No flagrante, a sorridente autora de 2.100.000 sandubas
Podem acusar o blogueiro de reincidência baurueira. Assumo a repetição! Sanja tem concorrente forte na tradição do acepipe: Rio Claro. Na maioria das lanchonetes o bauru consiste em presunto, queijo prato e tomate no pão francês. Em Sampa, no Ponto Chic, o marco zero do bauru, o lanche leva rosbife, três tipos de queijo (estepe, gouda e prato) derretidos em banho-maria, pepino e tomate. No pão francês, claro. História aqui.
Em Sanja, desde que o mundo é mundo, o bauru se consolidou com o lombo. Bar do Formiga, Canecão, Nosso Bar, Bar do Sid, Tekinfin, entre tantos outros, fizeram ou fazem história com o sanduíche em seus cardápios. No Tekinfin existe opção ao lombo: filé.
Em duas semanas na Cidade Azul, descobri que a província também tem pedigree baurueiro. Falei do Lanches Ueti no último post, e hoje falo do Lanches Hilda, ou Bar da Hilda como gostam os rio-clarenses.
Conheci um naco do bar numa matéria da EPTV de uns bons anos atrás. A amiga Vanessa comentou no post dos Ueti, abaixo, e reviveu a minha lembrança.
Segunda-feira, 18:30, estaciono no 617 da Avenida 15. Sou o primeiro freguês da noite. Lugar simples, limpo, ambiente que minha mãe chamaria de “arrumadinho”. No balcão, Alberto Calligaris, o Beto. Sisudo no “boa noite”, ele abre um sorriso quando falo que conheci o bar pela TV. Além do sorriso, ele abre a história que mescla sua família, muito trabalho e deliciosos baurus. Beto acena com a cabeça em direção à chapa onde uma senhora miúda está a postos empunhando a espátula: “Minha irmã, Hildinha, mais de 50 anos no ofício. A vida dela é isso aí. Nós temos marcado, Hildinha já fez mais de 2.100.000 baurus”. (Isso mesmo! Dois milhões e cem mil baurus).
Enquanto devoro o primeiro da noite, de lombo, descubro que vida no balcão começou com o casal Aldo e Hilda Calligaris em 1944. A taberna era itinerante e funcionava nos clubes da cidade. O primeiro endereço fixo se deu dez anos depois, em 1954, em frente à estação ferroviária na sugestiva esquina 1 com 1, Avenida Um com Rua Um. Ameaço pedir o segundo também de lombo ―na casa também existem as opções carne, calabresa, frango, presunto, quibe e o “campeão de audiência”, cupim―, mas sou convencido pelo Beto a traçar o top feito da carne da corcova dos touros. Gostei! Mas a raiz macaúbica fala mais alto e sou mais o de dorso suíno.
Desde 1974 na Avenida 15, o bar oferece o clássico chope ―claro e escuro― Brahma para refrescar o verão e acompanhar a iguaria.
“O pão de semolina da [Panificadora] Pão Quente foi criado especialmente pra nós”. Beto orgulha-se da exclusividade inicial do farináceo, pois hoje os clientes da padoca exigem o “pão da Hilda” no balcão. O de semolina abraça com dignidade o recheio do lanche, mas de novo a origem crepuscular grita e puxa mais para a baguetinha francesa.
Exultante com o pedido da foto ao lado da chapa, a viajada (já foi duas vezes a Las Vegas e religiosamente faz um cruzeiro marítimo todo ano) Hildinha me adoça com um olho de sogra da sua lavra açucarada. Sim, ela ainda arranja tempo pra fazer doces. E que doces!
3 comentários:
Deliciosa lavra, amigo escriba. Parece que Rio Claro, cidade-irmã de Sanja na tradição baurúnica, tem-lhe inspirado mais textos. Nós, seus fãs, ficamos gratos. Saudações tekinfínicas.
Lauro,
Já vi que vc está bem!!
O apetite continua o mesmo.Que bom!Bauru um prato cheio!!!!!!
Sabe moro hoje no RIO DE JANEIRO, mas ler seu texto sobre o Bauru do Bar da Hilda,me fez lembrar quando era ali na Av. Um nos idos do 66-67 e o Brasil, com seu violão tocava e cantava e nos comiamos o BAURU.Delicia dos DEUSES.
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