segunda-feira, 20 de abril de 2020

Medo


Indignado, revoltado, assustado, nem um pouco surpreso, mas sobretudo estou triste. Envergonhado também.

Quando mais precisamos de um líder para coordenar as forças da nação nas lutas contra a pandemia e contra o caos econômico, vemos um incendiário, novamente, botando pilha no seu séquito de fanáticos. Estes, cegos pelo extremismo e tomados por fetiches autoritários, só sabem berrar contra a Constituição, contra o ordenamento jurídico, contra o bom senso, contra a democracia e contra a vida de seus compatriotas. 

Vi imagens de São João e de alguns lugares do Brasil. Em Porto Alegre uma mulher vestida de vermelho foi covardemente agredida. Vi um povo raivoso, olhos esbugalhados, veias saltadas, histéricos, usando a bandeira do país na vil intenção de impor um patriotismo de conveniência e a volta da ditadura. Uma coisa impensada, pra mim, depois da redemocratização do país em 1985. De verdade: será que essa gente sabe o que é uma ditadura?

Em Brasília, o presidente, de novo, discursa, afronta e desafia para delírio de seus apoiadores que se reuniram numa manifestação pedindo intervenção militar, o fechamento do Congresso e do STF e a reedição do AI-5. O mandatário claramente endossou os clamores golpistas.

Mais uma vez o sono não vem. Mais uma vez sou compelido a escrever pelo bem de minha sanidade mental, e pela primeira vez sinto medo das consequências. Bolsonaro fora, dentro dos ritos legais, é uma decorrência da reação —ainda que tardia— das instituições. O que não vai ser legal, em todos os significados da palavra, será a revolta dos congregados da seita bolsonarista. Essa turba ensandecida, pregadora do nazifascismo, ainda que não saibam o que é isso, é apologista das armas e do uso da violência. Não vou negar: tenho medo.

Politicamente, Bolsonaro é um cadáver insepulto. Ele perdeu, hoje, o fio que sobrava de capacidade para presidir o país. Tem a seu lado, por enquanto, os filhos, alguns ministros, poucos militares, meia dúzia de políticos e milhões de seguidores. Destes, milhares estão dispostos a agir, sem perguntar, obedientes a qualquer comando do Capitão.

Sim, eu tenho medo!

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