sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Uma questão de Opção

foto: Thais Stauttrat_peq_TRS_9743

Fincar uma casa de alta gastronomia num pequeno município é ousadia inconteste. E fazer deste estabelecimento um sucesso é atestado de competência nos ofícios de cozinhar e servir.

Bento Experidião, lá pelos idos de 2003, foi o chef arrojado que deu a Pinhal o Opção Trattoria Bar, um restaurante que é referência pelo que sai das suas caçarolas. E o empresário fez mais: garimpou entre sua brigada de assistentes uma lavadora de pratos vocacionada para brilhar na arte culinária. Alessandra Lourenço é a jovem chef talentosíssima que hoje comanda a cozinha da casa.

Depois de nove anos bem empreendendo em plagas pinhalenses, Bento está buscando outro triunfo no mundo da comida. Ele decolou de CaféCity para se arvorar no desafio de repetir o êxito do Opção sob os crepúsculos de Sanja.

Terça-feira última, no pós-labuta, bato em casa para um banho reparador e volto pra Pinhal carregando minha mulher e uma vontade grande de retornar ao restaurante, que agora está sob nova direção.

O negócio foi assumido por uma trupe pinhalense de peso: Carlos Brando e João Staut, nomes conceituados na área de consultoria e exportação de máquinas para processamento de café; Fernando Vergueiro, o Dinho,é o sócio que gerencia, recebe a clientela e coordena a equipe de salão. Carismático, no comércio há mais de vinte anos e conhecedor da cidade inteira, ele é o tempero de simpatia circulando entre as mesas. E o quarteto societário é completado pela inventiva e dedicada chef Alessandra.

Meu regresso ao Opção foi cheio de agradáveis surpresas. O aconchego do salão continua o mesmo, mas a luz —que era de boate— ganhou alguns watts para que não se perca nenhum detalhe dos primores visuais que são os pratos. O “puxadinho”, uma anexo à esquerda da porta, que já foi um limbo pra quem não encontrava mesa na área principal, hoje tem uma decente forração de madeira, um pequeno jardim que ornamenta com elegância o ambiente e, vivas!, um civilizado ar refrigerado. A decoração —antes um pouco carregada— foi desprovida do excesso de objetos para ficar mais harmônica com a proposta da casa de ter requinte sem ser empolada, de ser chique sem ser presunçosa.

Vamos ao repasto que marcou a minha noite. O início: carpaccio de salmão. O molho sobre o peixe, que por aí tem notas mais ácidas, fica levemente adocicado pelos toques de mel e erva-doce.

A salada: tutti funghi. Champignons e funghi secchi rapidamente untados na frigideira e servidos com morangos picados e alface americana. O quente-frio da mistura proporciona uma deliciosa e interessante experiência gustativa. Petulante, sugeri à chef que o funghi ficaria mais tutti com shimeji. Na concepção original, respondeu-me ela, a salada também levava shimeji e shitake, ora relegados pela inconstância dos fornecedores.

Os pratos principais: magret de pato com purê de alho-poró e figos. A carne da ave é tenra, servida bem antes da secura em filetes simétricos. A cremosidade cheia de sabor do purê e o quebra-sal dos figos escoltam com muita deferência o peito do pato.

A Josi optou por peixe: robalo à beurre blanc com risoto de manga —outra obra de estética e de sabor da chef Alessandra. Depois de pescar umas porções no prato dela,  o glutão monoglota aqui descobriu pelo Senhor Google que “beurre blanc” é manteiga branca.

Uma das sobremesas mais impactantes da minha insignificante existência, de novo a sensação inusitada pelos choques quente-frio/doce-salgado. Goiabada grelhada, chuviscada de farofa de castanha de caju, servida com sorvete de queijo. Uma baita viagem de arte, de confrontos e de aromas.

Siete Soles, um cabernet sauvignon chileno, foi um companheiro respeitável para a sequência de prazeres da inesquecível refeição.

