sábado, 2 de abril de 2016

Bandeiras


Acompanho, a reboque do escasso tempo e da diminuta vontade, muitos dos polarizadíssimos embates políticos no Facebook. Quando a coisa não descamba para rasteirices verbais e panfletagens explícitas, dá para enxergar nas contendas retóricas um belo exercício de democracia.

A rede social é uma síntese das ruas, dos papos de boteco, das corneteiras esquinas numa época de ânimos pra lá de exaltados.

De um lado a MINORIA lulopetista, aguerrida, mas absolutamente perdida na lama da trincheira, carente de autocrítica, na inglória luta de defender o indefensável. Defendem atacando. Defendem Lula atacando o magistrado Sérgio Moro, defendem Dilma atacando o Ministério Público, defendem o PT atacando o STF. Atacam dez e explicam zero.

Essa MINORIA barulhenta é composta por militantes de carteirinha, por assessores remunerados e, sim, também por simpatizantes ideológicos.

Aponta essa MINORIA uma fantasiosa conspiração golpista maquinada por 70% da opinião pública, pela mídia, pelo Judiciário, pelo MP e pelo conservadorismo —leia-se PSDB— que nunca engoliu a esquerda no poder. Injustamente, sob a míope ótica deles, o impoluto Partido dos Trabalhadores sofre um massacre oriundo de canhões diversos.

Num Estado Democrático de Direito é legítima a militância partidária. Mais do que isso: ela é saudável para as instituições. Só acho que no atual momento do Brasil ela peca por primar pela sobrevivência do seu aglomerado em detrimento do país.

Sobre a insensibilidade de autocrítica dos petistas, o genial cronista Antonio Prata, esquerdista histórico, lavrou domingo na Folha:

“(…) Outro dia um amigo veio me dizer que a autocrítica da esquerda era fundamental, mas que agora não era o momento. Acho que ele se equivoca não só eticamente como taticamente. Eticamente, é claro, pois não existe nenhum momento em que possamos compactuar com o crime, a burrice e a incompetência.
 E taticamente pois o silêncio da esquerda em relação aos crimes, burrices e incompetências durante o tempo em que o PT está no poder passa a ideia de que a esquerda compactua com a corrupção e o malfeito, de que a corrupção é um mal da esquerda, só da esquerda e que eliminar a esquerda, por meios legais ou ilegais, é o Emplasto Brás Cubas que sanará todos os males de nossa melancólica humanidade —é esse o pensamento que põe a classe média diante da Fiesp e o Bolsonaro nos ombros da multidão.(…)”

E voltando ao cotejo político acirrado bem definido nas comunidades virtuais.

Do outro lado, antagonizando ao vermelho messiânico, uma MAIORIA difusa no que se refere à coloração partidária, mas convicta e claríssima do alvo. Alvejam a corrupção, as tentativas descaradas de obstrução da Justiça, a promiscuidade entre o público e o privado, a desastrada gestão econômica do governo, a imobilidade administrativa, a ruína da Petrobras…

É do jogo que oportunistas e fanfarrões nada limpos —Aécio, Cunha, Calheiros etc— aproveitem a onda e posem de vestais, mas eles recebem o devido repúdio de um eleitorado majoritário que tem muito nítida a bandeira de valores que ele quer empunhar. E o estandarte é inequivocamente verde e amarelo.

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