Por
influência paterna, sou tricolor
desde sempre. Hoje ainda vibro muito nos jogos decisivos, mas me considero um
sãopaulino café-com-leite. Perdi o fanatismo da juventude.
E a
semente do fanatismo foi plantada em 1977, na decisão do Brasileiro disputada
contra o Atlético Mineiro. O São Paulo papou o Galo sob o céu de BH. O Mineirão
silenciou.
Eu tinha
7 anos e, óbvio, não lembro lhufas do jogo. Lembro-me, sim, de flashes da
decisão nas penalidades e da vibração de Waldir Peres com o erro do cobrador
mineiro que deu o título ao São Paulo.
E os
anos 80 começaram bem. O bi paulista 80/81 foi de arrasar mares e selvas:
assamos o Peixe e detonamos a Macaca. Serginho Chulapa era artilheiro e
encrenqueiro. Fazer gols e arrumar confusão sempre foi a sina do Chulapa.
Em
1985 minha primeira decisão in loco no Morumbi. Inesquecível estar no “Murumba”
com 100 mil pagantes. A final do Paulista foi contra a Lusa. Silas, Muller,
Careca e Pita —os “Menudos do Cilinho”— dançaram o vira e levaram a taça num
memorável 2x1.
No
Brasileiro do ano seguinte, 1986, o Tricolor era minha vida. Minha e do Nandão
Goiaba, meu irmão e amigo que, na época, morava em Campinas. Se o jogo era
domingo e o palco fosse o Morumbi, estávamos lá, não importando o adversário.
Vimos desde clássicos até confrontos furrecas, como, por exemplo, contra o
América do Rio. Tem que ser muito fanático para subir no Expressinho, pegar
metrô e ônibus urbano para ver o São Paulo jogar contra o América do Rio.
E
a final do Brasileiro de 1986 —que, diga-se, foi jogada no início de 87 por uma
destas estultices da cartolagem tupiniquim— contra o Bugre no Brinco de Ouro?
Jogaço!!!
Eu e Nandão, no ápice da loucura, no meio da Independente. O Guarani fazia 2x1
na prorrogação quando, num lampejo de homem-gol, Careca empata no último minuto
e leva a decisão para os penais. E dos pênaltis saiu o nosso segundo caneco
brasileiro. Absolutamente inesquecível!
Ainda
levamos dois Paulistas —87 e 89— antes de findar a década.
E chegamos
na era Telê, a década de 90, a
mais vitoriosa em toda a história do São Paulo. Telê Santana aterrissou no São
Paulo trazendo consigo a injusta pecha de pé-frio. A seleção brasileira de
1982, maravilhosa, mas derrotada, ainda era, na época, o céu e o inferno na
vida do treinador.
No
Tricolor dos anos 1990, Telê armou um escrete que extasiava os tricolores e
aterrorizava os adversários. O time de Zetti e Raí jogava limpo —Telê abominava
botinadas—, para frente, numa busca incessante pelo gol.
O
técnico era disciplinador, rígido, mas sem nunca perder a humildade e o senso
de justiça. Bem diferente dos estrelismos e arrogâncias destes tristes tempos
de dungas e luxemburgos.
Sob a
batuta de mestre Telê, as Américas e o mundo ficaram pequenos diante de tanta
glória. E por duas vezes —92 e 93— o futebol do globo foi obrigado a
reverenciar Telê e os meninos do Morumbi.
Este
ex-fanático sãopaulino é hoje um cronista apatetado que tem poucas certezas na
vida. Uma delas: Telê não só foi o melhor treinador da história do São Paulo,
ele foi o melhor técnico do futebol brasileiro desde que Cabral aportou por
estas terras. Vou mais longe, sem medo do exagero: Telê foi o maior técnico do
futebol mundial em todos os tempos.
E
volto à arquibancada com o grito de guerra que até hoje é cantado nos estádios:
—Olê,
olê, olê, olê, Telê, Telê!!!
Em tempo: No
ano de 1993 o São Paulo conquistou a “SuperCopa” da Liberadores batendo o
Mengão no Morumbi. Já era madrugada e uma dezena de crepusculares, no portão do
“Murumba”, amaldiçoava os colegas retardatários que não chegavam e atrasavam o
retorno a Sanja. Eis que o portão se abre e surge a lenda, trajando sua
inconfundível polo vermelha, caminhando tranquilamente até o estacionamento do
estádio. Frisson e emoção. Solícito, ele atende a todos os pedidos de
autógrafo. Recordo-me daquela noite e choro por dois motivos: não beijei a
testa do mestre e deixei que a máquina de lavar roupa apagasse a assinatura histórica
na minha camisa.
*Texto lavrado e blogado em 12 de abril de 2006.
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