domingo, 17 de outubro de 2010

Plínio, o socialista

plinio de arruda sampaio

Plínio Soares de Arruda Sampaio, 80 anos, foi o diferente no pleito presidencial de 2010. Defensor de um projeto político controverso, sarcástico, corajoso, Plínio cutucou os oponentes (“são todos iguais, eu sou a diferença”), bateu na Globo dentro da própria Globo e, com provocações inteligentes, jogou água quente na mesmice dos primeiros debates televisivos.

Nas suas espetadas, o ex-petista (“saí do PT por causa da política entreguista e submissa do Lula”) e candidato do PSOL atacou até a verde Marina Silva: “É uma ecocapitalista. Não há como proteger o meio ambiente sem atacar o lucro”.

Adepto das redes sociais, soube usar bem o Twitter e ganhou uma legião de fãs entre a juventude internética.

Casado com a sanjoanense Marietta Ribeiro de Azevedo Sampaio, Plínio, que já viveu exilado no Chile e EUA, vem sempre aos Crepúsculos para se desligar da faina política. Repousa com a família num agradável sítio nos arredores desta Sanja.

Um tanto ausente das reuniões, diga-se, é imortal da Academia de Letras de São João da Boa Vista. Aproveita o contato com o blogueiro e confrade para se justificar: “Quando me convidaram, mencionei a dificuldade que tenho para estar presente nas reuniões. Mas sempre que posso, vou. Minha mensagem aos confrades e confreiras: tenho clara consciência do que representa uma Academia como a nossa para o desenvolvimento cultural da sociedade sanjoanense. Tenho orgulho de participar dela”.

Noite destas, surfando na rede, sapequei algumas perguntas para publicação neste blog. Passava de meia-noite e, talvez cansado das dezenas de twittadas, Plínio foi conciso no pingue-pongue que segue:

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Por que defender o voto nulo no segundo turno?

Porque estou convencido de que nenhum dos dois [Serra e Dilma] resolverá os problemas do povo e é importante deixar claro que melhorar não é resolver. Sem essa consciência, a massa trabalhadora jamais se levantará contra a burguesia.

O programa de governo da petista Dilma Rousseff tem alguma proximidade ideológica com o do PSOL?

Não. Nada. É um programa capitalista e o nosso programa é socialista.

Sair do PT foi muito doloroso para o senhor? Houve algum fato isolado, e grave, que precipitou a sua saída do partido?

Foi muito doloroso pela importância que dou ao PT, o primeiro partido político do Brasil formado por pessoas do povo que conseguiu penetração nacional. O fato básico que precipitou a minha saída foi a política entreguista e submissa do Lula.

A História mostra que os regimes socialistas acabam se transformando em ditaduras. Como o senhor, um notório defensor dos valores democráticos, explica isso?

É verdade. A degenerescência se deve a dois fatores: pressão do mundo capitalista, de um lado, visão equivocada do socialismo, de outro. Pretendemos trabalhar este segundo aspecto. Meu socialismo não abre mão da democracia.

Há algo de bom no governo de Hugo Chávez que poderíamos usar no Brasil?

Hugo Chávez está procurando organizar o povo pela base. Só isto bastaria para justificar nosso apoio ao seu governo.

Fale-nos um pouco sobre as referências de São João na sua vida?

Bom, para não ir mais longe: São João é a terra da Marietta. Precisa algo mais?

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Donagertrúdico e Guiomarnovático

Marcelo Sguassábia

No retrato, o cronista refestelado depois de fartas porções de chantilly com batata pringles

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Nascido no Reino da Beloca, deixou de beber a água do Jaguari aos 4 anos. O desterro precoce não matou o seu amor pelos Crepúsculos. Ao contrário.

Caminhando para meio século de vida, Marcelo Pirajá Sguassábia ganha o pão desde os 22 como um premiado redator publicitário. Ele é bom!

Escreve na labuta e escreve no recreio. Desde 2005, fora da faina, ele produz jóias literárias semanais que são publicadas em três jornais (Sanja o lê na Gazeta de São João) e em diversos sítios internéticos. Ele é muito bom!

