Indignado, revoltado, assustado, nem um pouco surpreso, mas sobretudo estou triste. Envergonhado também.
Quando mais precisamos de um líder para coordenar as forças da nação nas lutas contra a pandemia e contra o caos econômico, vemos um incendiário, novamente, botando pilha no seu séquito de fanáticos. Estes, cegos pelo extremismo e tomados por fetiches autoritários, só sabem berrar contra a Constituição, contra o ordenamento jurídico, contra o bom senso, contra a democracia e contra a vida de seus compatriotas.
Vi imagens de São João e de alguns lugares do Brasil. Em Porto Alegre uma mulher vestida de vermelho foi covardemente agredida. Vi um povo raivoso, olhos esbugalhados, veias saltadas, histéricos, usando a bandeira do país na vil intenção de impor um patriotismo de conveniência e a volta da ditadura. Uma coisa impensada, pra mim, depois da redemocratização do país em 1985. De verdade: será que essa gente sabe o que é uma ditadura?
Em Brasília, o presidente, de novo, discursa, afronta e desafia para delírio de seus apoiadores que se reuniram numa manifestação pedindo intervenção militar, o fechamento do Congresso e do STF e a reedição do AI-5. O mandatário claramente endossou os clamores golpistas.
Mais uma vez o sono não vem. Mais uma vez sou compelido a escrever pelo bem de minha sanidade mental, e pela primeira vez sinto medo das consequências. Bolsonaro fora, dentro dos ritos legais, é uma decorrência da reação —ainda que tardia— das instituições. O que não vai ser legal, em todos os significados da palavra, será a revolta dos congregados da seita bolsonarista. Essa turba ensandecida, pregadora do nazifascismo, ainda que não saibam o que é isso, é apologista das armas e do uso da violência. Não vou negar: tenho medo.
Politicamente, Bolsonaro é um cadáver insepulto. Ele perdeu, hoje, o fio que sobrava de capacidade para presidir o país. Tem a seu lado, por enquanto, os filhos, alguns ministros, poucos militares, meia dúzia de políticos e milhões de seguidores. Destes, milhares estão dispostos a agir, sem perguntar, obedientes a qualquer comando do Capitão.
Sim, eu tenho medo!
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