quinta-feira, 28 de dezembro de 2023

Zé do Carlito

Zé Renato, Daniela e Carlito, pai do Zé (1979)

 Mais um pequeno comércio que não resistiu ao trator da economia moderna, ou melhor, resistiu sim. Perdurou por mais de duas décadas neste século já totalmente dominado pelas redes supermercadistas.

José Carlos Ricci Valla está no ramo desde 1963, quando o pai Carlos, o Carlito, abriu o Empório Valla. Aos dezesseis anos ele foi ajudar o genitor na lida e nunca mais saiu da atividade que a crônica de antanho chamava de secos e molhados. Vai daí que Zé Carlos, rebento do Carlito, entrou para as enciclopédias como Zé do Carlito.

Zé do Carlito é daqueles que prosperaram trabalhando duro naqueles armazéns icônicos do interior brasileiro. Aqueles empórios que vendiam literalmente tudo. Aqueles estabelecimentos em que o fiado era regra. Aquelas mercearias que ostentavam varais de linguiça curando; curado também era o queijo caipira. Aquelas vendas que ofertavam gaiolas, penicos, ratoeiras, rolos de fumo, panelas, enxadas, botinas, peneiras e toda sorte de alimentos básicos comercializados a granel.

Zé do Carlito é daquela velha guarda de comerciantes que serviam colonos e meeiros das remotas localidades rurais. Zé do Carlito abarrotava o Jeep do pai com as compras do mês dos homens do campo e saía rasgando as montanhas platino-pratenses para fazer as entregas dos mantimentos essenciais às roças do passado.

Nesta última quinta-feira de 2023, fui testemunha do definitivo baixar de portas do lendário bazar. As prateleiras desfalcadas simbolizando o fim de uma era. Fregueses antigos se despedindo. Os filhos, Daniela e Zé Renato, que cresceram no histórico balcão foram dar o abraço de admiração e agradecimento.

Missão cumprida aos sessenta anos de labuta, Zé do Carlito, 76, escreveu sua honrada trajetória com lápis de ponta grossa naqueles pardos papeis de embrulho. Memórias de uma saudosa Águas da Prata que não existe mais. Vida que segue, história que fica!

Zé Renato, Zé do Carlito e Daniela (28/12/2023)


quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

O delivery (quase) venceu


O delivery venceu, não há mais consumo no local, mas o guloso forasteiro resiste. Fregueses que não moram na aldeia montanhosa têm que comer no carro, na rua, na praça. Então…


A porta de ferro cerrada do velho comércio serve de encosto ao cansado homem que se aboleta no degrau estreito. Luzes natalinas piscam distantes da rua deserta, o cheiro de bacon na chapa perfuma os arredores, o sujeito devora o inigualável hambúrguer como se fosse sua última refeição. No veículo, a esposa se alimenta reservadamente enquanto olha triste para aquele Neandertal faminto.


A cena acima descrita tem como personagem este desajeitado escriba e como cenário uma noite de dezembro de 2023 numa parte alta e menos movimentada da rua Assis Figueiredo em Poços de Caldas.


Nalgum dia do passado recente, o amigo poços-caldense Gustavo Basso indicou a placa Dona Dulce como o melhor hambúrguer do planeta. Devoto burgueiro que sou, tive fé na palavra dele e subi a serra para “rezar”. Cheguei ao pequeno templo que não comportava mais do que seis fiéis comensais. Do pequeno balcão via-se a magnética a imagem do robusto chapeiro manipulando a espátula com religiosa destreza. Habilidade também sobrava na montagem dos hambúrgueres no pão brioche do enxuto cardápio da casa. Comi, rezei e amei! Sim, que descoberta!, o Santo Graal dos hambúrgueres existe e fica na cratera do vulcão mineiro.


O parrudo burgerman mencionado no parágrafo acima é Felipe Cobra, 41 anos. Empacotador aos 14 no Supermercado San Michel, o gosto pela informática fez Felipão trabalhar em várias lan houses de Poços. Estávamos no período paleolítico que precedeu os smartphones.


De bom churrasqueiro de festas a empresário de um restaurante falido, a vida seguiu e fez das suas. A grana para recomeçar era minguada, mas o talento gastronômico era grande. Uma modesta hamburgueria dava para abrir com os trocados. A guerreira avó Dulce foi inspiração para, em agosto de 2014, nascer a Dona Dulce Classic Burger.


Sobre os poucos itens da carta, Felipão evangeliza e tem a minha benção: “Menos é mais, o simples me encanta, minha proposta é hambúrgueres sem firulas, é servir o clássico com qualidade.” Amém, Felipão!


Até janeiro de 2023, o espaço recebia (poucos) glutões in loco. Desde então, banquetas e o pequeno tampo foram abolidos proporcionando a recorrência de quadros primitivos como o narrado no início desta crônica. Não desistir da peregrinação à Dona Dulce, ainda que desconfortável, é acreditar no poder de suas crenças. Creia, nenhum delivery é capaz de derrotar você!


