sexta-feira, 19 de julho de 2013

Sobre asas e cafezais

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Como muitos pinhalenses, ele nasceu e foi criado nas lavouras de café. O mato, os bichos, as pastagens e a rusticidade da vida rural sempre o arrebataram. Só no ginásio o meio urbano veio como habitat do adolescente Plínio Marcelo Florence Fernandes.

E veio também junto uma vontade de estudar na cidade grande. E lá foi ele do solo cafeeiro da provinciana Pinhalópolis para o piso asfáltico da Paulicéia despudorada e cheia de portas abertas. O jovem escolheu Administração de Empresas e foi morar numa modesta república nas imediações da Consolação.

1971 marcou esse início de vida universitária e, sem demora, também foi o ano do primeiro carimbo na sua carteira de trabalho. A Varig foi a empregadora e o então glamouroso Aeroporto de Congonhas era o local de trabalho. Na função de recepcionista —ou despachante de voo— Plínio labutou por pouco mais de doze meses. Carismático e curioso, foi promovido ao setor de vendas. Responsável pelo interior de São Paulo, ele conheceu muita gente e todas as regiões do estado mais rico do país.

Em razão de circunstâncias familiares deixou a capital em 1976 para socorrer um parente. Na urbe bandeirante de Lençóis Paulista, Plínio ajudou a reerguer a propriedade do tio Cory Porto Fernandes, à época dizimada por uma geada que queimou milhares de pés de café. E o fez única e exclusivamente pela solidariedade afetiva e sanguínea, pois nada embolsou pela dura faina. Missão cumprida com bravura em três longos anos.

A metrópole das oportunidades o chamou de novo e o bom filho a casa voltou em 1979. Varig, Varig, Varig... Mais calejado, foi recolocado na superintendência nacional de vendas daquela que era uma das melhores companhias aéreas do planeta. Explorou profundamente todas as unidades da federação. E viajou, também, para a totalidade dos destinos internacionais atendidos pela empresa. Idealizou e implantou a rota São Paulo-Cancun. Este último, nos anos 80, era um balneário desconhecido dos sul-americanos.

De olho no promissor mercado brasileiro, a United Airlines aterrissou por aqui em 1992 e, três anos depois, contratava o executivo pinhalense para comandar a operação comercial da empresa no país. Sobre a entrevista em Chicago que selou sua admissão, Plinio conta às gargalhadas:

“Como meu inglês era limitado, não muito fluente, falei pouco e dei respostas curtas e diretas. O recrutador elogiou minha ‘objetividade’ pouco latina. Mal sabia ele que essa ‘objetividade’ era pra maquiar meu restrito domínio do idioma”.

A cada quinze dias ele se reunia com a cúpula da corporação em alguma das mais de 600 cidades servidas pela companhia no mundo. O labor pesado tinha como recompensa as viagens, quase sempre na mordomia da primeira classe, ao redor do globo.

Uma das principais marcas da sua gestão na United do Brasil foi o pioneirismo em vender passagens internacionais em 10 parcelas sem juros. Estratégia que foi um estrondoso sucesso. Os brasucas começavam a descobrir Nova York e Miami em suaves prestações.

Da experiência na empresa americana, o nativo de PinhalCity relembra:

“Aprendi com eles a importância do planejamento, da disciplina financeira e que o futuro estava no uso intenso dos recursos de informática”.

A morte do pai em 2004 foi um baque e um motivo para retornar às raízes da Fazenda Santa Agueda. E voltou com propósitos claros: reestruturar e modernizar a cultura do fruto da rubiácea. Já na quarta geração dos Fernandes cafeicultores, Plínio queria mais, muito mais que simplesmente vender o grão verde. Estudou muito, calçou as botinas e foi à briga.

Por um breve período entre 2007 e 2009, uma proposta financeira irrecusável o lançou de novo aos ares. Dirigiu comercialmente a Ocean Air/Avianca no Brasil. O programa de fidelidade Amigo foi mais um dos vanguardistas legados dele para o segmento do transporte aéreo de passageiros.

O magnetismo da aviação perdera definitivamente a graça. E a graça —leia-se desafio— estava nas terras da infância, nas bordas SP-Minas, na Espírito Santo do Pinhal de tantas lembranças. O voo mais alto estaria no torrão natal.

Já conhecedor do meio e da dificuldade em manter os cafezais, o neo-empreendedor sabia que agregar valor era questão de sobrevivência. Plantar era pouco. Ele queria o domínio completo da cadeia do produto. Plantar, torrar, moer e empacotar um café de qualidade superior. O lucro seria a natural e necessária decorrência do negócio.

Produzidos de forma quase artesanal, e somente processados após o pedido do cliente, o que garante sempre uma bebida fresquíssima à mesa, os rótulos “Aí” e “A2” são reconhecidamente cafés gourmet na avaliação de baristas e experts do ramo. A seriedade na condução da torrefação propiciou uma carteira —em expansão— de exigentes compradores corporativos do eixo Campinas-SP.

Dono de uma bagagem profissional e pessoal admirável, Plínio, 60, diz que a vida foi generosa com ele. O entusiasmo e a gratidão estão no seu DNA:

“Ainda tenho muita lenha pra queimar, ainda almejo novos céus para triunfar. A prosperidade precisa de dinheiro, mas hoje o que me move está muito além dos cifrões. Quero, e como quero, enaltecer ainda mais o café de Pinhal e região, reconhecidamente o melhor do Brasil”.

http://www.cafea2.com.br/novo/