quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Coxinha de brigadeiro


Mais um empreendedor talentoso que consegue projetar o seu nome no mundo através das mídias sociais.

325.000 seguidores no Instagram que curtem o incrível trabalho dele com o chocolate. No Facebook e no YouTube o frisson chocolateiro também viraliza.

Este triunfo internético ocorre pelo furor quase religioso que o chocolate desperta e pelo apelo visual das taças e doçuras nas belas fotos da timeline @chefekadubarros.

O chef pâtissier Kadu Barros, de Vargem Grande do Sul, SP, tem na origem de sua trajetória de sucesso uma sacada que une duas originais paixões brasileiras: a coxinha de brigadeiro.

Na sua cidade natal, a Chocolateria Kadu Barros teve um êxito enorme numa loja minúscula. Chocólatras do Brasil inteiro correram ao interior de São Paulo para conhecer as gordices autorais do chef. Ele, ainda, cruza o Brasil divulgando a sua arte em cursos e workshops.

Crescendo muito, bombando na rede, Kadu viajou 20km e inaugurou ontem a Chocolateria Kadu Barros em São João da Boa Vista.

Num prédio no Mantiqueira —na Av. Durval Nicolau—, em que o interior foi totalmente remodelado ao bom gosto dele, a casa vai ser uma referência física do conceito Kadu Barros.

Chocólatras, glutões e formigões de Sanja: o Kadu chegou!


Habaneras 9 - Propaganda


Existe muita —centenas, milhares— propaganda em muros e outdoors nas calles habaneras. Como a da foto.

Frases "revolucionárias" de Fidel, de Che, do governo. Dizeres com a intenção de manter elevada a moral do povo. Enunciados com um tom de catecismo socialista. Uma coisa de lavagem cerebral mesmo, de onipresença do Estado, de mão pesada, de censura ao contraponto. Opressor!

Pior que isso só a TV. Canais estatais transmitidos com sinal ruim, dominados por noticiários anti-americanos, numa programação tosca, mal produzida, nada atraente. 

Explica-se, por isso, o sucesso assombroso das telenovelas brasileiras em Cuba. A estética consagrada dos folhetins globais hipnotiza as famílias cubanas. 

domingo, 25 de setembro de 2016

Sainte Marie Gastronomia


Impossível não se encantar com esse cara!

Um libanês que morou um bom tempo na Síria aterrissa no Brasil pra tentar ganhar a vida como jogador de futebol. As coisas não dão muito certo e ele vai ser bancário.

Bom na cozinha das suas origens, saiu do mercado financeiro e foi comandar jantares fechados nas casas dos clientes. Sucesso!

Em Sampa, num bairro distante, numa rua esquisita, num imóvel simples, ele monta uma rotisseria que logo vira um pequeno restaurante.

Aí rola essa química irresistível: o lugar inusitado, o carisma do dono, preços razoáveis, uma cozinha criativa sobre pilares clássicos, pratos saborosíssimos e esteticamente impecáveis, a força das redes sociais. Sucesso ao quadrado!

Falei do chef mais simpático do mundo: Stephan Kawijian.

Sainte Marie é a Casa dele, onde eu, emocionado, almocei semanas atrás.







quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Habaneras 8 - O povo



Depois de cinco dias em Havana, fui encerrar as férias no espetacular balneário de Varadero —seguramente uma das praias mais lindas do mundo.

Curioso e guloso, perguntei a uma garçonete do restaurante do hotel qual era a sobremesa cubana mais tradicional. 

—É o flan. Aqui no hotel tem, mas não é tão bom quanto o feito em casa.

Agradeci a informação e fui provar o flan das minhas hoteleiras possibilidades.

No café-da-manhã do dia seguinte, Rosemary, a garçonete, surpreende este roliço escriba com um mimo: um flan caseiro. 

Conto este causinho para ilustrar a minha admiração pelo povo cubano. Sofrido, oprimido, mas alegre e generoso.

Os cubanos adoram turistas, sabem receber bem, querem a todo momento saber nossa opinião sobre o país deles, gostam de ajudar, sentem prazer em agradar.

Falei com muitos em Havana e Varadero. Tem os que abertamente repudiam o regime político e sonham com uma nova vida no exterior; há os apoiadores do regime que dizem ter tudo —segurança, saúde e educação— para uma vida digna; tem, ainda, os ressabiados que preferem não se manifestar sobre política.

Em todos, um traço comum: a alegria. Suas aflições, receios, carências, desgostos, não são externados publicamente. Nas minhas andanças por aí vi muita coisa e todo tipo de gente. Poucas vezes vi uma efusividade tão cativante como a da plebe da ilha caribenha que, decididamente, não merece o governo que tem.


quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Habaneras 7 - Charutos

Não há como dissociar Cuba dos charutos. Eles são um símbolo e um orgulho nacional. Também são importantíssimos para a combalida economia da ilha.

Os habanos mais desejados —e portanto mais caros— são os feitos à mão. Pelas condições climáticas e características do solo, a região de Pinar del Rio, no extremo oeste cubano, produz aquele que é considerado o melhor tabaco do mundo. 

