domingo, 10 de junho de 2018

Palmeirinha


Manhã de hoje, caminhando para a feira livre, vi aberto o portão do estádio e entrei. Entrei, fotografei e relembrei...

A lavra abaixo é uma republicação de 1999. Tem um viés saudosista, um tempero nostálgico, mas também clama por um escrete crepuscular em certames de projeção. Isso é importante para a identidade da província, além de injetar na molecada altas doses de estímulo para a prática esportiva. E mais: do entorno destas competições sai um denso caldo de cultura, rico em fatos e personagens, que inspira textos como o que segue.

Dia destes, ao remexer guardados antigos encontrei uma velha e surrada bandeira alvi-negra. Fiquei surpreso e ameacei jogá-la no lixo.

Por que um Tricolor até a raiz dos cabelos preservaria entre tantos objetos de estima um antigo estandarte da Fiel mosqueteira?  

Lembrei! Alvi-negra, sim, corintiana, não.

A bandeira preta e branca foi confeccionada por minha avó, Dona Fiuca, especialmente para a final da então 1ª Divisão de Profissionais. O ano era 1979 e o nosso Palmeirinha, se a memória não me trai, foi campeão e ascendeu à chamada divisão Intermediária jogando contra a Guairense.

Segurando o velho pano mergulhei em boas lembranças. O futebol sanjoanense está tão apagado que há anos estou saudosista.

Bons tempos...

...em que o Palmeirinha mandava seus jogos no Getúlio Vargas Filho. 

...em que o bambuzal atrás do velho estádio era uma ameaça a árbitros mal intencionados. “Olha o bambu, juiz!”

...em que torcíamos pelo Palmeirinha petiscando os amendoins torrados do saudoso seu Mancini.

...em que o Chupetinha azucrinava o bandeirinha. Ver o jogo, nada. O prazer do velho Chupeta era correr acompanhando o assistente e gritando palavrões.

...em que assistíamos os jogos atrás do gol para atirar gelo de raspadinha no goleiro visitante.

...em que um dos meus grandes prazeres de moleque era ser gandula em Vila Manoel Cecílio, trajando aquele surrado uniforme de calção preto e camiseta branca.

...em que os jogos noturnos eram disputados à luz de velas. Os refletores fraquinhos mais pareciam iluminação de boate.

...em que a Torcida Uniformizada Lobos da Vila incendiava o pequeno alçapão.

...em que Piau fazia gols do meio-campo.

...em que Ari marcava tentos olímpicos.

...em que assistia Mirandinha, ao vivo, correndo de cabeça baixa e fazendo gols.

...em que Norinha defendia o arco palmeirino envergando um uniforme —hoje horrível— bordô. 

...em que João Bacana era o eterno interino. Caía o técnico e lá estava ele para tampar o buraco.

...em que gente abnegada e apaixonada como Dr. Antenor, Bento Palermo, Severiano Palomo e tantos outros eram a força motriz do futebol local.

...em que grudava os olhos no campo e o ouvido na Piratininga para saber do plantão de Fábio Silveira a quantas ia o meu Tricolor. Fabinho Silveira, inesquecível voz, nos informava da “suntuosa” Sala Nacional de Esportes. Na minha ingenuidade de criança, imaginava um local cheio de aparatos tecnológicos para receber notícias ininterruptamente. Que nada! Tempos depois vim a saber que a “nababesca” sala era o acanhado estúdio da Piratininga.

Lembranças de um tempo bom e de um futebol romântico que já não existem mais.

Nenhum comentário: