domingo, 1 de outubro de 2023

Is-sur-Tille

 

Depois do passeio e algumas garrafas de vinho na bela Dijon, a hospedagem seria de apenas uma noite em Is-sur-Tille, pequena cidade de pouco mais de quatro mil habitantes. Chegamos ao local do pouso bem tarde. Um pouco assustados ficamos com a ausência total de iluminação pública. Mais susto: os dormitórios da habitação nos pavimentos superiores só podiam ser acessados por estreitas, ruidosas e precárias escadas de madeira. Naquele lugarejo da Borgonha, luz e sinal de vida vinham de um único bar aberto. Eu e Jorge, carentes de água e Coca-Cola para atenuar os efeitos etílicos, fomos ao botequim. O dono, naquela altura despido da função empresarial, bebia alegremente no balcão acompanhado por um freguês. Estávamos todos um tanto altos. Tão altos que o dialeto universal dos botecos nos fez descobrir que o proprietário era um marroquino e que o freguês estava indignado com a ida de Neymar para a Arábia Saudita. Cogitei introduzir naquela prosa surreal perguntas sobre formas de preparo do boeuf bourguignon. A sobriedade que me restava foi suficiente para não colocar em pauta um assunto tão saborosamente denso. Era quase meia-noite, eu e Jorge tomamos o rumo de volta com nossas vozes ecoando naquela ruela escura e deserta daquela pacata aldeia francesa.


Fachada da nossa hospedagem em Is-sur-Tille

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