sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

Yucatécas


 A felicidade em Cancún vem num copo longo de mojito nos bares molhados das enormes piscinas dos hotéis espetaculares. Vem também no lindíssimo mar azul-esverdeado e na areia clara da famosa Riviera Maia. Tanto mimo, conforto e beleza, creiam, não rende mote ao cronista. A inspiração para o gênero está no inusitado, na gafe, no engraçado, está longe da perfeição estética de um mundo cor-de-rosa. Então...

Por um dia renunciamos, eu e Josi, a esta comodidade estrelada do resort all inclusive para conhecer um México menos cinematográfico e mais real. Optamos por um passeio no vizinho estado de Yucatán.

Primeira parada: a cidade colonial nominada Valladolid, fundada em 1543. Quando o ônibus estacionou na praça central da igreja de São Gervásio, o guia deu uma estranha saudação de boas-vindas. Disse o profissional ao sacar uma mochila e oferecer frascos de repelente por 10 doletas: “Protejam-se, a região está infestada de chikungunya e zika vírus”. Que merda! Além do corona teríamos que nos preocupar com outros bichinhos escrotos. Resultado do alerta e do preço abusivo do repelente de rótulo suspeito: depois da foto clássica em frente ao templo católico do século 16, saímos em disparada buscando uma farmácia que tivesse marcas mais confiáveis e preços menos doloridos. Ao ver dois caipiras suados regressando ao coletivo, o guia questionou: “¿Ustedes están bien?”.

Segunda parada: um povoado (ou pequena cidade) maia de nome Xocenpich. Um senhor maia nos esperava à beira do mato com uma mesa cheia de peças de artesanato. Enquanto ele nos abençoava numa pequena cerimônia nativa, outro homem nos rodeava espalhando fumaça de incenso. Não tive certeza se o fumacê era parte da celebração maia ou se era para espantar os mosquitos virais que infestavam as cercanias. Certeza eu tive das intenções mais comerciais do que espirituais da, com o devido respeito, pajelança. Terminada esta, fomos informados do quão importante seria comprar o (caro) artesanato bento. Também fomos convidados a uma ses$ão particular com o líder religioso. Temi pela nossa alma, pois não fiz nada do pre$crito. O almoço tipo buffet, ali mesmo e incluso no tour, foi no restaurante Yaxkin. Se o espírito não foi alimentado, o corpo foi abençoado com fantásticos tacos al pastor e de COCHINITA PIBIL, ambos preparados com tortillas feitas manualmente. Vá no Google, digite COCHINITA PIBIL e entenda o que esta iguaria de carne de porco significa para Yucatán.

Terceira parada: Chichén Itzá, o incrível complexo arqueológico que foi o centro da civilização maia. O local, que é Patrimônio da Humanidade (UNESCO) desde 1988, abriga ruínas que têm uma gigantesca dimensão histórica. Fomos conduzidos no passeio pelo guia Rodrigo que, além de ser um conhecedor profundo da cultura maia, nos surpreendeu ainda com saberes mais contemporâneos no findar da visita: “Te daré consejos para conseguir fotos geniales para tu Instagram”.


Quarta parada: um CENOTE. Até semanas atrás eu não sabia o que é um CENOTE. Nada a declarar, exceto a correria que foi saltar do autobús, comprar bilhetes, colocar roupa de banho, tomar uma ducha, descer ao CENOTE, cair na água, posar para fotos, apreciar a maravilha natural, trocar o traje mínimo e, ufa!, retornar ao  veículo. Tudo isso em trinta sufocantes minutos! 

terça-feira, 1 de dezembro de 2020

Arab Food Gourmet

Sírios e libaneses estão na origem genealógica de Rosana Issa El Baba e Ivy Nasser. Morando no mesmo condomínio em São João, elas se conheceram e a amizade foi forjada na cozinha.


A paixão pela culinária do Oriente Médio e o incentivo de familiares e amigos fez nascer em julho último o Arab Food Gourmet, que tem uma proposta de delivery em que o comensal precisa encomendar com um mínimo de 12h de antecedência. Nenhum item da carta carece de frescor, tudo é preparado momentos antes da chegada à mesa do cliente.