Sobre o vezo das suas linhas, o escritor mostra resignação com a pena flutuante:

“Minhas lavras oscilam entre o conto e a crônica, sem estilo definido, e já me conformei com o fato de que é neste limbo que elas irão ficar”.

Incertos no enquadramento, ora líricos, ora cheios de humor, ora numa mistura prazerosa de poesia e sátira, os textos do Marcelo são precisos em agradar os leitores. Se seus escritos variam na classificação literária, eles são pétreos na qualidade. O macaúbico letrado espanta pela regularidade. Ele é fora de série!

Bom, muito bom, fora de série, genial!!!! Lavrador onírico, beatlemaníaco empedernido, pianista diletante e viajante no tempo, Marcelo Pirajá Sguassábia, 46 anos, depois de inúmeras e estafantes tratativas (embora não verdadeiro, o tempero da dificuldade valoriza o colóquio perguntativo), sucumbiu ao pedido do blogueiro e respondeu o revelador questionário que segue.

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Da sua infância na província crepuscular, tem alguma lembrança marcante?

Muitas. As férias na chácara da minha avó Chiquinha, na estrada São João–Pinhal, a casa do velho Pirajá na Tereziano Vallim, as matinês de Carnaval no Recreativo, meu avô Miguel Sguassábia, o antigo Bar Teatro, o quintal e a sala do piano no casarão da minha tia Mariquinha, os primos todos, a fazenda do Matão... a lista é grande.

Descobriu quando o gosto pelas letras? Quem elogiou as suas primeiras lavras?

À minha relação com a palavra eu não atribuiria nem gosto nem facilidade. Há coisas que gosto mais de fazer e escrever nunca é fácil, por mais que se ganhe prática. Digamos que, desde pequeno, o que botava no papel se sobressaía da média. Acho que quem primeiro me incentivou a escrever foi a professora que me alfabetizou, Dona Jamile Pereira.

Como é o seu processo de criação dos textos? Como você escolhe o mote, quase sempre inusitado, para suas deliciosas “viagens maionésicas”?

Depende muito. Às vezes o mote surge e vai sendo trabalhado aos poucos, por uns 3 ou 4 dias. Outras vezes a ideia inicial vira outra coisa completamente diversa. Habitualmente inicio meus textos pelo meio ou pelo fim, quase nunca pelo começo. Invejo aqueles que escrevem dentro de um encadeamento lógico e fluente –obedecendo a sequência introdução/desenvolvimento/conclusão. Meu processo é meio caótico e fragmentado, aos poucos vou juntando as partes para tornar o conjunto coeso.

Por que ainda não sucumbiu ao livro para publicar uma coletânea das suas crônicas?

Porque sem dúvida sucumbiria à tentação de reescrevê-lo, tão logo publicado.

Pergunte ao Mestre Duña, e exija sinceridade, como ele definiria Marcelo Pirajá Sguassábia.

No mais das vezes, é um sujeito que faz ouvidos moucos aos meus enunciados, máximas, teoremas e profecias, não obstante as advertências que reiteradamente lhe faço ao longo dos anos – especialmente quanto ao funesto hábito de caminhar colocando alternadamente um pé à frente do outro.

Um sujeito altamente mais ou menos e paradoxal por excelência, fanfarrão e ensimesmado, Pagúlico e avesso a pândegas e galhofas. Um bipolar de nascença, mormente no que tange a atributos mantiqueiros. Tereziânico do pescoço para cima, porém Vallímico da canela para baixo. Ao mesmo tempo em que é Orídico nos olhos, é estranhamente Fontélico nas pálpebras. Embora baurúnico às terças, é Belóquido às quintas – o que contraria frontalmente as mais elementares leis da física. No afã de tornar-se Perpétuo, não hesita em pedir Socorro.

Donagertrúdico nas preferências gastronômicas pouco ortodoxas, Guiomarnovático aos domingos, nos dias santos de guarda e no interim entre uma coisa e outra. Joaquinjosélico em suas convicções filosóficas. Bairroalégrico quando se trata de optar entre o que é certo e duvidoso, o bem e o mal, chantilly com pringles e pistache com fanta uva.

Ainda assim, desejo ao meu porta-voz, esse carrasco que só me concede aparições bissextas nos seus esquecíveis escritos, uma longevidade Palmyroferrântica.