Fanatismo é um vocábulo brando demais para definir o estado psíquico permanente dos seguidores do messias.
No plano racional, as inegáveis evidências de (des)caminhos heterodoxos são tantas que fica difícil exercitar uma defesa crível para o indigitado. Caminhos heterodoxos, tenho dito, é um infame eufemismo para maracutaias.
Percebe-se de pronto o caráter dogmático na crença dos catequizados. Nenhum argumento refletido, isento, suplanta a fé desta turba de delirantes. A inabalável e cega confiança no líder supremo não rui nem com uma sucessão de flagrantes vexatórios.
Vulnerabilidades e equívocos dos adversários são facilmente invocados pelo apostolado ante qualquer esboço de ataque ao cacique. O diabo está sempre do outro lado. A merda está sempre no exército alheio.
Dane-se qualquer ideal de justiça quando se trata da máxima figura. O mandachuva paira acima da legalidade.
Comezinhas mundanidades não existem para perturbar a paz do maioral. Aliás, na praia ou no campo, ele é merecedor de recantos suntuosos de sossego. Não há meio escuso se o fim resultar no recreio do aiatolá fubango.
Nestes recônditos aparelhos de lazer frequentados pela entidade-mor não se aplicam os conceitos convencionais de aquisição de propriedade e execução de benfeitorias. Forças sobrenaturais conspiram monetariamente para o bem-estar do ser sublime.
A soberba no seu excelso mundo é tanta que ali o erro é prerrogativa única dos mortais. Na confraria dos morubixabas celestiais, a perfeição. Nada menos que o sagrado impoluto.
Defecções acontecem não por lapsos na doutrina superior. O miserável que se bandear para trincheiras oponentes foi um fraco corrompido pelos bicudos a serviço do imperialismo satânico.
No íntimo, bem no íntimo, o mentor sabe que estas pregações só sobreviverão se calcadas no culto a sua personalidade, mas enredado nas próprias contradições ele aquiesce no quão nocivo é isso, para si, para a biografia que quer deixar e para o reino. Falta-lhe, no entanto, pudor, vigor e vontade para quebrar imagens.
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