segunda-feira, 21 de outubro de 2024

O menino que enxergava longe

O blogueiro e Renato Paiva, empresário da Ótica Diveneza

 O trabalho começou cedo na vida do menino Renato. Ainda criança, ele corria, das ruas do Jardim dos Estados, onde cresceu, até o Mercadão Municipal, lugar em que o pai Moacyr era dono do tradicional Frangão, fornecedor de carne fresca de galináceos a restaurantes e hotéis de Poços. O moleque chegava ao velho armazém público cheio de energia para brincar entre as bancas, mas logo era incumbido de alguma pequena atividade da labuta penosa do entreposto de penosos do seu Moacyr. Testemunhando e admirando o suor do genitor, Renato aprendeu ali a importância da dura faina e a arte de bem-servir a freguesia.

Aos doze anos, ele foi colocado pelo pai para laborar numa serralheria de janelas de alumínio. “Não era brincadeira, eu trabalhava mesmo, cumpria horários, cuidava das rotinas e tudo. Foi uma escola e tanto”. Um pouco adiante, o viés empreendedor de Renato foi ficando cada vez mais nítido. Ele custeou seu ensino médio instalando alarmes residenciais.

Ingressou no ramo que ditaria seu rumo empresarial em 1995. Na Ótica Enterprise, do expert Luiz Reginaldo, Renato se apaixonou pelo ofício que exige ciência e profundo conhecimento técnico. Mais do que isso, demanda sensibilidade e vocação para lidar com pessoas, sejam elas parceiras, colaboradoras ou clientes.

A rica e transformadora experiência na Enterprise empurrou-o ao risco do voo solo no comércio. Em julho de 1998, a Diveneza abria as portas para mudar para sempre o negócio de óculos em Poços de Caldas. “No início, eu chegava às sete da manhã para estudar física óptica e gestão comercial”, conta Renato. Com bagagem e motivação, o jovem empresário foi gradativamente implantando seus conceitos e crenças no estabelecimento. Entre tantos métodos, ele instiga os funcionários a serem participantes e críticos do processo como um todo, e não somente meros executores de tarefas. Uma espécie de autogestão, eu diria.

Nos bastidores, atrás da área de vendas, há uma movimentação intensa e contínua de capacitação profissional, pesquisa, compras de novos produtos, prospecção de tendências, treinamento tecnológico, marketing e suporte ao consumidor.

Este cronista míope, freguês Diveneza desde 2019, atesta o excepcional conjunto da obra construído pelo obstinado Renato. Na minha última visita imperativa à loja (depois que meus óculos foram esmigalhados por um carro de polícia na Sicília), fui apresentado à “senhora” Visioffice, uma máquina ultramoderna que escaneia o rosto do cliente, proporcionando precisão nas medidas e uma produção de lentes personalizadíssimas, adequadas à anatomia de cada um. Só faltou ela me dar “boa tarde”. Talvez ela tenha até dado, eu é que não entendi.

O robô é essencial para o perfeito resultado dos óculos, claro, mas verdadeiramente o que me seduz como freguês Diveneza está muito além disso: gosto do bom trato, da gentileza, do café, daquele atendimento caloroso que me remete aos antigos balcões, enfim, daquilo que só gente é capaz de fazer. Dudu Hermano, craque do time Diveneza, músico e DJ nas horas vagas, é o cara que não posso deixar de mencionar nestas linhas: ele sempre me atende e personifica tudo o que eu disse na frase anterior.

Formado em Direito, “diplomado” no varejo, filho também de dona Dirce, pai de meninas, Paola e Isadora, marido de Maria Fernanda, aos 48 de existência, Renato Paiva é, inegavelmente, um homem bem-sucedido. Quem o conhece de perto e sabe de sua trajetória, enxerga, nesse sucesso, muito daquele garoto observador que vivia no Mercadão ajudando a família na luta diária pela sobrevivência. 


O blogueiro e Dudu Hermano, craque do time Diveneza,
além de músico e DJ


PS: Conheci o personagem desta crônica num  memorável jantar de outono, no Ollivia, impecavelmente organizado pela saudosa Lurdinha Camillo. O protocolo do evento colocou-nos, eu e Josi, ao lado dele e da mulher, numa ponta da grande mesa. A prosa foi boa, afinidades afloraram e, dias depois, eu já estava explorando aquele lindo e iluminado empório do bem-enxergar na rua Prefeito Chagas. 

terça-feira, 8 de outubro de 2024

Geladas influências

Attilio Junior e Letícia Brunorio, o casal Dubelato

Nascido em Buritama, ele cresceu em outra cidade de São Paulo, Monte Azul Paulista, onde o pai tinha uma sorveteria que aliviava o calor infernal do norte do estado. O comércio, na verdade, era mais do que um ponto de venda. A Dubon, esse era o nome, também fabricava e distribuía regionalmente os sorvetes do empresário Atilio José Aparecido Rossi, genitor do personagem desta crônica, Attilio Junior Rossi.

O menino, cuja infância monteazulense foi de deleites diários e ilimitados no saboroso empreendimento do clã, saiu de casa para cursar Engenharia de Alimentos na USP de Pirassununga. Na diversidade do ambiente acadêmico, Attilio conheceu e caiu de paixão pela poços-caldense Letícia Pereira Brunorio. O namoro começou em meio às aulas de Microbiologia e Tecnologia de Produtos Lácteos.

No meio do curso, Letícia se auto-exilou na França para um período de intercâmbio. Voltou trazendo na bagagem outra paixão: gelatos. Compartilhou com o namorado os aromas da viagem e o que tinha provado de bom nas gelaterias da Europa.

Diplomados, Letícia e Attilio ingressaram na trajetória profissional em multinacionais: ela, na Nestlé; ele, na Danone. Attilio, depois da temporada nos iogurtes famosos, regressou a Monte Azul para auxiliar o pai na expansão da Dubon.

Fazer gelatos, morar em Poços e casar foram determinantes vontades do casal. Attilio se inspirou no negócio do pai para em 2017, junto com Letícia, abrir na estância vulcânica a primeira loja da Dubelato. A marca é uma junção de Dubon e gelato. Attilio conta: “Quis fazer um produto diferente do que eu conhecia. O gelato é feito com ingredientes melhores, textura e cremosidade que nada têm a ver com sorvete. Estudei muito, fiz milhões de testes até chegar no resultado que vendemos hoje. Continuo aprimorando, inovando e aprendendo. Gosto do desafio de experimentar uma fruta ou uma sobremesa e transformar o sabor num gelato, obviamente sem aditivos químicos e insumos artificiais.”

Depois de sete anos da unidade inaugural, a Dubelato é um selo de qualidade consolidado na região. Entre lojas próprias e parceiras, sete fazem sucesso em Poços (4), São João da Boa Vista, Amparo e Pouso Alegre. Mais quatro serão abertas nos próximos meses.

Attilio Rossi encontrou Letícia para construir família e prosperar. A beleza da coisa está na inovação que honra a história do pai, o batalhador Atilio, que sustentou a prole enquanto o rebento se lambuzava de geladas influências que viriam moldar sua vocação e seu norte empresarial.

Attilio, permita uma provocação deste cronista glutão: que tal pensar num gelato sabor vulcão?