terça-feira, 14 de abril de 2020

Seita

Um amigo, ex-colega de empresa, escritor e cozinheiro, tem um perfil bem alto astral no Facebook. Sua timeline é leve, permeada por crônicas, bom humor e delícias que saem do seu fogão. Por opção pessoal, ele não é muito de polemizar nem entrar em bolas divididas na seara política. Esse carisma, óbvio, levou ao seu perfil milhares de seguidores. 

Dia destes, assustado com a pandemia e escandalizado com as sucessivas afrontas ao isolamento social e às mais comezinhas regras de saúde pública perpetradas pelo genocida que nos governa, esse meu amigo quebrou seu protocolo de moderação e expôs sua indignação na rede social.

A maioria esmagadora que comentou no post, até alguns eleitores do Capitão Corona, foi de apoio à manifestação do meu amigo e repulsa absoluta ao personagem criticado. Pipocaram ali também testemunhos de voto-arrependimento. 

Os fanáticos da seita, como era de se esperar, também compareceram no post do meu amigo. Como era de se esperar, espernearam, amaldiçoaram a esquerdalha, o comunismo, a China, a Globo, o Doria, o complô mundial contra o Brasil. Elogios deles foram só para o Capitão que saúda simpatizantes com catarro na mão. Seguiram direitinho a cartilha escrita no gabinete do ódio, odiando o que era pra ser odiado, venerando o que era pra ser venerado e negando o que era pra ser negado. Um primor de irrealidade!

Falei em seita e acho que o termo mais correto é esse mesmo: SEITA. 

Nesse caldeirão medieval há todos os ingredientes de uma seita: ignorância, cegueira, negação de evidências científicas, ataques orquestrados a qualquer um que ameace a divindade do líder, obediência incondicional ao líder, desprezo a tudo e todos que não fazem parte da seita. Nada de racional e muito de extremismo.

É assombroso!

No caso em questão, o mal maior está no fato de que a, digamos, filosofia da seita não afeta só seus membros e seu líder, mas um país inteiro no meio de uma das maiores tragédias infecciosas da História.

O horror, o horror!

[PS: terminando o texto vejo um vídeo dos fanáticos dançando com um caixão em plena Av. Paulista no último fim de semana, zombando das medidas de saúde pública, dos profissionais que estão na linha de frente, zombando dos mortos pela doença e de seus familiares. Isso não é normal, por Deus!]



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