Ivy tem na bagagem o trabalho com culinária árabe na sua São José do Rio Pardo natal. Rosana e o marido têm histórico de labuta na mesma gastronomia no Paraguai e na Argentina. Ela também frequentou cursos em fogões do Egito, Emirados Árabes e Líbano.


Fui regalado com o kit da imagem. O Kibe Trípoli, uma torrinha cujas camadas intercalam quibe cru, labneh (coalhada seca), hashweh (carne moída e especiarias), folhas de hortelã e cebola crispy, veio acompanhado de labneh, homus, tabouli, salada de chancliche e pão folha. Impecável conjunto em que a perfeita apresentação está à altura do magnífico sabor.


Sobre sua comida, Rosana divaga: “As especiarias e a cultura da minha origem atravessaram oceanos com algum propósito. Eu tenho que honrar meus ancestrais”.


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Arab Food Gourmet 

De terça a sábado 

(19) 99932-7098

quinta-feira, 12 de novembro de 2020

Pórva no Tio Sam

—Acabou a saliva, tá ok? Agora é ação, mobilize as tropas. Pra cima deles, porra!


—Capitão, não é melhor...


—Não fode, general, sem me questionar, para de ser maricas e vamos para as trincheiras. E outra coisa: aqui eu sou presidente, capitão ficou no meu passado. Pra cima deles, porra!


—Pensou numa estratégia, senhor?


—Não fode, general, quem pensa muito é intelectual de esquerda e economista tucano. Aqui ninguém pensa, aqui nós agimos. Pra cima deles, porra!


—Atacamos pelo Atlântico ou pelo Pacífico?


—Cerca tudo, quero encurralar o Biden até pelo Golfo do México. Pra cima deles, porra!


—Precisamos de mais porta-aviões para uma missão desse porte, senhor.


—Pede pro Flávio e pro Queiroz que eles arrumam dinheiro vivo pra reforçar nossa frota. Pra cima deles, porra!


—Já que o senhor é da caserna, pensamos em chamá-lo para chefiar a missão. Olha o simbolismo que isso teria para nossos apoiadores. 


—Não fode, general, não vem me arrumar dor de cabeça. Eu vou ficar no Twitter elevando a moral dos nossos homens e demonizando a vacina do Doria. Deixa eu fazer o que eu sei. Ah, não esquece de espetar nossa bandeira no topo daquele prédio do King Kong. Pra cima deles, porra!


—Mais alguma ordem, senhor?


—Fica aqui do meu lado e faz arminha que eu vou fazer uma live anunciando o início da operação “Pórva no Tio Sam”. Pra cima deles, porra!

sexta-feira, 30 de outubro de 2020

Progetto Pizzeria

Molecada talentosa, agitada, ousada, inovadora. 

Jorge, 25, curte cozinha e se arvorou a brincar com levain. A ideia inicial era usar o fermento natural em pães. A brincadeira gostosa se estendeu às pizzas. Amigos e família: “Que massa é essa!”. Moisés, 26, amigo de infância de Jorge: “Que coisa deliciosa! Vamos abrir uma pizzaria!?”. Isabella, 23, namorada de Jorge: “Eu tô dentro”. Eduardo “Du Comidaria” Pradella, um velho senhor de 35 anos, chef que tem experiências do Velho Mundo na bagagem, se juntou ao trio para dar forma ao quarteto Progetto.

 

Passados alguns meses em instalação provisória e ajustando a operação, a Progetto Pizzeria tá na área, arredondando paladares, só no delivery, fazendo a chamada pizza neo-napolitana, que segue a tradicional da Bota em muitos preceitos —massa de longa fermentação, preparo do molho, tamanho do disco, borda e temperatura do forno—, mas que arrisca algo fora da rigidez das redondas vero napoletanas. O baita forno que chega a 400°C é a gás, no entanto não prejudica o [belíssimo] conjunto final. Alguns sabores são um tanto fora do convencional, porém não bizarros, se comparados às ortodoxas de Napoli. 


Ouçam duas das doze melodias das bordas tostadinhas: 1) molho de coalhada, mozzarella, bacon artesanal, parmesão, gema, pimenta do reino e azeite. Carbonara é o nome da redonda. 2) Mais uma: Amatriciana tem no disco, prestenção!, molho de tomate, mozzarella, parmesão, bacon artesanal, cebola roxa, salsinha, azeitona preta, pimenta do reino e azeite.