Como quase tudo em Cuba, a indústria “charuteira” é totalmente controlada pelo governo.

Vendidos em poucos estabelecimentos oficiais, um legítimo charuto cubano de selo consagrado —Cohiba, Montecristo, Partágas, Romeo y Julieta— pode custar até R$ 100,00 a unidade.

Pelo status, pelo preço e pela grande procura pelos turistas, o habano é objeto de falsificação em larga escala. Nas ruas de Havana você é abordado o tempo todo com ofertas imperdíveis para comprar “o preferido do Fidel” ou “o favorito do Che”. Tudo fake.

Em Centro Habana, visitei a fábrica Partágas. Nas puídas e antigas instalações, centenas de tabaqueiros —ou torcedores—, ao som de música bem alta, numa quentura do cão, produzem manualmente cada um cerca de 100 charutos/dia.

O salário deste trabalhador que manufatura aproximadamente 2.200 habanos por mês equivale ao preço de venda de, acreditem!, dois charutos.


terça-feira, 20 de setembro de 2016

Habaneras 6 - Hospedagem


O governo cubano autoriza a existência de alguns negócios privados. A hospedagem em domicílios é um destes serviços consentidos pela ditadura castrista.

Influenciado por testemunhos no TripAdvisor e consultas em blogs de viagem, optei por esse tipo de estadia e, ligeiro, escolhi a Casa Particular de Zoe y Victor.

A negociação via e-mail foi rápida e Victor, por 25 CUC (R$ 80,00), enviou um táxi para resgatar-me no aeroporto de Havana.

Não me arrependi da escolha da casa deste simpático casal de químicos aposentados, que fica no térreo de um prédio de 13 andares no bairro Cerro.

Não me arrependi porque a diária —33 CUC ou R$ 110,00— é bem econômica em relação a qualquer hotel razoável da capital cubana. 

Não me arrependi porque as acomodações simples oferecem tudo o que o turista precisa: dormitório com banheiro privativo, ar-condicionado e frigobar. Tudo limpo e organizado. Nenhum luxo, mas uma excepcional relação custo-benefício

O café-da-manhã servido —frutas da estação, omelete, café com leite, pão e manteiga— mantém o vivente bem alimentado até o meio da tarde.

Victor é atencioso para indicar e contraindicar aos hóspedes. Orienta sobre o câmbio, abre mapas para mostrar passeios interessantes, recomenda restaurantes, dá dicas de negociação com taxistas. Alerta para que não caiamos em ciladas —uma muito comum é a oferta de charutos falsificados nas ruas. 

Até a internet que é uma lástima em Cuba, é menos pior no lar de Zoe e Victor. A casa deles fica defronte ao Estádio LatinoAmericano de Beisebol, um dos poucos pontos de Havana que tem wifi público. Público, mas pago. Para navegar há que se comprar por 2 CUC uma tarjeta que dá direito a uma hora de conexão.

Enfim, a experiência cubana fica ainda mais rica e menos impessoal com essa hospedagem no seio de uma família nativa.


Habaneras 5 - Carniceria

Os estabelecimentos comerciais para locais na ilha são esteticamente defasados em décadas. Zero de apelo visual e manutenção.

Prateleiras vazias e nenhuma variedade de rótulos deixam as lojas com um triste aspecto monocromático.

Entrei numa padaria e vi a escassez: não se vendia nada ali além de dois tipos de pães. Um esbranquiçado tipo hambúrguer e outro que é uma bisnaguinha. Murchos e sinistros!

Vi outras tantas padarias em que a oferta cai 50%: só há UM tipo de pão.

Estupefação maior veio na visão obscena dos açougues. Carnes sem refrigeração expostas quase na rua sob um calor de 35 graus. O asseio para manusear a carne inexiste na mesa de corte, nas paredes e nas roupas dos açougueiros. O mau cheiro me dá uma certeza: Cuba é um bom lugar para se converter ao vegetarianismo.


Habaneras 4 - Tukola


Algum burocrata da ditadura castrista decidiu, em algum momento, que a ilha carecia da sua própria versão de um dos maiores símbolos do capitalismo.

Criaram a variante socialista da Coca-Cola: a Tukola. Ruim de doer!

E eles ainda têm a pachorra de vilipendiar com isso o belo drink que é a cuba libre. O horror! O horror!

Nota: sim, há Coca-Cola em Cuba. Nos bons hotéis, em alguns restaurantes não estatais e no aeroporto de Havana.

domingo, 18 de setembro de 2016

Habaneras 3 - Los coches


O táxi em Havana, ou melhor, os táxis.

Os carros mais novos de cor amarela que fazem ponto nas cercanias dos hotéis podem ser os mais seguros, mas além das corridas caras certamente são os mais sem graça.

Ladas russos e outras bugigangas motorizadas dos anos 1970/80 vindas do leste europeu também buscam turistas nas ruas. A maioria destes está em condições precárias. Circulam, ainda, graças às gambiarras.