No imóvel onde hoje é o Opção, funcionou por mais de quarenta anos a Pharmácia Neves. Vai daí que o lugar tem uma inclinação evidente para revigorar. Por décadas, via química medicamentosa, recuperou as patologias do corpo e hoje restabelece com muita eficácia as doenças da alma, oferecendo aos comensais um cardápio em que nenhum item é menos do que definitivo.

Em tempo: a gasosa pra acompanhar o vinho é uma São Lourenço em garrafa plástica. A região tem uma muito melhor, a clássica água Prata que vem nas tradicionais garrafinhas de vidro.

Em tempo 2: o signatário do blog jantou no Opção a convite dos proprietários.

Serviço: aberto de segunda a sábado, das 18:30 até o último cliente.

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Carpaccio de salmão

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Salada tutti funghi

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Magret de pato com purê de alho-poró e figos

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Robalo à beurre blanc com risoto de manga

 

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Goiabada grelhada, chuviscada de farofa de castanha de caju, servida com sorvete de queijo

sábado, 3 de novembro de 2012

Wilson, o fotógrafo

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1972. Talento pra retratar ele tinha, só que a coisa não deslanchava. Bingo! Propaganda era o que faltava. E propaganda na Sanja de antanho era rádio AM. E rádio AM na Sanja setentista era sinônimo de Compadre Fica-Fica.


“Como a sua loja não tem nome?”, vociferou o radialista lendário desta província crepuscular.


Bradou e batizou, já emendando com o slogan que mudaria a história de Wilson Schiavon: “Foto Copacabana, onde sua foto fica bonita e bacana!”.


O reclame pelas ondas radiofônicas despejou um caminhão de fregueses para o então iniciante fotógrafo.


Contabilizados, de 1972 até 2007, quando seu Wilson pendurou a câmera, foram mais de 16.000 batizados, mais de 5.000 casamentos e outros milhares de aniversários.


Retratando efemérides por 35 anos, ele criou e formou quatro filhas, construiu um honesto patrimônio e contribuiu como poucos para a memória fotográfica deste torrão mantiqueiro.


Pai da minha querida comadre, Alessandra Schiavon, seu Wilson hoje curte uma merecida aposentadoria, pescando, “baralhando” com amigos e pajeando as netas.


Na imagem rara que ilustra o post, o fotógrafo está na posição das centenas de milhares de pessoas que ele clicou.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Sobre gordos, músicas e odores temerários

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Se é que ele tinha alguma, o blogueiro mandou às favas qualquer compostura.

O corpulento aqui se esborrachou no chão do Fonteatro e, da fila do gargarejo, curtiu Ed Motta brincar com a voz na praça Joaquim José. Foi numa antológica noite domingueira, semanas atrás no encerramento da Semana Guiomar Novaes.

Depois do estrondo pela ida ao solo deste escriba, os espigões do JJ Park balançaram de novo quando o artista pisou no palco. Muitas e muitas arrobas de gordura e talento

E já entrou brincando com a forma circular do local: “Legal isso aqui, parece uma arena romana”.

Antes dos primeiros acordes da terceira música, ele botou pra fora um chiado sobre o bálsamo calórico do ambulante dos espetinhos: “Pô!, tá difícil, esse cheiro de churrasco me atormenta muito”.

E ainda se queixou das prescrições médicas: “Tenho que ficar longe da carne vermelha”. No que foi instantaneamente replicado por um gaiato da plateia: “É gato!”. Ed Motta quase capitulou à tortura: “Gato é carne branca, acho que eu posso”.

Na qualidade(?) de guloso, gordo e sanjoanense, solidarizo-me com o cantante pelo castigo a ele infligido. Ed, meu caro, prometo espalhar barraquinhas de soja e vegetais na sua próxima vinda.

O cara é fera, supremo na sua arte, cheio de arabescos vocais —a garganta dele, incrível!, emula vários instrumentos—, e levou o show sozinho alternando entre cordas e teclado.

Depois de dois bis e do público mais solto, ele se retirou sob pedidos de mais: "Hoje é aniversário da minha mulher. Vou pro hotel celebrar". E foi, deixando ecos virtuosos na província crepuscular.

