quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Por bosta!

Há tempos, viajando com uma colega de trabalho, conversávamos sobre algumas peculiaridades crepusculares. Ela disse, entre umas e outras beloquices triviais, que o irmão quando universitário em São Carlos foi apelidado com a expressão que intitula este texto. 

O mano da Tininha abusava do bordão para enfatizar suas teses: “cara, a prova foi difícil por bosta!”; “ontem, na festa, fiquei travado, bebi por bosta!”; “aquele professor é chato por bosta!”.

Depois da história da alcunha inusitada, fiquei com bosta na cabeça. Em amplas consultas nada científicas, com nativos e estrangeiros, me dei conta da origem macaúbica do “por bosta!”. Pensei em pedir auxílio a alguns colegas historiadores da Academia. Melhor não. O Falconi, o Lorette e o professor João Scannapieco têm resgates históricos bem mais importantes que o excremento verbal que permeia a cachola deste escriba.

O confrade Wildes Bruscato, compadecido pela enfezada pesquisa deste blogueiro, revelou sem maiores detalhes o autor do carimbo fecal: Neno Quessa.

E aí Neno, é verdade que você pariu mais essa? Meio irritado por ser despertado da sesta, ele contou que o “por bosta” deve ter sido cunhado pela primeira vez nos idos da década de 50. Neno nega a paternidade do advérbio de intensidade, mas assume a propagação radiofônica dele. Em meados dos anos 60, Compadre Fica-Fica acordava a audiência da Piratininga com o programa “Amanhecer na Roça”. Na época, quando um resfriado o impediu de empunhar o microfone, ele mandou o rebento Neno para apresentar a atração. No dia, as Casas Pernambucanas, patrocinadora, liquidava tecidos e retalhos. Depois de ler o script da propaganda, Neno arrematou com um caco antológico: “Comprem nas Pernambucanas, é barato por bosta!”.

Foi um bafafá. Alguns ouvintes indignados, Neno foi repreendido pela direção da emissora e o Dentel ameaçou suspender a programação por três dias. Se uns poucos se sentiram ofendidos, a maioria adorou ver a voz das esquinas nas ondas da Piratininga. Até então, o “por bosta” era mais popular nas bocas da plebe rude. Depois, e até hoje, o crepuscular, de qualquer classe, da gema ou por adoção, enche a boca pra falar da sua província: “São João, ô cidade boa por bosta!”

Em tempo: Esse Google é bão por bosta! Botei a expressão no buscador e olha aí no que deu: clique aqui e leia o rebosteio

18 comentários:

Mauro Celso Valim Silva Jr. disse...

Caro Lauro,
Morei por 01 ano em Primavera do Leste-MT e por 08 anos em Campinas e em ambos os lugares mencionei o " por bosta ", em ambos fui questionado por meus interlocutores do que se tratava e como resposta disse se tratar de uma expressão puramente sanjoanense.
Portanto, me junto aos que defendem a tese dessa pérola ter sido criada por aqui mesmo...percebeu como enchemos a boca para falar " por bosta "...é lindo...abs e um ano de 2010 de muita saúde e realizaçãoes para vc e seus familiares.

abs

Mauro Valim ( Ju )

Ricardo Caminhão disse...

Legal POR BOSTA

Wildes Bruscato disse...

Confrade-primo, primo-confrade, seja feliz! Posso auxiliá-lo, sim. Consta na boca miúda do sanjoanense, que o criador da expressão é o Neno Quessa, filho do saudoso Animador de Programas de Rádio, "Fica-fica". Pretendendo saber mais a respeito do dito cujo, busque informações com o João engraxate, com banca sita (não é causídico, mas também tem banca) na Praça Cel. Joaquim José aí na terrinha, apodado de Cachaço. Aliás, o Neno é assíduo frequentador dessa banca e, em o encontrando, haverá de saborear inusitados e, quiçá, hilariantes comentários acerca da invensão do triplo vocábulo. Um abração.

Marcelo Pirajá Sguassábia disse...

Ainda que tenha seu epicentro em esfíncteres macaúbicos, a bem da verdade o vocábulo coliforme teve difusão interurbana, uma vez que entre os anos 70 e 80 era tb mencionado em plagas pirassununguenses, lemenses e ararenses. É sério.
Sua pesquisa etimológica me lembrou outra expressão, a princípio tb típica daí: "VORTA!", espécie de exclamação mais disseminada na zona rural, que tem o sentido de "duvido", "não acredito", "cê tá brincando", etc. Mas isso talvez seja assunto pra outro texto, bom por bosta como este.
Abraços centro-recreatívicos.

Ronaldo disse...

Parabéns Lauro, esse post ficou bão por bosta!

Neusinha Pavarotti disse...

É isso aí Laurinhao Macaúbico! Ainda bem que temos a memória do Wildes para lembrar de onde surgiu tamanha beleza! Vc tanto fez que conseguiu escreveu uma crônica boa por bosta. Agora é a vez de recordarmos o "Vorta" ou "Vorta Cueio", conforme lembrou bem o Marcelo, lá dos idos dos anos 70, eu creio!

Anônimo disse...

Muito bom.........
Alias ficou BOM POR BOSTA!!!!!!!!!!
E pouco bom usar o termo BOM POR BOSTA!
E um dos meus favoritos!!!!

Rangel Quessa disse...

Lauro, respondendo tardiamente por estar viajando.
Não sabia de mais essa do meu Pai, pelo que sei, uma vez ele disse na radio que nas Pernambucanas os preços são " barato por bosta" ao vivo na radio..rs
Mas que ele é o legitimo inventor de as " cabeçeiras" referindo a algo bom, bonito, isso sim eu tenho certeza absoluta.
Tinha até o Programa as " cabeçeiras sertanejas"..rs
abração Lauro.

Paula Castelli disse...

Muito bom ou melhor Bom Por Bosta!!!

Ana Lúcia Finazzi disse...

Olá escriba
Acho que seria a mesma origem de "pra dedéu".
abraço e um ano de muitas bênçãos de Deus. Bênçãos pra dedéu!
Ana Lucia

Sônia Zerbetto disse...

Muito bom, Lauro, aliás, bão por bosta !!!!!

Anônimo disse...

Aqui em Pinhal dizem que quem é pinhalense fala bom por bosta, tem até uma comunidade no orkut...interiores... é bom por bosta!

Paulo Roberto Falavigna Nogueira disse...

Que apelido Bão por Bosta , hein ??
Rsssss
Abs,
Paulo.

m disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Lauro Augusto Bittencourt Borges disse...

Marcos, obrigado pela visita ao blog e pela observação crítica quanto ao meu estilo.
abraço

Penélope disse...

Queridos conterrâneos, que saudades de poder dizer,de boca cheia,a vida é boa por bosta!Mas se ouso dizê-lo por aqui,nem meu filho me entende.
Lauro,adorei o Blog e vou visitá-lo sempre para "saojoanear".
Meu coração "crepusculeia" de saudades da terrinha e aqui sinto-me
entre meus pares. Parabéns pelos textos e pela linda idéia.
abraços

Marcelo Pirajá Sguassábia disse...

Relendo e recomentando: bom por bosta!

Unknown disse...

Trabalhando em um hotel, em São João da Boa Vista, hospedou-se uma atriz paulistana que ficou abismada com a expressão de uma camareira que disse sozinha: Tá friu por bósta!...A atriz olhou para mim de olhos esbugálhados: que linguajar mais pobre!...demorou algúns minutos seu produtor perguntou: Como foi a peça.....MÉRDA....

SALVE MACAUBISTICO CONFRADE!!!