Num deles, assustadoramente desintegrando-se, o taxista bota mais emoção na viagem dirigindo com apenas uma mão no volante. A outra, funcionando como um prendedor, supre a ausência de fechadura e mantém a porta fechada.

Bacanas mesmo são os lindos veículos americanos da década de 1950. Chevys, Pontiacs, Buicks, Plymouths, Oldsmobiles, Bel-Airs… Vários e vários, conservados/restaurados, são pura poesia rodando às margens do Malecón e entre os prédios antigos de Habana Vieja.

Numa noite de calor infernal, tomei um Bel-Air em Vedado. A delícia foi descobrir que o chofer adaptou no seu automóvel o ar-condicionado mais poderoso do planeta. Pela temperatura, um norueguês se sentiria em casa e, pela potência, o vento gelado alcança fácil o sul da Flórida.

Outra nota: gostem ou não os clientes, a música alta está em 100% dos táxis em Havana. Ouvi de hip-hop local até pop-rock norte-americano. No talo!

Habaneras 2 - Las chicas


No desembarque em Havana surpreendi-me com as diminutas saias das jovens funcionárias da imigração. Meias-calças insinuantes também compunham o look das moças que, para nossos padrões, destoam num ambiente de trabalho.

Batendo pernas nas ruas e observando o uniforme normalista-nelsonrodrigueano das estudantes cubanas compreendi o traço cultural do como vestir-se na ilha.

Garotos cubanos devem ter uma enorme capacidade de concentração nas aulas.

Habaneras 1 - O rango


Minha experiência gastronômica em Havana foi um tanto repetitiva, quase um monocardápio. Mas por uma boa causa. Uma ótima causa que responde pelo irresistível nome de LAGOSTA. Era bater o olho nas cartas, checar o preço e sucumbir à sedução. Come-se generosos e deliciosos pratos de lagosta por, no máximo, 40 reais. Em alguns restaurantes esse valor cobre o repasto de dois lauros famintos.

Num paladar** da rua Obispo, em Habana Vieja, comi a melhor: ao molho de tomate bem condimentado com pimenta e especiarias. Ela, a lagosta, simplesmente grelhada com alho é uma escolha difícil de errar na capital cubana.

Estando em Cuba, procure os paladares e, regra geral, evite os restaurantes estatais, nos quais o serviço é uma lástima e a comida inconstante.

**paladar é o típico restaurante cubano, particular, cujo nome tem origem numa telenovela da Globo. 

Para saber mais sobre os paladares clique aqui ou aqui.


segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Restaurante Escondido


Um judeu paulistano capturado pelos encantos geográficos do torrão platino-pratense. O cara é Michel Zimberknopf, ou só Michel Zimber para economizar consoantes e tornar o nome de família mais pronunciável.

Ele trabalha com desenvolvimento de sistemas e não foge de ter comprometimentos sociais na comunidade onde vive. Nos bons combates por Águas da Prata e pela Fonte Platina, Michel está sempre nas trincheiras dos aldeões de boa vontade. Ele fala, mobiliza e faz!

Restaurante Escondido é um conceito em que chefs e/ou cozinheiros diletantes abrem suas casas para grupos pequenos de comensais. Cardápios sedutores, cozinhas domésticas e ambientes informais juntam afins em torno da mesa. Ali, comer é tão importante quanto prosear e cambiar experiências.

No refúgio Bom Retiro, a acolhedora propriedade de Michel na região, ele, exímio piloto de fogão, eventualmente recebe convidados no seu Restaurante Escondido. Entusiasta da ideia, Michel também é incentivador para que outros façam o mesmo nas suas moradas.

Noite destas, tive a sorte de ser um dos frequentadores do lugar. Fui, vi, comi e adorei o conjunto da obra: pessoas, receptividade, atmosfera, natureza, minúcias e, claro, a comida.

Assessorando full-time o marido anfitrião, a esposa Valéria Manco, mulher cativante, prova que não foram só geográficos os encantos que seguraram Michel no pedaço.

O menu do encontro foi árabe —falafel, homus, couscous marroquino, arroz com macarrão rosmarinho, etc.— permeado pelos excepcionais ovinos do renomado criador sanjoanense Isaías Valim que, diga-se, foi nosso companheiro de esbórnia no evento. 

A carne de cordeiro do jantar foi uma garupa desossada, recheada com tâmaras, temperada com especiarias e assada em fogo brando por mais de quatro horas. Defumado, o cordeiro também reinou nos antepastos em suculentas peças de pernil e costela. 


Merecedora de menção: ela, linda, a sobremesa. A compota —ou kompott— de frutas é receita da mãe Zimberknopf. Damasco, tâmara, ameixa, uva-passa, mamão, abacaxi, cravo, canela, gengibre e sucos de laranja e de limão, servida harmoniosamente com sorvete de creme. 

O arremate? Licores artesanais, produção da casa, de jabuticaba e pitanga.

As fotos que ilustram este texto retratam o capricho de Michel e Valéria nos detalhes.

Sorry!, o sabor maiúsculo do repasto ainda não pode ser reproduzido por imagens.