sexta-feira, 3 de julho de 2015

Vana & Barack

Vana & Barack

—Grande isso aqui, Barack...

—Sim, Vana. Posso dizer que eu moro bem.

—Tem muito mais jeitão de casa que o Alvorada. Lá não tenho aconchego nenhum. A arquitetura do Oscar é boa pra turista e estudante. Pra quem trabalha ou vive nas obras dele, a funcionalidade e o conforto são zero.

—Vem ver a cozinha, super bem equipada. Olha aquela coifa ali, foi desenvolvida pela NASA. Tem um exaustor embutido que suga toda a gordura do ambiente em milésimos de segundo. A Michelle adora.

—Que beleza! Deve ser um espetáculo fritar mandioca aqui...

—What?

—Deixa pra lá... mandioca é uma coisa muito complexa pra ianque entender.

—Então, Vana, sei que a coisa já esfriou, mas não posso deixar de me desculpar pessoalmente pelo lance da espionagem. Sorry! Foi mal mesmo.

—Olha, Barack, quando descobri a arapongagem, confesso que fiquei muito puta da vida. Surtei no dia ao saber que você sabia do meu vício em comer jambo com cerveja preta. Mas depois, de verdade, acho que aquilo foi muito bom.

—Sério, Vana, por quê?

—Na época, os urubus da oposição e da imprensa golpista estavam me aporrinhando com bobagens que estavam drenando minhas forças. Os grampos ajudaram a desviar o foco da política interna.

—Vocês têm Republicanos lá também?

—Acho que o mal é o mesmo, mas no Brasil esse mal tem o nome de tucano. Republitucanos! [ela cai na gargalhada].

—Você é muito boa com trocadilhos.

—Sem falsa modéstia: sou. Mas não vim à Casa Branca pra falar dos meus múltiplos dons. Você sabe que os meus companheiros de partido têm enorme afeição pela ilha do Fidel. Como estão as coisas lá?

—Fácil, fácil... estamos indo devagar pra deixar os velhinhos saírem com dignidade, pra botar um verniz de que eles ainda têm fibra pra negociar.

—E não têm?

—Nada. O país está sucateado, a população passa por tantas privações que uma brisa democrática que leve alguns bens de consumo derruba todo mundo lá. E, convenhamos, não precisa nada muito vigoroso pra tombar os Castro brothers.

—Barack, vou mudar o rumo da prosa pra lhe fazer dois pedidos. I have two dreams. Quero tirar uma selfie com você no Salão Oval. Também quero fritar mandioca na sua cozinha. Aliás, quero saudar a mandioca na sua cozinha. Podemos fazer isso?

—Yes, we can!

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