quarta-feira, 1 de abril de 2015

Aí…

mídias-sociais

Aí você entra na doideira passional do debate político e começa a se manifestar num tom acima do razoável, extrapolando um pouco os limites do civilizado.

Aí você lê algo que escreveu no calor da contenda e não se reconhece ali naquelas linhas permeadas por palavras ácidas, por petardos em embalagens adjetivadas.

Aí seu oponente, acuado, na defensiva, contra-ataca com um verbo ainda mais quente. A fogueira é alimentada pela gasosa de saliva de governistas, de um lado, e do resto do Brasil, do outro lado.

Aí você para, pensa, respira, reflete...

Aí você lê, relê, trelê...

Aí você traz pra frente do teclado um caldo do que tem ouvido nas últimas semanas.

Aí você percebe que há um sentimento comum, genuíno, de indignação na esmagadora maioria das pessoas do seu convívio pessoal e profissional.

Aí você se dá conta que algumas destas pessoas, íntegras e discretas, nunca tinham se manifestado como fazem agora. Com a intensidade que fazem agora. Com a convicção que fazem agora.

Aí você vê que aqueles que se achavam os donos dos gritos de rua estão desolados pelo despejo às avessas. Da rua pra casa.

Aí você descobre que muitos dos despejados não esperneiam por ideais. São militantes pagos, grudados na máquina, vivendo da máquina, cegos pela medo de perder a boquinha. Há exceções, poucas.

Aí você capta o desespero deles na vã tentativa de tentar direcionar a indignação para alvos outros, diferentes dos que têm brotado espontaneamente.

Aí você tem a certeza que [tentativas de] orquestração contra alguns entes passíveis de críticas não tem o condão de mandar o povo à rua.

Aí você sabe que há algo estranho quando se tenta demonizar um dispositivo constitucional com a máscara fake de um feioso golpista.

Aí cai a ficha que escaramuças e conflitos, por mais acirrados que sejam, ajudam na consolidação de instituições nas nações democráticas.

Aí, viva!, você agradece pelo contraponto raivoso, pelo contraditório azedo. Até pela confrontação lúcida, ponderada.

Aí você escorrega e não resiste na menção de um bordão de auto-ajuda, mas verdadeiro: “o que vem da adversidade só reforça nossa crença”. (Augusto, Lauro).

Aí finalmente você sai destas reflexões racionais e sente vontade de mandar alguns pra aquele lugar.

Aí você come um chocolate e espera a vontade passar. Aqui não!

Aí fica mais evidente o quão as pessoas, anônimas ou não, ficam mais exaltadas —inconvenientes, até— nas timelines das redes sociais. Para o bem e para o mal.

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