Vi e ouvi de graça, no coração de Sanja, um show que eu não me importaria em pagar bem pra assistir.

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Fotos: Josiane e Laurinho Borges

domingo, 19 de agosto de 2012

“Brimo” mineiro

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Eleições municipais, Julian Assange ou julgamento do mensalão?

Nem um nem outros!

Sem novidades nos estímulos para escrever: comida. Boa comida!

A novidade é cruzar a borda de Minas e achar muito mais que costelinha de porco, queijo, cachaça e doce de leite.

Desde os dez anos em Caldas, MG, o neto de libaneses e fluminense de Macaé, Rafael Moisés, anda encantando quem passa pelo seu restaurante: Tenda do Habib.

À mesa, Rafael sempre teve intimidade com a comida da terra dos antepassados. Na cozinha, curioso e vocacionado para as caçarolas, aprendeu com a vovó a fazer os melhores sabores do Oriente Médio.

Antes de erguer a Tenda, perambulou por Campinas e Pinhal, onde granjeou amigos e o diploma de publicitário.

Há cinco anos, bem no centro da urbe mineira, uma antiga casa de esquina abriga atrás de uma fachada puída um estabelecimento simples, mas que respeita com fervor a milenar gastronomia árabe. O requinte está no conceito de se fazer o bom repasto.

Os pratos, além de deliciosos, vêm ao cliente, com o perdão do clichê, embalados naquele visual de “comer com os olhos”.

A abundância das porções fica ainda melhor com os preços justos praticados.

Na minha primeira [de muitas, espero] visita à Tenda do Habib, experimentei homos, esfirras de carne e de coalhada, quibe cru, quibe frito, charutinhos e arroz beirute. Este glutão e sua “habiba” desfrutaram de tal e tamanho banquete por apenas 62,50 “brimos”, bebidas inclusas. Juro que não conto pra ninguém que as sobremesas foram cortesia.

Detalhes: o pão sírio é servido fumegando e sobre o quibe cru o chef Rafael salpica cebolas fritas e adocicadas.

Em tempo: a prima pinhalense, Roberta Sucupira, que sabe tudo de cozinha e mais um pouco, foi quem indicou o restaurante, que eu, com prazer, indico, reindico e treindico aqui.

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Horário de funcionamento:

Sexta-feira: das 19 às 24h; Sábado: das 12 às 24h; Domingo: das 12 às 22h

Formas de pagamento: cheque ou dinheiro

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sábado, 9 de junho de 2012

Café com Sanja

Conhecendo a pessoa há muito de vizinhanças tereziânicas, não me surpreendi com o empreendedor.

Formado em Direito, ele abriu mão de ganhar o pão nas lides jurídicas para ser excelência na arte de servir a bebida que é patrimônio da cultura brasileira.

Alexandre Menato Domingos é o dono do Gran Natto Café, uma elegante e aconchegante casa no centro de Sanja.

Bem localizado, dotado de um mobiliário em madeira de muitíssimo bom gosto, o estabelecimento é lugar perfeito para se tomar um bom café.

E entenda-se tomar café no sentido amplo: ler, papear com amigos, filosofar, discutir política...

O Gran Natto tem um cardápio baseado no grão da rubiácea, mas não é fundamentalista para desagradar a diversidade de paladares. A carta oferece também chás variados, cappuccino, chocolate quente e uma boa oferta de acepipes doces e salgados para acompanhar.

Aos que não abrem mão de coar o seu próprio café, a loja oferta um excelente pó gourmet com o selo da casa.

E para arrematar a harmonia entre menu e ambiente, o proprietário atende e comanda uma equipe enxuta e bem treinada.

Cá no pé da Mantiqueira, a plebe crepuscular tem um cantinho bacana que evoca a velha tradição dos bebericos sociais e contestações políticas das tabernas.

domingo, 3 de junho de 2012

Mordaça

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Amante incondicional deste torrão mantiqueiro, achei louvável a criação do grupo MEMÓRIA SANJOANENSE no Facebook. Preservar a História da cidade através de fotos e relatos do seu povo merece aplausos muitos.