🍔🍔🍔

Dona Dulce Classic Burger

Rua Assis Figueiredo, 407

Poços de Caldas, MG

Só delivery ou retirada no local
De terça a domingo, a partir das 18h

35 3721-7921


Felipe Cobra, o burgerman

terça-feira, 12 de dezembro de 2023

Borelli, a pizza que virou gelato

 

Apaixonado por gastronomia, o ribeirão-pretano Eduardo Borelli viajou à Itália em 2012 com a intenção de buscar conhecimento sobre pizza napolitana. A ideia era pesquisar para abrir um negócio no Brasil. O gelato italiano, totalmente diferente do produto vendido à época nas sorveterias brasileiras, o arrebatou nas ruas de Bologna. A coisa foi tão forte que ele girou a chave e retornou para inaugurar em 2013, na Ribeirão Preto natal, o primeiro balcão da Gelato Borelli. Uma loja, duas, três, oito, quinze lojas. A rede prosperou e virou franquia, hoje com mais de duzentos pontos de venda em vinte e três estados mais o Distrito Federal. 


Deu certo por quê? Deu certo porque o gelato é fabricado em cada unidade seguindo rigorosamente os preceitos artesanais da marca, que é oferecer um item de alma italiana, feito com frutas e insumos frescos, livre de aditivos químicos e conservantes. 


Minha experiência: rodei um bocado por aí e acho que manjo um pouco do vero gelato artigianale. Provei em Poços de Caldas e Mogi Guaçu mais de meia dúzia de sabores Borelli. Nenhum mediano, todos excepcionais e homogêneos na cremosidade, dulçor e paladar. Minha fraqueza é o de pistache, meu parâmetro é o de pistache, minha chama é o de pistache. Diria um tal Lauro Borges sobre o pistacchio Borelli: “eu viveria disso!”. 


🍦 🍨 🍦 🍨 

Gelato Borelli Poços

Rua Rio de Janeiro, 13

Poços de Caldas, MG



quinta-feira, 7 de dezembro de 2023

Gelato Borelli - Poços


 Forjado no seio de uma família que fez história no comércio de roupas, num primeiro momento da vida de trabalho ele até seguiu pela trilha conhecida. E deu certo, muito certo! Até hoje ele se mantém no ramo original com vinte pontos de venda, treze da bandeira Hering, três Loungerie, três Lez a Lez e uma Love Brands.

Mas o prazeroso, doce e cremoso fascínio do gelato italiano o fisgou. Poços, a quarta loja do grupo Tribo Foods da franquia Gelato Borelli, abriu ontem. Em grande estilo, com um movimento gigantesco, bem além da expectativa.

Numa parceria com um velho amigo, Fabinho Vaz de Lima, é dele que estamos falando, já opera com quatro unidades (Mogi Guaçu, Taubaté, São José dos Campos e Poços) deste fantástico gelato italiano. Nos próximos dias, mais três portas serão abertas em Belo Horizonte.

Associado à irmã Marina, Fabinho, dotado de um inequívoco faro empresarial, honra o legado comercial do pai e vai construindo uma consistente e bem-sucedida trajetória de empreendedorismo.

🍦 🍨 🍦 🍨 

Gelato Borelli - Poços

Rua Rio de Janeiro, 13

Poços de Caldas, MG

quarta-feira, 6 de dezembro de 2023

Kasa Sushi

 

O empreendedor Frê

Dez anos atrás, por aí, Frê (Frederico Mauro no RG) rodava a região explorando opções de rango japa. A estrada se justificava pelos então limitados hashis nesta província crepuscular. A vontade de empreender na terrinha latejava, também era forte o impulso de sair de São Paulo, onde ele trabalhava à época. A mencionada carência gastro-nipônica em São João incomodava. Toda essa mistura de estímulos fez nascer no findar de 2015 o Kasa Sushi. Noventa e seis meses voaram desde a abertura naquele dezembro da década passada. Frê, muito orgulhoso e nada arrogante, fincou entre a Dona Gertrudes e a Ademar de Barros o hoje mais longevo restaurante japonês da cidade. Resistência no comércio, diga-se, decorre de qualidade, padrão e atendimento. Leves trinta e quatro primaveras nas costas, Frê não senta no que conquistou. A cabeça inquieta fervilha para melhorar e inovar. Dos seus incontáveis projetos ele só desistiu de um: despertar nos italianíssimos Expedito e Alfredo, pai e avô, o gosto por sashimis e niguiris. 


🇯🇵 🍣 🥢 

Kasa Sushi

Rua General Osório, 142

São João da Boa Vista, SP

De terça a domingo, a partir das 18h

Delivery e reservas: 19 3631-1027