segunda-feira, 7 de abril de 2014

Pílulas de viagem

Cidade-Luz

paris

O Sena, a torre, os queijos, o vinho, o Louvre, o metrô, a baguete...

As infinitas alamedas arborizadas, as pontes clássicas, as luminárias de ferro, os cafés cheios de charme, os prédios nunca exageradamente espichados, a Torre Eiffel iluminada ou não, os museus indescritíveis e os monumentos mais conhecidos do mundo, os crepes de chocolate na rua... Paris respeita seu passado, mas não abdica da constante renovação, de forma ponderada, prudente, associada sempre a um inimitável bom senso: elegância. Essa elegância, sofisticada sem ser arrogante, magnetiza qualquer visitante, em qualquer esquina da cidade, em qualquer época do ano.

Underground

metro

Nas inúmeras viagens que fizemos no fantástico metrô parisiense, eram raros os vagões que não tinham artistas de rua, cantores, se apresentando. Imigrantes na sua maioria.

Toda sorte de world-music nos repertórios. Roupas e instrumentos puídos, mas muita, muitíssima energia, nas performances.

Os aplausos ante as exibições eram raríssimos e o semblante indiferente, quando não de incômodo, dos passageiros imperava nos trens.

Apesar desse sentimento de rejeição, da acústica pouco adequada, do vai-e-vem extenuante entre as estações e dos míseros euros arrecadados em prosaicos copinhos, os cantantes mantém a altivez e soltam a voz com alma, dignificando a arte que, num ambiente hostil, leva o sustento a suas proles e alimenta o sonho remoto de, quem sabe, um dia retornar ao torrão natal.

Veneza

veneza

Patrimônio da humanidade, berço de seis Papas, de Tintoretto, de Vivaldi...

Foi uma pujante locomotiva comercial do planeta a partir do décimo século e, segundo alguns historiadores, foi também a primeira capital econômica do capitalismo. Hoje, graças!, vivas!, salve!, os encantos são menos monetários e mais históricos.

Desembarcar em Veneza pela primeira vez é de arrepiar. O pranto é certo até para o mais casca-dura dos viventes. As expectativas criadas em torno da cidade viram sombras diante dos espetáculos de desenhos, cores e luzes que se espalham ao longo dos canais que costuram a inusitada malha urbana. Zanzando sem rumo pelas vielas ou navegando nas gôndolas, é impossível passar sessenta segundos sem que esbarremos em novas e singulares atrações.

Veneza acolhe, ensina, inspira e emociona!

Grazie, Dio, grazie!

napoli

No penúltimo dia na Bota, a incrível Pompeia sob a sombra do finado(?) Vesúvio.

No trajeto de Roma, o pit-stop em Napoli é necessário para embarcar em outro trem. E Napoli traz redondos instintos.

Sigo indicações de blogueiros e críticos gastronômicos e, após dez minutos de caminhada da estação Centrale, entro na Trianon, uma pizzaria de 1923, bem defronte a famosa Da Michele. Esta última, conhecidíssima pelas pizzas e por servir de cenário para um filme da Julia Roberts —Comer, Rezar e Amar—, fecha aos domingos.

Voltemos à Trianon: poucas mesas, ambiente espartano e uma brigada de donos, garçons e pizzaiolos carismáticos. A escolha tem que ser ortodoxa. Dois discos, um pouco menores que as nossas pizzas grandes —é assim que os italianos pedem, individuais—, uma margherita tradicional e outra também margherita, com mozzarella de búfala.

Massa crocante por fora, macia por dentro, nem muito fina, tampouco alta. O molho, generoso sem ser demasiado, pouco ácido, não encharca a massa. O queijo, na quantidade perfeita pra você não sentir falta nem reclamar do excesso que desequilibra o conjunto. PRIMOROSA! SENSACIONAL! EMOCIONANTE!

A tarde andejando nas ruínas de Pompeia abre o apetite antes do retorno a Roma. E eu não voltaria pra capital italiana num domingo à noite sem outra napolitaníssima esfera. Resolvemos variar de casa. Mico, armadilha, pega-turista, uma arapuca chamada Le Sorelle Bandiera.

Atrasado para embarcar e revoltado com o engodo, esbaforido, parei de novo na Trianon e pedi uma take-away.

Enfim, um domingo inesquecível neste naco de chão abençoado e sofrido que é o sul da Itália, na mítica Pompeia, e em Napoli com uma overdose do maior legado dos napolitanos a este maltratado planeta: a PIZZA.

Grazie, Dio, grazie!