Em poucas semanas quase cinco mil membros. Esse sucesso avassalador mostra que as pessoas têm necessidade de compartilhar imagens e testemunhos do passado. Isso é saudável como referencial de vida.

Fiz algumas postagens e outros tantos comentários. Viajei em boas lembranças!

Ontem postei uma crônica de 2007, em que eu elencava maravilhas sânjicas a mim sugeridas pelos leitores d’O Município quando eu assinava uma coluna naquele veículo.

A imagem que ilustrava o post era o sorvete de macaúba, a mais votada entre as maravilhas e um inconteste ícone da História sanjoanense.

Este escriba e seu post de vivas macaúbicos foram defenestrados do grupo sem prévio aviso, sem justificativas.

Vi depois, através do perfil da minha esposa, um post do(a) moderador(a) em que ele/ela dava uma lacônica explicação sobre vetos/exclusões a posts com suposta propaganda e alertava que membros que descumprissem a “regra” seriam BANIDOS sem prévio aviso. O termo usado foi esse: BANIDOS.

Várias postagens de protesto e de indignação se sucederam. E a mão pesada do moderador[?] as esmagou.

Não se preserva a MEMÓRIA com banimentos inapeláveis nem com tesouras arbitrárias.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Da arte de remediar

Bauru do Jair

Amigos têm a [boa] mania de me aguçar com interrogações sobre acepipes nunca dantes explorados. O dono desta pança insaciável sente um desconforto com certas provocações culinárias.

Primeiro foi o Ricardo “Caminhão” Nasser: “Você já comeu o bauru do Jair?”. Ante minha murcha e frustrada negativa, o comedor de quibe fuzilou: “Não sabe o que tá perdendo!”.

Continuei perdendo por algumas semanas.

Hoje, começo da tarde, defronte a Catedral de Pinhal City, o “botequeiro” Sérgio Moraes —que conhece a arte dos dois lados do balcão— fez a mesma indagação desafiadora do Ricardo.

Conheço o Jair Morgabel desde que o mundo é mundo. Busquei na Drogamérica —que o Jair e o Paulo Abdal comandaram por mais de 40 anos— muito Melhoral e Merthiolate pra curar meus infantes resfriados e machucados. Marcava na caderneta.

Lá no meio dos anos 70, o farmacêutico prático fundou o Tekinfin, uma das melhores e mais longevas casas sanjoanenses de comida e bebida. Jair comandou o Tekinfin —onde se comeu o primeiro cheese-burger deste torrão macaúbico— por menos de dois anos, mas a sua cria tá aí, firme e forte, desde 1975.

Engolida pelas grandes redes, a Drogamérica baixou as portas na primeira década deste 21 internético. Jair, comerciante inarredável, santificou a Dona da Avenida e abriu no mesmo ponto da finada farmácia a Santa Gertrudes, um misto de sorveteria com cafeteria.

A coisa não emplacou. Dia destes veio a guinada. A esquina é a melhor de Sanja —Dona Gertrudes com Gabriel Ferreira— e as mesas na calçada pediam chope. Pediram, ele atendeu e foi pra chapa fazer com capricho uma divindade gastronômica desta província crepuscular: o bauru de lombo.

Jair não perde o vício em remediar. Por décadas, com a alopatia. Hoje, cura patologias da alma servindo um dos melhores baurus deste cativante planeta mantiqueiro.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Exagero, heresia e outras pílulas

Texto para a página esportiva do O MUNICÍPIO. Edição do próximo sábado.

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Na cidade do exagero, o beque são-paulino Rhodolfo exagerou na dose de emoções. Fez um contra e se redimiu marcando dois de cocuruto na virada do SPFC sobre o Ituano. 2 X 4 foi um triunfo memorável do Tricolor em Itu. E o cotejo ainda teve um golaço de Lucas. O pó-de-arroz que grafa estas linhas quer ver Rhodolfo sempre perpetrando exageros que produzam um final feliz para o escrete do Morumbi.

