domingo, 4 de fevereiro de 2024

Molejo sueco

 

“Senhor, no preço do ingresso está incluído o abadá.” 

Na minha absoluta ignorância carnavalesca, pensei que o tal abadá fosse algo como uma túnica tribal de algum povo da África, um traje feito com tecido leve, confortável, pra gente se jogar na folia momesca. Nada disso! O famigerado abadá era uma camiseta de fibra sintética cujo tamanho é o da opressão. É óbvio que escolhi o abadá G, que, na real, não passa de uma peça M no limite do P+. 


Como não fui agraciado com o corpo de um deus grego, nem faço esforço pra tal, tive que recorrer à Santa Dina da Tereziano Valim. A artista da costura customizou minha vestimenta para adequá-la a meu generoso diâmetro. Ganhei, com a ampliação do abadá, laterais e axilas arejadas proporcionadas por um pano cheio de furinhos. Dina chegou a aventar a possibilidade de tirar as mangas da coisa, deixá-la cavada, ao gosto dos saradões. Melhor não, há que se preservar um mínimo de dignidade. 


Dignidade, diga-se, mantida até certa hora. O open bar e a companhia de amigos jogou este cronista da MPB e do jazz à pista do samba carioca e dos baianos do axé. Arrisquei coreografias com meu molejo sueco, abusei daqueles infames rodopios com os indicadores em riste, até fingi (mal) que sabia cantar todas as músicas. Minha performance seria melhor se “Mamõe Eu Quero…” e “A Cabeleira do Zezé” estivessem no repertório. A “Pipa do Vovô” não sobe para as gerações do “Bonde do Tigrão”. 


Vale registrar que a festa foi bem organizada. A equipe de bombeiros estava de prontidão para qualquer eventualidade. No entanto, o batalhão não estava preparado para salvar os presentes da visão de um sujeito descoordenado pagando micos sem intervalos.


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