Centenas de milhares na mais paulista das avenidas. O copo
na mão, a roupa branca, o espírito de celebração para receber o novo. Ainda que
por uma noite, as dores e as tristezas do ano terrível são esquecidas. O
champanhe e a esperança de dias melhores são estimulantes do ânimo. Os fogos
espocam, beijos e abraços pipocam...
O primeiro parágrafo é uma impressão real, verdadeira, mas
miseravelmente não me deixo contaminar por esse astral festivo. Sou o cinza na
efusividade colorida. Sou o pingo amargo na massa doce. Sou, ao mesmo tempo,
autor e vítima de uma escolha infeliz.
A metrópole que me fascina em outras épocas, hoje se
mostra muito distante do que eu quero. Nada tem de bom estar, numa data tão
simbólica, longe de familiares, amigos e próximos, com os quais, uns mais
outros menos, eu convivo.
Insone, refestelado no leito de um excepcional hotel nos
Jardins, 1:40 entrando em 2016, a melancolia impera
com o incômodo retrogosto de tacos de quinta, guiozas encharcados, sertanejo
universitário e Coca quente.
Na GloboNews, Marisa Monte canta que "já não há
caminhos pra voltar".
Engulo seco, amaldiçoo meu desolado Réveillon e concordo
com ela.
Em tempo: passado o
oba-oba natural da virada —sou sempre habitué nestas publicações otimistas e
comemorativas—, pela vaidade das letras e pelo travo na boca, não resisti em
externar angústias tão humanas.
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