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Herege esse mosqueteiro Liedson. Na Santa Semana ele não esperou o domingo de Páscoa para encerrar o jejum de treze partidas sem estufar a rede. O “comer antes da hora” foi cometido contra o pobre Oeste. O desjejum veio logo com dois tentos. O anticorinthiano que rabisca neste papiro quer uma maldição divina contra pecadores alvinegros.

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Silvio Luiz, legendário speaker brasuca, protagonizou um dos Roda Viva mais pobres de todos os tempos. Abusou de clichês, quis ser contundente e engraçado, mas não conseguiu falar mais que um punhado de ideias desconexas e insossos gracejos. Para um sujeito que tem o jornalismo como profissão, faltou um princípio básico do ofício: clareza. O arremedo de cronista que vos fala quer ver Silvio Luiz [só] narrando futebol.

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Na liga dos grandes do Velho Mundo, Messi segue imbatível no vezo de ser o maestro do impecável Barça. Contra o Milan, mais uma vez os meninos da camisa catalã ensinaram como se pratica o ludopédio. A superioridade é tão avassaladora que provoca conflitos na percepção do espectador: beleza e chatice. O caipira que ocupa este espaço, por vezes, vê mais emoção num prosaico XV de Piracicaba versus Catanduvense.

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Quarta-feira, 04/04, 21:45, o macaúbico Luis Roberto de Múcio está na tela da Globo para transmitir Inter X Santos. Não vou esperar o fim do jogo em Porto Alegre para dar um basta nestas infames pílulas. O fut-aficcionado que passa vez ou outra neste rodapé de página quer, por amor à arte, ver mais um baile de Neymar e Ganso na arena colorada.

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Leio por aí que alguns fardados reformados tiraram o pijama e foram às ruas comemorar o aniversário do Golpe de 1964. O democrata aqui quer que estes tiozinhos insanos, saudosos dos Anos de Chumbo, saiam de casa por motivos mais nobres. Um dominó na praça, talvez brincar numa cancha de bocha, um passeio com os netos...

quarta-feira, 21 de março de 2012

O surfista que virou queijo

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Com o espírito untado pela especialíssima manteiga do Montezuma, apareci aqui dia destes para aplaudir o laticínio que fica na Serra da Paulista e que fabrica adoráveis derivados de leite de búfala.

Como a povo ficou “amanteigado” com a postagem, conto mais um naco da história desta empresa que, como algumas outras, é um orgulho sanjoanense pela inovação e pela excelência dos produtos.

Santista de nascimento e de arquibancada, Fábio Pimentel, que já foi pegador de onda, sempre teve uma ligação afetiva com este torrão mantiqueiro e seus arredores. Sua família tinha uma casa de veraneio em Águas da Prata, que ele frequentava com religiosa assiduidade.

Em Pinhal City, apesar da esbórnia da vida universitária, ele conquistou o canudo de agrônomo. Formado, fez um périplo por variadas lides agropecuárias. Confinamento de gado, horticultura e muitas outras ralações que necessitavam de pesado lavor pra render poucos tostões.

Bom de garfo, apreciador da boa mesa, nos anos 90 ele conheceu —e adorou— os queijos de búfala. Na Fazenda Paineiras, adquirida pela família em 1995, o leite de algumas cabeças bufalinas e a boa mão pra cozinha da esposa Carol proporcionaram as primeiras peças de queijo fresco para consumo próprio e para presentear amigos.

Elogios muitos, a premência por um negócio que vingasse e o modismo das pizzas com mozarela de búfala foram incentivos à produção em escala comercial. Em 2001 nascia o Laticínio Artesanal Montezuma, uma fabriqueta cheia de belas intenções queijeiras e com as bênçãos da natureza serrapaulística.

Com um produto aprimorado e muita teimosia a coisa cresceu. Hoje, os Crepúsculos exportam derivados de leite de búfala para mais de 30 cidades brasucas. Fábio Pimentel, proeza!, conquistou a cozinha de Rogério Fasano, um dos mais exigentes restauranters do país.

