No calor caótico da cozinha,
talento e afeto criam deleites.
Panelas murmuram, pratos emolduram,
e (re)descobrimos
que há lugares em que o paladar
toca a alma com a alquimia dos temperos,
a harmonia das cores
e a diversidade das texturas.
Grande empresário, viajante planetário e aficcionado da boa mesa, Phil Melo abriu o Pesto em 2019 — movido pelo desejo de oferecer a Poços uma amostra dos sabores que garimpou mundo afora. A proposta inicial mesclava comida saudável com leve espírito de cafeteria. A casa ia bem, embora ainda não fosse exatamente aquilo que ele idealizara. Eu, particularmente, tampouco me afeiçoei ao conceito: fomos uma vez e a decepção foi inevitável. No meio da pandemia, Phil decidiu reformular o projeto, introduzindo um menu mais requintado, inspirado nas referências colhidas aqui e além-mar.
A alta gastronomia desembarcou de vez quando o restaurateur encontrou, em 2021, Juscelino Silva Barboza — cearense de Guaraciaba do Norte, que fincou pé no Rio aos dezoito anos e forjou sua carreira entre as panelas de alguns dos mais renomados restaurantes da Cidade Maravilhosa. Em busca de mais qualidade de vida para a família, o chef começou a frequentar a região por influência dos familiares da mulher, donos de um sítio em Caconde. Entre uma visita e outra, encantou-se por Poços de Caldas — pela caldeira vulcânica, pela atmosfera serrana e, claro, pela proposta de Phil. Vestiu o dólmã do Pesto com a autoconfiança de quem sabe o que faz e passou a executar — e recriar — os pratos que o businessman conhecera em suas andanças nacionais e internacionais.
Perguntei a Fábia como ela define o restaurante: “Servimos o que é diferente e gostoso. A cara do Pesto é não ser convencional, mesmo nos itens clássicos. Queremos que nosso cliente tenha aqui uma experiência que ele só teria em grandes centros”.
Ela — tendo o brilhante Juscelino como parceiro de travessia — desbrava novos terrenos, sem medo, e escreve, com cadência e fluência, mais um saboroso capítulo de sua jornada em Poços de Caldas.
Numa gelada quinta-feira de agosto, eu e Josi desfrutamos, no Pesto, de uma imersão das mais arrebatadoras da nossa trilha de peregrinos culinários — daquelas que permanecem acesas no paladar, na memória e na alma.
Alguns itens do nosso antológico jantar: um tartar defumado em que cenouras e beterrabas, abençoadas por fumaça, se deitavam sobre maionese de abacate picante e pão de longa fermentação; avançamos para o atum selado com foie gras e purê de limão-siciliano — feito apenas da polpa —, coroado por flor de sal ao vinho.
Nos entregamos depois ao gnocchi de batata e parmesão, envolto em molho de queijos, poeira de cogumelos e trufas frescas generosamente laminadas ali mesmo; finalizamos com o lombo de pirarucu defumado em cascas de laranjeira, cozido no sous-vide e servido com mil-folhas de banana-da-terra, creme de moqueca, farofa de castanhas e espuma de açaí.
E saímos de lá, no pós-repasto, com a certeza de que, no calor manso deste vulcão adormecido, o Pesto segue transformando fogo, afeto e talento naquilo que a gastronomia tem de mais essencial: momentos que eternizam o instante.
clique aqui e assista o vídeo de experiência
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