quarta-feira, 22 de julho de 2015

SAL

SAL

“(…) a gente quer comida, diversão e arte (...)”.

Com as devidas desculpas pelo surrado —mas verdadeiro— som titânico, louvo em dizer aos sânjicos que estas hedonistas e humanas necessidades serão satisfeitas agorinha neste julho que caminha para o fim.

A Semana Assad, grandiosa na qualidade, já cimentada no calendário cultural de prazeres da província, dá uma generosa carona ao SAL, um projeto de múltiplos regalos que nasceu de uma inspiração alterosa e virou realidade levado pelos bons ventos da Mantiqueira.

A brisa da serra é uma licença poética que, reconheço, não faz jus ao trabalho organizado e aguerrido de quem deu jeito e cara à coisa.

Como em tudo que inova, há aquele roteirinho típico: alguém que se apaixona por uma ideia, outros que a compram e embarcam na viagem, tem aqueles que não embarcam e juram que o navio vai afundar, tem o capital que ajuda a bancar o sonho, tem as benfazejas gentes que emprestam suas competências sem nem saber ao certo o retorno disso.

O entusiasmo contaminou, a orquestra afinou, o molho apurou e o SAL taí, prontinho pra rolar bem no coração deste torrão de majestosos crepúsculos. Prontinho pra fluir entre foodies e arteiros, povo que pratica de ofício ou de ocasião.

A concepção SALeira quer botar São João no centro de uma torrente de panelas, aromas, notas, timbres e encantamentos visuais. Tudo simultâneo, uma dúzia de horas na mesma barafunda de alho, MPB, aquarelas e polaroides, em qualquer ordem, sem qualquer ordem. E, acreditem, o negócio vai ter muita ordem.

Sábado, 25, ali na Marechal Deodoro, ao lado do gabinete do homem.

++Walgra com risoto e café espresso

++Luciana Guimarães com taco e brigadeiro

++Jazz com pizza

++Cerveja com escultura

++Maracatu com sushi

++São João com tempero e com muito pra fazer

++Sabor com Arte e com Lazer

Você tem fome de quê? Você tem sede de quê?

foodie

sábado, 18 de julho de 2015

Acrobacias

 Acrobacia

—Foi bom pra você?

—Hmmm, bem, te achei meio crua.

—Crua, por que crua?

—Um pouco fora do ponto, eu quis dizer.

—Explique-se, não entendi…

—Deixa pra lá, bobagem...

—De jeito nenhum... quero ouvir...

—O seu mecanismo corporal carece de jogo de cintura, ginga, entende?

—Não, seja objetivo.

—O ato exige algumas acrobacias pra ser pleno, uma performance mais elástica, flexível...

—Você me recomendaria uma escola de circo? Frequentar sua alcova requer destreza, habilidades especiais?

—Relevo sua ironia, mas na essência é isso mesmo. Algumas piruetas só podem fazer bem.

—Piruetas?! Acho então que cabe um ensaio, uma coreografia, uma música dançante, um jogo de luzes, plateia, juízes...

—Exageros podem ser bem apimentados, entende?

—Onde você quer chegar com isso?

—Vou confessar: seus traços eslavos, seu cabelo liso, sua cara de menina, tudo isso me lembra a Nádia.

—Nádia?! A exibida do quarenta e dois? Ou é aquela oferecida do RH? Ou é a namoradinha de infância de Botucatu?

—Ela é romena. Nadia, sem acento, Comaneci. Nadia Comaneci, a ginasta que assombrou o mundo nos Jogos Olímpicos de Montreal em 1976.

—Ginasta?! Suas taras são atléticas? Se olhe no espelho, tome juízo, gordo abusado, roliço sem noção, obeso marrento...

—Robusto, sim, mas com muito fôlego e agilidade. Posso listar minhas sessenta e nove virtudes físicas. Meia nove! Esse número te diz alguma coisa? [Empolgado] Você vai atrás da medalha? Vamos nos ver no pódio? Posso reforçar a estrutura do leito? Quer ver meu duplo twist carpado? Vamos ouvir Carruagens de Fogo?

quinta-feira, 9 de julho de 2015

Spaço

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São João+comida boa+Tereziano Valim.

Há quase 11 anos, incansável, o Spaço consegue combinar com muita competência esse trio de deleites.

O tempo passa e mudanças são inevitáveis. Arejar é preciso. Melhorar é necessário. Agradar é essencial.

E aquele bufê consagrado que oferece de segunda a segunda um dos melhores almoços da província? É time vencedor e não muda. Aprimora. Ninguém vai ficar órfão daquelas delícias árabes às sextas-feiras.