O Montezuma, desde 2010 equipado com modernas máquinas italianas, também tem como importante clientela a comunidade judaica. É o único laticínio de búfala com o selo kosher (só têm esse certificado as empresas que seguem alguns rígidos preceitos israelitas no preparo de alimentos).

Fabinho Pimentel, cidadão honorário macaúbico desde 2008, é um ex-surfista que largou a prancha pra se entranhar nesta província crepuscular, fazer família, empreender e ganhar a vida.

Veio, ralou e venceu!

domingo, 18 de março de 2012

Sanja queijeira

 

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A estrada da Serra da Paulista nos leva a belas paisagens de Sanja. Há anos que esse sinuoso caminho também nos traz as gostosuras de búfala do Laticínio Montezuma, empreendimento do amigo Fábio Pimentel. Hoje pela manhã, me abastecendo para o breakfast domingueiro na Padaria Rainha, conheci (já era fã da mozarela e afins queijeiros) mais um produto do excelente catálogo desta empresa que tão bem processa o leite bufalino: manteiga. O carimbo "premium" no rótulo faz jus ao sabor.

http://www.latmontezuma.com.br/

segunda-feira, 5 de março de 2012

Gastão, o descanso de um justo

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Triste notícia neste torrão mantiqueiro: o falecimento do engenheiro civil e ex-prefeito Gastão Cardoso Michelazzo.

Durante toda a vida vizinhei com os Michelazzo na Tereziano Vallim. Na minha infância tive como um dos grandes amigos, Tocko Michelazzo, caçula do casal Gastão e Marli. Nos anos 80 trabalhei na Construtora SGM, empresa sanjoanense dele, Gastão, e dos filhos, Silvio e Sérgio Michelazzo.

Tive, portanto, uma convivência pessoal e profissional com o Dr. Gastão. Como observador da cena política local também acompanhei o seu mandato (1989/1992) como prefeito, eleito pelo então PMDB que era à época um partido de resistência à ditadura.

Homem afável, de sólidas convicções, mas de espírito conciliador, muito me ensinou. Deixa valiosos legados: de devoção à família, de empreendedorismo nos negócios e de decoro na vida pública.

Quero aqui transmitir publicamente meu pesar aos familiares e também render minhas póstumas homenagens a esse homem, exemplo de pai de família, profissional dedicado e destacado na área de projetos e construção civil e político probo, que honrou seus mandatos procedendo com retidão no trato com a coisa pública.

Seu nome, merecidamente!, já está gravado na galeria de notáveis desta província crepuscular.

Descansou! Biografia ímpar que lhe faz jus ao merecido repouso dos justos.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Sânjicas empadas

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Escandalosamente deliciosas!!!

A clássica de frango. A não menos tradicional de palmito. De bacalhau, pra quem gosta. E uma que eu não conhecia: de calabresa. Belíssima surpresa!

Massa leve que não esfarela, nem um pouco seca. Recheio molhadinho, muitíssimo bem temperado. Equilíbrio perfeito entre os ingredientes.

Josi e eu provamos e aprovamos as empadas únicas da Samara Lima Costa.

Sanja sempre tão generosa com seus acepipes, tem mais um no seu panteão de imperdíveis.

E a Samara entrega as empadas quentinhas, pra quem quer só comer, sem nenhum esforço.

Encomendas pelo telefone 3633-6233.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Templo da Carne

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Nas minhas paulistanas incursões de recreio, orra meu!, visitas ao Bixiga e suas sedutoras pastas cantineiras são quase obrigatórias. Dizem, e eu acredito, que as massas de Sampa são melhores que as da matriz peninsular.

Neste fim de semana momesco visitei o velho reduto italiano, mas desta vez resisti aos encantados e molhados carboidratos da Velha Bota.  

Tinha uma “missão” e a cumpri com galhardia e sangue: comer a carne de Marcos Bassi.

