Se é que ele tinha alguma, o blogueiro mandou às favas qualquer compostura.
O corpulento aqui se esborrachou no chão do Fonteatro e, da fila do gargarejo, curtiu Ed Motta brincar com a voz na praça Joaquim José. Foi numa antológica noite domingueira, semanas atrás no encerramento da Semana Guiomar Novaes.
Depois do estrondo pela ida ao solo deste escriba, os espigões do JJ Park balançaram de novo quando o artista pisou no palco. Muitas e muitas arrobas de gordura e talento
E já entrou brincando com a forma circular do local: “Legal isso aqui, parece uma arena romana”.
Antes dos primeiros acordes da terceira música, ele botou pra fora um chiado sobre o bálsamo calórico do ambulante dos espetinhos: “Pô!, tá difícil, esse cheiro de churrasco me atormenta muito”.
E ainda se queixou das prescrições médicas: “Tenho que ficar longe da carne vermelha”. No que foi instantaneamente replicado por um gaiato da plateia: “É gato!”. Ed Motta quase capitulou à tortura: “Gato é carne branca, acho que eu posso”.
Na qualidade(?) de guloso, gordo e sanjoanense, solidarizo-me com o cantante pelo castigo a ele infligido. Ed, meu caro, prometo espalhar barraquinhas de soja e vegetais na sua próxima vinda.
O cara é fera, supremo na sua arte, cheio de arabescos vocais —a garganta dele, incrível!, emula vários instrumentos—, e levou o show sozinho alternando entre cordas e teclado.
Depois de dois bis e do público mais solto, ele se retirou sob pedidos de mais: "Hoje é aniversário da minha mulher. Vou pro hotel celebrar". E foi, deixando ecos virtuosos na província crepuscular.
Vi e ouvi de graça, no coração de Sanja, um show que eu não me importaria em pagar bem pra assistir.
Fotos: Josiane e Laurinho Borges