Em 1983, a lendária Dona Angelina, cansada da faina, decidiu que era hora de passar para outras mãos a arte de fazer o também lendário sorvete de macaúba.
Ela confiou esse tesouro da culinária sanjoanense a um jovem casal empreendedor de Santa Cruz das Palmeiras. Odécio e Carmem Novo chegaram aos Crepúsculos com o sonho de cá fazer a vida e criar o filho único Cleber, na ocasião com nove anos.
Desde então, o sorvete de macaúba —singular no mundo— foi levemente aperfeiçoado e deixou de ser sazonal na carta da casa. O mestre-sorveteiro Odécio buscou conhecimento com um engenheiro de alimentos da Unicamp e desenvolveu um método para processar e congelar a polpa da macaúba. Essa técnica não vitimou o sorvete com agentes estranhos: disponível de janeiro a janeiro, ele, o macaúbico carro-chefe, e todos os itens ali servidos são absolutamente naturais.
Quer sentir um frescor além-macaúba? Prove também as maravilhas geladas de uvaia, limão, nata e amora. Ah!, e como não mencionar um dos meus preferidos: ameixa.
Neste 2018, senhor Odécio e dona Carmem comemoram 35 anos refrescando o calor de gerações crepusculares. Aqueles fregueses dos anos oitenta nunca deixaram de frequentar a Sorveteria Macaúba, aqueles fregueses dos anos oitenta tiveram filhos e netos que também aprenderam a gostar de um dos melhores sorvetes do planeta.
Avesso a qualquer ação de marketing, sério, discreto, devotado à família e ao trabalho, o quase septuagenário Odécio filosofa: “a melhor propaganda é a qualidade do produto”.
Anos atrás, num domingo fervente, dona Carmem se mostrava preocupada: “Eu e meu marido estamos cansados. Essa vida no comércio não é fácil. Um dia vamos ter que parar. Se o Cleber não quiser seguir no negócio, ou vendemos ou baixamos as portas”.
Uma semana atrás, num domingo de quentura senegalesca, senhor Odécio era só orgulho: “Cleber e a esposa Luciene vão assumir a sorveteria. Eu continuarei por trás, ensinando e botando a mão na massa, mas agora a responsabilidade do balcão e da gestão vai ser deles”.
Um dia atrás, numa quinta-feira dos infernos, o advogado Cleber é entusiasmo e expectativa: “Tão importante quanto o ganha-pão é honrar e preservar o fruto de trinta e cinco anos de suor dos meus pais”.
Um pequeno estabelecimento familiar, um sorvete 100% artesanal livre de qualquer essência artificial, livre de qualquer conservante ou aditivo químico. Leite da fazenda —pasteurizado, claro—, frutas, açúcar, pesquisa, dedicação e paciência. E História, muita História!
Meu respeito, minha admiração e os votos de um macaúbico sucesso nessa nova etapa da Sorveteria Macaúba.
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[Dona Carmem foi enfática enquanto conversávamos para a escrita do post: “Sou grata a Deus, a meu marido, a meu filho, às minhas funcionárias e aos meus fregueses. A sorveteria foi, é e sempre vai ser a minha vida”].
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