Ali no coração do Bixiga, ilhado num mar de molho ao sugo que é a rua Treze de Maio, funciona o Templo da Carne, a casa onde Marcos Bassi mostra todo o seu talento nos cortes e no preparo do churrasco bovino.

É claro que na minha primeira vez não poderia escolher outro espeto. Fui de fraldinha, a carne coqueluche do restaurante, cujo corte foi criado pelo Bassi em 1967.

O generoso assado bem satisfaz três Lauros famintos. Desnecessário dizer sobre o zelo no ponto da carne. O espeto vem à mesa e volta à grelha mais de uma vez, para que nenhum pedaço padeça pelo excesso ou pela falta de brasa.

A foto acima mostra também as soberbas guarnições: farofa especial e arroz do chefe.

Quem tem apreço pelo traseiro bovino assado no carvão tem uma obrigação e uma dívida de gratidão: visitar o Templo de Marcos Bassi e agradecê-lo por tanta devoção ao nobre ofício de churrasquear.

CLIQUE AQUI PARA REZAR NO TEMPLO

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Quer uma sobremesa digestiva que agrada visão e paladar? Abacaxi grelhado com canela servido com sorvete de creme. Baita exclamação para fechar o repasto!!!!!!!!

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quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Copa 2014: a conspiração da Beloca

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O prefeito é chamado à metrópole e ouve a boa nova: este torrão crepuscular poderá hospedar uma Seleção estrangeira na Copa do Mundo de Futebol em 2014.

A notícia terrena provoca uma conspiração entre dois amigos celestiais: Beloca e Winston Churchill articulam com o Chefe para trazer o English Team ao pé da Mantiqueira. Estes dois grandes personagens, que estabeleceram uma insólita relação de afeição na eternidade, querem ver o Wayne Rooney batendo um bolão na General Carneiro.

O conluio pró-Sanja nas alturas chega às mentes de alguns sobrenaturais macaúbicos que, ato contínuo, o reverberam às esquinas.

E a plebe é rápida e criativa: sugestões já pipocam para que nossos anglo visitantes tenham um naco de sua pátria neste belo canto do interior paulista.

Comecemos por este centenário jornal. Bem poderia o editor Reinaldo Benedetti criar um suplemento, em formato tablóide, óbvio, em que o sensacionalismo gritaria em cores berrantes com um farto recheio de mexericos e alcovitagens envolvendo altos figurões da sociedade local. Alguma coisa como o The Sun da Mantiqueira ou o Daily Mirror Caipira.

Um bom pub também não pode faltar. Os hooligans sorveriam hectolitros de loura gelada num repaginado Bar do Foguinho, na melhor tradição britânica do fish and chips. Fish dos bons é desnecessário dizer que o Foguinho tem de sobra. As chips poderiam vir da vizinha Vargem, que tem batata da melhor qualidade. E, convenhamos, o Foguinho com aquela barba ruiva é a cara de qualquer barman londrino. Melhor que o boteco do Foguinho só o Little Fire’s Pub.

Já que nossos legisladores não se livram da sanha de inchar a Câmara, que também se inche a urbe de elegância nos prédios públicos. Ao Faustinho Fontão seria encomendado um projeto-réplica do Parlamento britânico. Um decreto municipal aboliria esta nomenclatura provinciana de vereador ou edil. Câmara dos Lordes seria o novo nome da casa legislativa sanjoanense.

Inglês adora essa coisa de honraria e condecoração. Figuras destacadas da comunidade receberiam a medalha da Ordem do Cavaleiro do Jaguari. O ocioso campo do Palmeirinha passaria por uma reforma pra abrigar animadas rodadas de críquete. PCC (nenhuma alusão a facções criminosas, por favor) seria a sigla para Palmeiras Cricket Club.

A empresa de transporte também colaboraria com a bajulação. A linha DER-Pratinha seria servida por um imponente ônibus vermelho de dois andares.

