Mídias sociais são espaços férteis para criação de lendas cibernéticas. Vez ou outra sou vítima e/ou beneficiário do personagem que brotou das atividades que perpetro na grande rede.
Por algumas fantasiosas deduções decorrentes das minhas digitais no Facebook, Instagram e afins, já fui alvo de pesadíssimas acusações.
Ser tachado de esportista foi uma das maiores barbaridades. Não obstante as múltiplas fotos que retratam um indivíduo notadamente fora dos padrões ditos saudáveis, eventuais postagens de finais de semana em que, enfiado em indumentárias fitness de cores berrantes, caminho ou pedalo em trilhas bucólicas do torrão Sanja-Prata, induzem os incautos a uma falsa visão atlética onde só há fagueiros passeios dominicais.
Publicações que narram viagens de recreio ou efemérides familiares em que sorrisos, poses e belos cenários abundam, também proporcionam divertidos ilusionismos. Família perfeita, digo sempre, só existe em publicidade de margarina. Expresso aqui toda a humanidade do meu clã para me livrar da falsa imputação de felicidade excessiva e ofensiva.
Useiro e vezeiro na produção de imagens e letras sobre os prazeres da mesa, não é raro, em razão disso, me atribuírem uma habilidade que eu definitivamente não tenho: cozinhar. Reconheço meu apreço pela pirotecnia gastronômica, mas assumo a destreza quase nula no fazer. Muito barulho pra pouca mão na massa.
Anos atrás um conhecido me convocou à sua casa. Ansioso, ele tirou do freezer um lindo pernil de cordeiro e intimou: "Sábado ele é todo seu. Me passe os ingredientes para o tempero que você vai preparar essa maravilha". Apavorado e sabedor do quão precioso era aquele tesouro ovino, é óbvio que recusei a tarefa. Recusei, mas implorei por um downgrade na patente: de cozinheiro para apenas comensal.
Dia destes, de novo, o escriba fanfarrão foi convidado para outra estripulia culinária. Fabiana Gimenes, a blondie carismática do programa Papo de Cozinha, encasquetou que eu seria o cara a pilotar o fogão na TV. Essa coisa embriagante chamada ego impediu-me de declinar o chamado.
Uma receita de fácil execução foi a primeira providência tomada pelo MasterFakeChef. Levar a esposa ao estúdio foi a segunda medida preventiva de desastres.
Uma gafe ou uma trapalhada cinematográfica, resignado com o inevitável eu já estava, seria um bom mote de humor para a crônica da semana.
A coisa, surpresa!, rolou legal. Uma produção redondinha, uma direção paciente e uma apresentação descontraída. A Globo!
O êxito na empreitada televisiva, pensando bem, foi muito danoso. Roubou-me o gancho de gracejo para o texto. Obrigou-me a lavrar aquelas divagações sociológicas de almanaque nos primeiros parágrafos. E, por fim, contribuiu para pincelar com tintas definitivas o quadro deste embusteiro das comunidades virtuais.
Nasce o mito! Morre o mito!
Um comentário:
Masterfakechef que nada! Mandou super bem na receita! E no texto!!!
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