Competente no seu ofício, Fabricio Castor é um trader de café que não perde a chance de visitar propriedades onde são cultivadas a planta do seu ganha-pão.
Dia destes ele contou a este parvo escriba ter conhecido uma das mais fantásticas fazendas cafeicultoras do Brasil, quiçá do mundo. E a visita marcou menos pela espetacular estrutura do lugar e mais por um episódio, digamos, cabuloso.
Carreadores são aquelas trilhas onde circulam pessoas e tratores no meio da lavoura. Pois então, no latifúndio conhecido naquela ocasião por Castorzinho, os carreadores são impecavelmente asfaltados.
Num daqueles bacaninhas carrinhos de golfe, o destemido Fabricio transitou entre os pés de café na companhia de três viventes: no banco dianteiro viajavam os chefões, o dono da fazenda e o patrão de Castor; na parte traseira, ele passeava ao lado do capataz.
Numa altura do trajeto, Castorzinho começou a padecer de cólicas abdominais. A dor tinha origem clara, ou melhor, escura amarronzada: o intestino rebelde dele dava sinais ruidosos e inequívocos de que a erupção seria iminente. Iminente e avassaladora!
Pelas caretas sofridas e pela sudorese em bicas do nosso herói, foi impossível o capataz não perceber o monumental desconforto de Fabricio Castor.
Clamando por justiça sanitária, ele cochichou desesperado ao solidário funcionário do anfitrião: “Cara, porra, eu não aguento mais. Vai dar merda, literalmente. Inventa alguma coisa e para em qualquer lugar pra eu me aliviar”.
Com a desculpa da necessidade de pegar uns documentos, o capataz conseguiu a anuência do chefe para estacionar o veículo elétrico defronte ao escritório, que era uma antiga casa restaurada. Nesta restauração, diga-se, o prédio continuou sem forração e as paredes permaneceram sem alcançar o telhado. Por isso, barulhos e odores eram perceptíveis em qualquer ambiente da edificação.
Sentado no vaso, Castor se deu conta das arapucas acústicas e olfativas da construção e, rápido, rapidíssimo, sacou o celular do bolso para simular uma ligação que disfarçasse os decibéis dos violentos jatos fecais que o desidratavam. Aos berros, ele fingiu: “Sim, tô aqui na fazenda. Amanhã a gente fecha aquele negócio. O preço tá bom…”.
Com aquele sentimento de dever cumprido, ele saiu altivo do banheiro, não sem estranhar um burburinho de risadas tendo-o como alvo dos comentários gozadores.
Calmo como só são calmos os homens recém-aliviados, o agora sereno Castorzinho questionou: “Algo errado comigo?”
Sincero, o capataz entregou para gargalhada geral: “Aqui não pega celular”.
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