Tenho desde o BBB antipatia por Jean Wyllys. Detesto o programa e não consigo quebrar meu ranço pelos personagens que daquela casa saem para a fama.
A estridente militância política dele depois do sucesso na TV e a defesa insana de dogmas de uma ultraesquerda anacrônica contribuíram para o acento ainda mais agudo nos meus conceitos e preconceitos.
Nestes tempos coléricos, no entanto, Bolsonaros, papai e filhinhos, e bolsominions, essa turba ensandecida, têm colaborado para atenuar algumas de minhas humanas malquerenças.
Noite de sexta deliciosamente chuvosa, aliviado com os termômetros em queda —sou intolerante ao calor—, estarrecido com a tragédia em Brumadinho e lendo tudo sobre o anúncio do autoexílio do deputado Jean Wyllys, roubo um verbo do amigo Dulcidio e tento “racionalizar” no meio da paixão da polêmica.
O congressista —até onde eu saiba é, depois do Clodovil, o primeiro político declaradamente gay na Câmara— se notabilizou na tribuna pela defesa da causa LGBT. Essa militância aguerrida e uma desnecessária e indecorosa cusparada num boçal angariaram inimigos e perseguições.
Na eleição de 2018, Jean Wyllys foi uma das maiores vítimas das fake news perpetradas pelo exército whattsappiano do 17. Na ânsia de imputar projetos de surubas e perversões aos opositores, os bolsominions massacraram Jean Wyllys nas mídias.
Tá no YouTube, tá nos arquivos jornalísticos, gravado, filmado, escrito: papai e filhinhos são hostis aos homossexuais. “Prefiro um filho bandido a um filho gay”. Infelizmente essa frase de Bolsonaro não é fake. Como também são verdadeiras as ameaças reiteradas de expulsão que ele fez a adversários durante a campanha.
É nítido ainda que um número significativo —não generalizo— de eleitores do atual presidente também é homofóbico. O resultado das urnas encorajou ódios públicos que quase só eram vistos no privado. E os ódios não são só retóricos. Agressões físicas covardes pululam por aí.
Companheiros de partido de Wyllys, Marcelo Freixo e Marielle Franco foram alvos de planos assassinos de milicianos. Freixo foi poupado pela ação preventiva da polícia. A lésbica e vereadora, Marielle, todos sabem, não teve a mesma sorte.
Os culpados pelo homicídio de Marielle estão nas ruas. Investiga-se, repito, INVESTIGA-SE fortes indícios de ligação do clã presidencial com milicianos.
Há viés político na decisão do autoexílio?
Certeza que há. Isso é um gesto forte de oposição.
Mas não questiono a legitimidade do gesto nem o foro pessoal que o motivou. E também tenho convicção de que o medo e o ambiente de rancor no país colaboraram para que um controverso parlamentar democraticamente eleito abrisse mão de sua cadeira, e de não parcos vencimentos, para se proteger no estrangeiro.
A coisa extrapola a questão da empatia, das bandeiras políticas, de ser de esquerda ou de direita. É questão de respeito humano, de civilidade, de valores inegociáveis num Estado Democrático de Direito. Valores que sempre estarão distantes do bolsonarismo.
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