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Pândegas e galhofas grafadas, acho que cabe um comentário mais sóbrio. Pela pequena estrutura hoteleira, dificilmente Sanja será escolhida para abrigar os treinos de uma seleção estrangeira na Copa 2014. De qualquer forma, penso ser pertinente algumas ponderações:

  • Locais de treinamentos de seleções atraem centenas de jornalistas e torcedores que comem, consomem e se hospedam;
  • Além das divisas em cash (esse pessoal gasta os tubos), a cidade se torna no período do certame uma vitrine (nacional e internacional) midiática e internética enorme;
  • Os locais para treinamento e hospedagem não carecem de dinheiro público, pois são entidades (hotéis, clubes e associações) privadas;
  • Como nos jogos a visibilidade é só para patrocinadores FIFA, as marcas que patrocinam as seleções despejam muito dinheiro nos locais de treinamento, onde a publicidade pode aparecer para o planeta;
  • Eventuais obras de infraestrutura bancadas pelo poder público, se necessárias, serão mínimas e ficarão para a cidade depois da Copa.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

O Bacalhau que Chora

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Adoro esse peixe que nada em águas nórdicas e faz sucesso nas receitas portuguesas. Agora a plebe crepuscular tem uma boa opção para degustar bacalhau na Grande São João. Acreditando na indicação do amigo Ricardo “Caminhão” Nasser, subi a serra para sorrir n’O Bacalhau que Chora.

O restaurante (link aqui) que tem um jeitão de bar fica fora do eixo turístico de Poços. O lugar é bem ajeitadinho, mas sem nenhum requinte. A boa surpresa é o cardápio, com meia dúzia de pratos de gadus morhua (bacalhau, no jargão científico).

Aceitei a sugestão do garçom e pedi uma bela posta dele grelhado com alho, acompanhado de brócolis, vagem, azeitonas pretas e cenoura. Este (foto acima) custa R$ 39,90 e serve bem o sujeito que tenha um apetite civilizado.

Como civilidade nas porções não é uma virtude deste escriba, encerrei a refeição com outro pedido: o prato que tem o mesmo nome da casa. O Bacalhau que Chora (foto abaixo) é uma cebola grande, assada, coberta com queijo, que vem recheada com bacalhau desfiado, cebola, alho e cheiro verde. Ele chega à mesa guarnecido por um digno purê de mandioquinha. Você gargalha de alegria ao descobrir que o choroso acepipe custa menos de R$ 18,00.

Também há algumas opções pra quem não aprecia o peixe. Botei reparo na travessa do vizinho, que tinha uma linda porção de costelinha de porco grelhada com molho barbecue e fritas.

Neste sabadão fomos abençoados por muito mais que uma trégua do calor.

Sorria, sorria muito! O bacalhau chora bem pertinho de Sanja!

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Onde?

Rua Major Joaquim Bernardes, 526
Bairro Aparecida
Poços de Caldas - MG

(35) 3714-7080

http://www.obacalhauquechora.com.br/

sábado, 21 de janeiro de 2012

Corpo e alma

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Experiência sensorial marcante há pouco no FELICE GOURMET. Gastronomia e música. Alimento para o corpo e para a alma.

O restaurante que, pela comida e ambiente, já caiu no gosto da nação crepuscular, viva!, agora também atrai quem quer som de bom gosto. De muito bom gosto.

Já conhecia o bufê excepcional no almoço. Hoje fui provar o jantar a la carte da talentosa chef Alessandra.

Escolhi um filé flambado com risoto de funghi, mas também cobicei (e fotografei) a truta com amêndoas, aspargos e arroz negro da mesa vizinha.

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A pinhalense Jô Martucci foi a agradável surpresa melódica da noite. Eclética no repertório, afinadíssima e dona de um timbre maravilhoso, a cantante faz uma harmônica dupla com seu pai, que é instrumentista. É aquela música que agrada e que reverbera num volume civilizado pra não invadir a conversa nas mesas.

E ainda terminei a refeição com mais agrado ao paladar: amoras flambadas com sorvete de creme. O contraste entre o azedinho saboroso da fruta vermelha com a suave baunilha do creme gelado.

Notável repasto, sob todos os aspectos.

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