava lentamente esperando ser alcançado pelo saltitante Marcelino quando ouvi uma voz trêmula clamando: “socorro, Lauro!”. Voltei rápido e estupefato fiquei com a suspeição levantada do conteúdo da mochila de Marcelino. Diante da fúria investigativa da Guarda Suíça Pontifícia, ele tentou argumentar com seu razoável arsenal retórico italiano: “carbonara, zucchero, puttanesca, gelato, fermata e matriciana”. Estas foram algumas das palavras proferidas pelo acuado Marcelino aos insensíveis vigilantes da Santa Sé. Em vão. Um objeto metálico e pontiagudo, segundo os policiais, colocava o doce sanjoanense no rol de potenciais terroristas.


Depois de um longo tira e põe de objetos na bolsa suspeita, mistério desfeito e Marcelino retorna à lista dos fiéis de paz. O precavido amigo, sabe-se lá a razão, pensou que precisaria preencher formulários na Cidade Eterna. Para tanto, muniu-se de uma metálica e pontiaguda CANETA.

segunda-feira, 5 de junho de 2023

Pizzeria da Nando - Agerola

 

—Nando, por favor, pode pegar um vinho pra mim?
—Não, não posso. Eu faço pizzas, quem pega o vinho é a [esposa dele] Giuseppina. Pede a ela. 

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A Pizzeria da Nando, ponto de ônibus e referência da nossa hospedagem nas cercanias da Costa Amalfitana, é de um italiano típico. Sua família trabalha no negócio e ele não nega o sangue dos nativos do sul da Itália. Nando quase nunca sorri, parece sempre irritado, faz fantásticas pizzas a lenha e é torcedor fanático do Napoli. Na volta dos passeios litorâneos, nosso bus stop em Agerola era à porta da pizzeria. No friozinho da montanha eu me sentia abraçado, não pelo mau humor de Nando, mas pelas perfeitas redondas de seu nobre ofício.
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—Signore Lauro, pode me dar cinco estrelas no Tripadvisor?
—Claro, vou dar seis!
Zero simpatia, ele devolve:
—Não precisa, cinco é o suficiente.
Punto e basta!

AirBNB — Aria di Verde

 

O AirBNB e suas surpresas. A hospedagem na Costa Amalfitana foi definida pelo custo, localização e depoimentos de usuários. Ainda assim, a chegada num domingo assustou um pouco.


Na Itália, mesmo nos lugares mais turísticos, aos domingos e feriados, comércio e transporte público padecem de algumas restrições de funcionamento.


Nossa hospedagem em Agerola só pôde ser alcançada num dia não útil por um trajeto mais longo de trem e ônibus.


O trem que saiu de Nápoles chegou a Castellammare di Stabia por volta das 12:30. O ônibus para Agerola só sairia às 15:00. Josi, na ânsia pelo destino final, viu coisas e deu um alarme falso. Subimos no ônibus errado. Descobrimos o erro rápido e descemos, mas tivemos que voltar a pé e carregados por mais de quilômetro. Nossa espera foi, então, por alguns minutos, na banqueta externa de uma padaria. Ficamos aboletados ali até o pontapé da dona do comércio que nos privou de um reles assento sob o sol do Golfo de Nápoles.


Embarcados no coletivo e cansados, a subida na serra nos pareceu interminável. O contato visual com os arredores indicava que estávamos chegando a um recôndito retiro montanhês. A calmaria e o clima do rincão não tinham nenhuma conexão com o frisson e o calor da Costa Amalfitana.


O ponto de desembarque seria na Pizzeria da Nando. Ali, extenuados, miramos o hospedeiro Matteo com olhares de ódio. O carcamano nos enganara. Ao invés da Costa famosa seríamos enfiados numa cabana isolada. A tensão aumentou quando tivemos que sair da via principal caminhando até o apartamento. A descida íngreme foi tão desconfortável quanto pensar que teríamos que subi-la diariamente.


Terminada a estadia, tenho algo a dizer sobre. Novo, espaçoso e bem equipado, o apartamento de Matteo é boa opção para quem quer conhecer a Costa Amalfitana, mas não quer pagar os preço$ do conforto à beira-mar. O local, muito bem servido de transporte público, é base para turistas do mundo todo que buscam um turismo menos caro. A pizzeria, ponto de ônibus e referência da hospedagem, é do irritado Nando. Sua família trabalha no negócio e ele não nega o sangue dos nativos do sul da Itália. Nando é mal-humorado, faz fantásticas pizzas a lenha e é torcedor fanático do Napoli.