Ouço por aí queixas generalizadas sobre a antecipação forçada do clima de Natal.
Eu, ao contrário, nunca reclamei.
Eu gosto...
Gosto das noites movimentadas no comércio da Dona Gertrudes, do Tekinfin lotado, das pessoas com o espírito mais leve.
Gosto das confraternizações calóricas, dos amigos-secretos nas firmas, do alívio nas metas corporativas.
Gosto dos pisca-piscas do comércio popular da Ademar de Barros. Gosto das crianças extasiadas com o Papai Noel da Praça Joaquim José.
Gosto dos supermercados abarrotados de perus e panetones. Gosto de fios-de-ovos na ceia. Gosto da simpatia dos lixeiros almejando a caixinha natalina.
Gosto de flanar na Tereziano Valim e ouvir Noite Feliz nas casas que ainda preservam a tradição da novena.
Gosto até da onipresença das uvas-passas nos pratos da grande mesa.
Gosto de esperar um anjo com alguma boa nova na madrugada do dia 25. Nunca vi nem ouvi nada. Ainda assim, continuo esperando.
Gosto de pensar, independentemente de crenças pessoais, na beleza da história daquela menina de 15 anos que aceitou sem assombro o anúncio de que geraria um Salvador.
Gosto de pensar na fortaleza moral daquele carpinteiro que de repente, sem aviso prévio, foi comunicado de que sua mulher geraria um menino especial.
Gosto de imaginar o choro deste menino único quebrando o silêncio daquela noite na imensidão do deserto.
Gosto de uma certa melancolia que paira no ar de dezembro.
Gosto da euforia —etílica ou não— dos que celebram nos eventos de fim de ano.
Gosto de, na quietude da noite, ficar sozinho contemplando a minha árvore de Natal. Lembrar de quem não mais está fisicamente por aqui. Do meu pai, da minha avó Fiuca, de amigos, de familiares, do caldo de gente querida que me moldou, de épocas felizes que vêm ao presente com cheiro de ameixa, nozes e champagne.
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