Pela mística e, confesso, mais pelo queijo, a Serra da Estrela foi incluída no nosso tour português.
Escolhi o hotel através do Booking. Preço baixo e nota alta. A grande extensão e os diversos vilarejos e municípios da Serra não me deram segurança sobre a opção de dormir no Agroturismo A Fidalga.
Colhi a coordenada no site e a joguei no Waze. Alerta! O aplicativo não puxou a identificação nominal da hospedaria. O lugar parecia bem ermo.
No caminho, já noite, a apreensão aumenta quando saímos da estrada principal para nos embrenhar na Serra. Embora pavimentadas, as vias são múltiplas e aparentemente confusas. Cruzamentos e bifurcações se sucedem, mas o Waze não vacila em apontar o rumo.
Chegamos! Tudo escuro e fechado. Nenhum hóspede nem funcionários para as boas-vindas. Nada de vida naquele ambiente rural.
Cansaço e ira! Instintivamente alguns PQPs foram proferidos contra tudo e todos. Lá pelo décimo xingamento, os faróis de uma caminhonete barulhenta jogam luz nas trevas daquele momento tenso.
Seu Alfredo nos saúda, mas não responde muita coisa. Tampouco nos tranquiliza com o check-in. "Esperem alguns minutos, minha esposa logo vem. É ela que resolve tudo".
Dito e feito. Dona Maria, falante, chegou, resolveu e surpreendeu. A pousada estala de tão nova. Excepcionais instalações. Quarto grande, TV idem, banheiro bom. Cama mais do que decente. E, viva!, ali no meio do nada tem internet ultra-rápida.
Conectado, eu comecei a respirar sem aparelhos.
Abrigados a poucos quilômetros da aldeia medieval de Linhares da Beira, é pra lá que nós fomos atrás do repasto por Dona Maria indicado. Cova da Loba é o enigmático nome do restaurante.
21:00. Silêncio, frio e pedra em Linhares da Beira, um museu a céu aberto. Nenhum morador ou turista nas ruas. A discreta placa mostra onde é a Cova, mas não existe sinal da Loba.
É passar da porta e cair numa rampa que liga ao porão do imóvel.
Surreal o subterrâneo! Absurdo contraste com o exterior. A casa está abarrotada, uma única mesa vaga, clientes conversam animados numa atmosfera sofisticada com decoração moderna. A singular apresentação dos pratos é marca de chef. A comida é reveladora de que quem ali cozinha conhece o métier.
No gelo de um povoado remoto de 300 habitantes na Serra da Estrela que nasceu na Idade Média, saciado por uma refeição inesquecível num estabelecimento que merece milhares de exclamações, plugado no mundo na velocidade da fibra ótica, hospedado nas cercanias de onde se faz o melhor queijo de ovelha do planeta, entre estupefato e emocionado, reforcei minha convicção na enorme capacidade do ser humano.
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