Grand Central Station, primeiro dia. O provinciano compra o tíquete para East Norwalk, pergunta dez vezes ao bilheteiro qual o número da plataforma [track] de saída e, prudente, se dirige a ela com 15 minutos de antecedência. Track 26, ou coisa parecida.
Segundo dia. Quase nativo, vestindo um gorro com as iniciais NYC, andando com a ginga de um negão do Harlem e um sentimento de "tá tudo dominado", a passagem na mão é a segurança para perambular pela belíssima estação e só descer à plataforma no último minuto da prorrogação.
Não, seu aparvalhado!, a track de saída varia diariamente e há que se confirmar no painel o número conforme o horário de partida. Não, seu desnorteado!, presta atenção que a Quinta é um pouquinho diferente da Dona Gertrudes.
Uma desvairada correria e muito suor para chegar em tempo à plataforma correta [track 107, ou próximo disso] foi uma pedagógica lambada pro matuto deixar a sabichonice de araque e tomar as precauções necessárias para que uma pequena macaúba tenha o mínimo de percalços na Grande Maçã.
E, heroicamente embarcado, vamos para o interior do trem.
O silêncio no vagão é incômodo.
Absortos nos seus problemas, alegrias, expectativas, frustrações, os passageiros não conversam entre si. Se o fazem no celular, o tom de voz soa num volume absurdamente civilizado.
Imagino que muitos tomam o trem no mesmo horário e até se conheçam, mas a cultura os trava pra jogar conversa fora e tornar a viagem mais agradável. Agradável, diga-se, do ponto de vista deste latino escriba.
Pra eles, a privacidade, a intimidade, mesmo que num veículo de transporte coletivo, são valores inegociáveis. Puxar papo seria uma tentativa de violação destes valores.
Todos usam dispositivos móveis. A leitura, a informação, o entretenimento, a socialização, vêm via laptops, tablets ou smartphones [a cada quatro assentos há tomadas para recarregar os super-utilizados gadgets]. Algumas vezes a mesma pessoa usa os três simultaneamente. Definitivamente, o papel em livros e jornais caminha pra uma quase extinção nos EUA.
O cachorro, devidamente licenciado e documentado, também pode viajar acompanhando o dono. Nenhum latido, nenhum ruído. O animal é educado pra respeitar o código de conduta.
O bicho homem se acostuma, se adapta rapidamente com o diferente. Passados alguns dias, abasteci meu iPad com livros, jornais e revistas e, envolvido com a leitura, também comecei a achar que a privação do som ali nada tem de desconfortável. Bateu até a vontade de alugar um cão.
4 comentários:
Sensacional, escriba! Deliciosa crônica de viagem. Muito boa a brincadeira da macaúba com a big apple. Esteve no Dakota? Best wishes.
Lorão, fiquei pensando se o Sucatão tem tomadas para tablets e smartphones. Você consegue imaginar a gente viajando sem conversar, somente lendo ou jogando??? O Vardão ficaria feliz da vida...
Muito interessante os textos sobre as suas experiências na América. Venho acompanhando todos que você posta. Parabéns, você escreve como ninguém!!!
Brilhante!!!
Postar um comentário