A indicação da hamburgueria veio de uma pessoa que trabalha (bem) com gastronomia. Fomos os primeiros clientes da noite de domingo a chegar ao local, que fica numa rua tranquila do centro da cidade. Não há sinalização, a calçada é escura e a fachada carece de cuidados estéticos.
Na minúscula recepção, a adolescente, pés descalços na cadeira, está sentada à frente de um velho computador com teclado encardido e mouse seboso. Minha presença é solenemente ignorada pela jovem, que só tem olhos para o celular. O dono, também pouca idade, traça um burgão no estilo “nobre medieval devorando coxa de peru.”
“Não temos cardápio de papel. Entra aí no nosso Instagram que o menu tá lá.” “Então tá!”, respondo ao mancebo empreendedor que me deu o caminho da carta burgueira virtual enquanto mastigava e limpava a maionese escorrida no canto da boca.
No terraço cujo piso não é acarinhado por uma vassoura há séculos, não há mesas. Não há nada além de sujeira no chão e pífia iluminação. Misericordioso deste cansado glutão e sua consorte não tão cansada, o moço nos disponibilizou um puído e empoeirado tampo e dois banquinhos. Tudo o que a visão alcança é desolador: ferrugem, pintura descascada, plantas secas.
Fiz o pedido dos hambúrgueres agarrado à minha eterna crença de que boa comida redime pecadilhos, mau atendimento e desconfortos.
Um pouquinho mais asseado que o entorno, pedi o mapa do sanitário para lavar as mãos. “Entre naquela porta ali, cruze o salão, o banheiro fica à esquerda lá do outro lado.” A tal porta deu para um cômodo grande, sem luz. O vazio só não é absoluto pelo mobiliário empilhado num canto. O banheiro? Poupo quem lê de descrições escatológicas, mas uso aspas para reproduzir o que Josi disse sobre o toalete: “O horror!”
Os hambúrgueres? Nenhuma exclamação, mas nada errado. Boa carne e pão idem. Fritas sequinhas em enorme porção. Ketchup Heinz de sachê. Guardanapos não apareceram e a Coca veio quente. Sem guardanapos, voltei ao lavatório do inferno para tirar a gordura das mãos.
Comemos razoavelmente bem num estabelecimento que não mais verá a cara de bolacha deste cronista atormentado por pensamentos de uma cozinha que ele não viu.
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