E aquela quinta-feira de pizzas em sequência, uma atrás da outra, uma melhor que a outra? Ela volta. Volta com as clássicas margherita, calabresa e portuguesa e, entre outras tantas, com a surpreendente camarão com alho-poró. E a redonda premiada de abacaxi caramelado com sorvete de creme? Soberana, claro, ela também volta.

Muriel Filho, que já tem uma biografia respeitável no universo foodie da cidade, vai ter a companhia das empreendedoras Cláudia Adib e Fernanda Moro nesta nova fase do Spaço.

Cláudia é comerciante nata, extrovertida, que respira desde sempre a paixão da família libanesa pela gastronomia. Fernanda quer sair da Pauliceia e, com paixões —leia-se Muriel— fincadas no pé da Mantiqueira, projeta no restaurante o seu passaporte para viver no interior.

Nesta nova etapa, salve!, o menu à la carte das noites de sextas e sábados será reavivado. Um cardápio que contempla com harmonia pastas, carnes, peixes e frango em receitas autenticadas por quem conhece e aprecia a arte do fogão. Um dos itens da carta: filé ao molho de mostarda Dijon com farofa de pão e trio de cogumelos. Outro item? Não conto.

Extra-menu, a “sugestão do chef” vai oferecer a inspiração semanal do Muriel, onde eu espero ver muito cordeiro. [e que ninguém nos ouça: o cordeiro da foto foi honrosamente apreciado pelo autor destas linhas]

Sobremesa, formigões? Crème brûlée, petit gâteau e creme de papaya. O mais do que bom, tradicional, sem invenções.

Vinhos, seguidores de Bacco? Vinte opções que abarcam variedade, qualidade e que não necessariamente agridem os bolsos daqueles que não querem sair dos dois dígitos. Quer extrapolar um tiquito? Montes Alpha e Chandon Brut estão lá pra isso.

E a Dona Salma? Num merecido descanso da lida cotidiana, ela deixou sua marca de excelência gravada em todos os detalhes da casa. Um legado que os que assumem, por respeito e pelos negócios, têm que preservar.

São João+comida boa+Tereziano Valim=Spaço. Nunca é excessivo ressaltar a precisão desta aritmética de prazeres.

sexta-feira, 3 de julho de 2015

Vana & Barack

Vana & Barack

—Grande isso aqui, Barack...

—Sim, Vana. Posso dizer que eu moro bem.

—Tem muito mais jeitão de casa que o Alvorada. Lá não tenho aconchego nenhum. A arquitetura do Oscar é boa pra turista e estudante. Pra quem trabalha ou vive nas obras dele, a funcionalidade e o conforto são zero.

—Vem ver a cozinha, super bem equipada. Olha aquela coifa ali, foi desenvolvida pela NASA. Tem um exaustor embutido que suga toda a gordura do ambiente em milésimos de segundo. A Michelle adora.

—Que beleza! Deve ser um espetáculo fritar mandioca aqui...

—What?

—Deixa pra lá... mandioca é uma coisa muito complexa pra ianque entender.

—Então, Vana, sei que a coisa já esfriou, mas não posso deixar de me desculpar pessoalmente pelo lance da espionagem. Sorry! Foi mal mesmo.

—Olha, Barack, quando descobri a arapongagem, confesso que fiquei muito puta da vida. Surtei no dia ao saber que você sabia do meu vício em comer jambo com cerveja preta. Mas depois, de verdade, acho que aquilo foi muito bom.

—Sério, Vana, por quê?

—Na época, os urubus da oposição e da imprensa golpista estavam me aporrinhando com bobagens que estavam drenando minhas forças. Os grampos ajudaram a desviar o foco da política interna.

—Vocês têm Republicanos lá também?

—Acho que o mal é o mesmo, mas no Brasil esse mal tem o nome de tucano. Republitucanos! [ela cai na gargalhada].

—Você é muito boa com trocadilhos.

—Sem falsa modéstia: sou. Mas não vim à Casa Branca pra falar dos meus múltiplos dons. Você sabe que os meus companheiros de partido têm enorme afeição pela ilha do Fidel. Como estão as coisas lá?

—Fácil, fácil... estamos indo devagar pra deixar os velhinhos saírem com dignidade, pra botar um verniz de que eles ainda têm fibra pra negociar.

—E não têm?

—Nada. O país está sucateado, a população passa por tantas privações que uma brisa democrática que leve alguns bens de consumo derruba todo mundo lá. E, convenhamos, não precisa nada muito vigoroso pra tombar os Castro brothers.

—Barack, vou mudar o rumo da prosa pra lhe fazer dois pedidos. I have two dreams. Quero tirar uma selfie com você no Salão Oval. Também quero fritar mandioca na sua cozinha. Aliás, quero saudar a mandioca na sua cozinha. Podemos fazer isso?

—Yes, we can!