Vocação zero para desbravador, toda vez que subo a Monte Verde gosto de imaginar —e admirar— o quão difícil foi para os pioneiros chegarem e se estabelecerem no lugar na década de 1930. À época, as precárias trilhas que levavam ao topo só podiam ser vencidas sobre lombos de burros. Uma fazenda longínqua, gelada e sem a mínima infraestrutura.
Verner Grinberg, imigrante letão, foi o idealizador e fundador do distrito. Ele adquiriu na primeira metade do século passado uma grande área de terra por aquelas bandas. Apaixonado pelo clima e pela geografia montanhosa da região, Grinberg impulsionou a ocupação de Monte Verde distribuindo lotes a quem quisesse ali viver e ganhar a vida.
De lá pra cá, a aldeota, europeia em vários aspectos e deliciosamente mineira em tantos outros, se firmou como um dos destinos de turismo mais pitorescos do Brasil.
Na companhia de amigos, viajo anualmente a Monte Verde desde meados dos anos 2000. Desde quando a estrada serrana que liga o povoado a Camanducaia carecia de pavimentação.
Ano a ano, Monte Verde muda. Infraestrutura melhor, novas lojas, novos restaurantes, novas pousadas, internet [um pouco mais] rápida. Antigos estabelecimentos sendo reformados. E o fluxo turístico explodindo. Para o bem e para o mal. Mais gente e mais dinheiro não significa, necessariamente, progresso.
Na manhã do último domingo, saindo de lá para voltar aos Crepúsculos, vi, pela primeira vez, dezenas de ônibus estacionados na entrada do charmoso lugarejo montanhês das Minas Gerais. Centenas de turistas chegando para aqueles passeios de bate-e-volta. Nestes trópicos, o frio, a montanha, o chocolate e a truta são, sem dúvida, atrativos turísticos.
Perguntaria o maldoso: truta combina com farofa?
Conversando com amigos que lá empreendem e que amam Monte Verde, eles acham que algumas questões têm que ser respondidas para se redefinir [ou não] os rumos do distrito, a saber:
1. Emancipação? Bom? Ruim? Necessário? [Monte Verde, pra quem não sabe, é um distrito da cidade de Camanducaia]
2. Qual o preço que se quer pagar para aumentar o fluxo turístico?
3. Que perfil turístico o destino quer atrair?
4. Monte Verde quer continuar sendo, também, uma opção de paz e sossego para o visitante?
5. Qual o limite de visitantes que a infraestrutura de Monte Verde comporta?
6. A legislação para novos empreendimentos precisa ser revista?
7. O tráfego de veículos na Av. Monte Verde deve permanecer como está?
8. Novas construções estariam em consonância com a preservação ambiental de um lugar que quer se manter como refúgio dos amantes da natureza?
Assumo um certo egoísmo, mas não consigo conceber Monte Verde sob as agruras do turismo de massa. Definitivamente, não orna. Absolutamente, foge da essência.
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