Ouço desde a
época da Beloca pulando amarelinha que o Congresso não tem sensibilidade para
as demandas da população brasileira. Concordo. Esta falta de sintonia entre a
atuação parlamentar e os anseios do eleitorado é histórica.
Nada
cartesiano, consigo superar minhas limitações e contar que 71% dos deputados,
invocando Deus, os netos, a amante, os amigos, Jacutinga e a tia caridosa,
votaram pelo impeachment da presidente Dilma. O percentual é idêntico, talvez menor,
ao dos descontentes com o governo, segundo várias pesquisas de opinião.
Vai daí que,
numericamente sacramentado, é óbvio dizer que na importante votação do dia 17
os legisladores contrariaram a assertiva do primeiro parágrafo e representaram
com fidelidade o seu eleitorado. Se na forma jocosa esta representação
envergonhou-nos com paroquialismos e futilidades, na intenção o resultado
correspondeu ao eco das ruas. Ou não?
Abominável
seria se eles sucumbissem ao balcão fisiológico comandado por Lula e votassem
em massa no “não”. Se a traição a quem o elege é inerente ao DNA do
congressista, no domingo esta malfadada regra capitulou à exceção.
E por qual
divindade devemos agradecer por este “realinhamento moral” em bloco? Nossa
Senhora da Pressão Popular.
Outra
abordagem sobre o impeachment que ferveu na rede. Nas hostes do lulopetismo rola
uma demonização do processo na Câmara por este ser comandado pelo bandido maior
da República: Eduardo Cunha. Que ele é mesmo um larápio dos grandes, ninguém
duvida. Poucas vezes na cena política brasuca surgiu um malfeitor tão sagaz,
ganancioso e obstinado.
Não obstante a
cana longa que o cara merece, despersonalizemos a coisa e pensemos no
institucional. O rito obedecido desde o recebimento do pedido até a apoteose no
plenário seguiu todos os trâmites regimentais e, quando contestado pelos partidários
da presidente, foi referendado por sucessivas decisões do STF.
Logo, se o
curso dos procedimentos foi abençoado pela mais alta corte do país e a sentença
saiu pelo “sim” de viva voz de dois terços do colegiado, não há que se falar em
vícios na ação.
Um último
pitaco. A tortura é um crime contra a humanidade, indefensável. Ao proferir seu
voto com vivas a um torturador, Jair Bolsonaro escorregou da diarreia verbal
para o enlameado terreno dos que desrespeitam a dignidade humana e atentam
contra a Constituição. E o triste é que esta besta vocaliza as aspirações de
considerável parcela de brasileiros.
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