“Vinde a mim as criancinhas, menos os netos da Dona Carminha”.
No finzinho dos anos 1970 algum gaiato fez esta troça com a passagem bíblica para acentuar a fama de traquinas dos irmãos sanjoanenses forjados nas vizinhanças da rua Benedito Araújo.
Reais ou lendas, diversas histórias deles sobrevivem sob os crepúsculos desta Sanja. Pessoalmente, os dois me contaram o trio de traquinagens que segue.
Uma
1977 ou 1978, por aí. Numa das primeiras edições da Semana Guiomar Novaes, com a presença da própria homenageada, Edson e Edgar acompanhavam a avó na plateia do Cine Ouro Branco, onde acontecia uma apresentação musical regida pelo famoso maestro Eleazar de Carvalho.
No intervalo do evento, os levados meninos cismaram de brincar de pega-pega perto do palco. Crônica de um debacle inevitável. O esbarrão num dos instrumentos provoca aquele efeito dominó que derruba e quebra violoncelos em série. Em dinheiro de hoje, um prejuízo de centenas de milhares de reais. Espectadores atônitos, artistas traumatizados e regente incrédulo.
Estarrecida na fila do gargarejo, a pianista consagrada indaga: “Quem são os capetinhas”? Envergonhada, Dona Carminha murmura para Guiomar Novaes: “Meus netinhos”.
Duas
Apaixonados pelo circo, os danados infantes davam um jeito de se embrenhar em todas as companhias que aportavam na cidade. Tanto fuçavam que, não raras vezes, arranjavam bicos com os donos do espetáculo.
Escalado para auxiliar o mágico, Edson tinha mais olhos para as beldades do camarim do que ouvidos para as instruções sobre suas tarefas.
Naquele quadro da caixa moscovita, em que uma mulher some enquanto lâminas afiadíssimas são transpassadas, Edson, distraído pelas curvas femininas, deixou de fazer o que precisava ser feito para o truque funcionar e a moça sair ilesa. Resultado: o show foi abruptamente interrompido quando os urros da louraça acusaram espetadas viris em suas generosas coxas.
Edson tomou um esporro homérico pelo cochilo e se vingou da bronca aprontando: libertou o elefante.
Três
Ainda o circo, de novo um quiproquó com ilusionistas.
Edgar, incumbido de preparar os badulaques da exibição, vacilou e entregou aos céus a pomba branca que deveria ser aninhada no fundo falso da cartola do feiticeiro. O anão, que também assessorava no picadeiro, percebeu a falha e disparou a fazer mímicas frenéticas alertando para evitar o vexame. Em vão! O mago de cartola vazia sorriu mais amarelo que o cabelo da trapezista russa e Edgar, blasé, foi dar bananas aos chimpanzés. Assoviando!
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