Catupiry, frango, filé, milho, batata frita… Quer algum destes ingredientes na pizza? Sorry, guys, peçam em outro lugar.


Sextas e sábados, a partir das 18h30

Pedidos: telefone e site

(19) 99834-9169

clique aqui e peça 



terça-feira, 27 de outubro de 2020

Frutas Del Bosque

O amigo crepúsculo-argentino, Alberto Umhof, radicado nestas plagas macaúbicas desde 2000, empreendeu por duas décadas no segmento de telecomunicações. Foi ele o fundador da conhecida BVCi. Vender a empresa para um grande grupo poderia sinalizar um merecido retiro dolce-far-niente. A curtição veio com um sítio no topo da Serra da Paulista. O dulçor veio com um pomar de amoras e framboesas. O fazer nada não vingou. Apaixonado pela nova propriedade, Alberto e a mulher Graciela adiaram a aposentadoria para cultivar frutas vermelhas na geografia serrana que tanto seduz nesta província abençoada pela divindade da natureza. Frutas Del Bosque é o nome do selo que embala as deliciosas frutas rubras que servem para sucos, geléias, caldas, saladas etc, e que também têm na cor, nos sabores e nas formas sutis apelos eróticos. 


O post é ilustrado com a obra do chef Jose Luiz Gabriel da Doce Vida: a clássica pavlova, cujo leve suspiro é recheado com creme pâtissier e coberto com calda de amoras e framboesas. Frutas vermelhas frescas finalizam a sobremesa.



🍒 🍓🍒 🍓🍒 🍓

Frutas Del Bosque: 19 3636-4611 // 19 98184-8394

Doce Vida: 19 98194-0091

sábado, 24 de outubro de 2020

Ciao Gelato & Caffè

O forte sotaque paulistano entrega que Marília, a cidade, só ouviu o primeiro choro de Paulo. Na capital ele brincou, cresceu e fez a vida. O casamento com a sanjoanense Luiza fez ele se apaixonar também por este irresistível pé da Mantiqueira. Morar em São João veio como um imperativo do coração e como um desejo de dar qualidade de vida à filha Helena.


Brilhando de tão nova, a Ciao Gelato & Caffè, by Paulo e Luiza, foi concebida num caldeirão que mistura este torrão serrano com experiências gastronômicas notadamente italianas. Sorvete e café feitos seguindo os preceitos da Bota sem medo de mesclar com cores, temperos e ingredientes regionais.


Doce de leite Montezuma, milho e geleia de Águas da Prata, pães da Ueba e da Nita, amora da Serra da Paulista, queijos Roni, café de São Sebastião da Grama...


Na Durval Nicolau, o lugar gostoso, moderno, claro, arejado e acolhedor tem destas cercanias montanhosas muito, mas muito mais do que uma Boa Vista.


🍦☕️🍦☕️

Av. Durval Nicolau, 698

São João da Boa Vista, SP

sábado, 10 de outubro de 2020

Banana Split


Minha vó Fiuca, fim dos anos 70 até o começo dos 80, era assídua freguesa das Lojas Americanas de Campinas e Ribeirão. Era um conceito moderno de comércio para a época. Dentro da loja, eu achava o máximo, havia lanchonetes. Foi numa das Americanas que tomei –depois, óbvio, de um hambúrguer– minha primeira Banana Split, naqueles balcões típicos norte-americanos. Em São João, puxando as lembranças, tomava Banana Split no Tekinfin, na Dona Angelina, na Bambi... 


Hoje em dia, vez ou outra, revisito nostalgicamente essa taça tão clássica na não menos clássica Sorveteria Macaúba. Gosto do desenho tradicional com as bolas de chocolate, nata e morango.


Geograficamente, venço um quarteirão até a Macaúba; afetivamente, volto quarenta anos atrás.

Yuzu

Na Liberdade. A indicação e a companhia de uma amiga que conhece boa comida. Numa das mesas, um distinto senhor oriental empunha os hashis com a habilidade de quem sabe. A fachada não chama a atenção, tampouco há glamour no sóbrio interior que remete a um Japão mais tradicional. Não quero shopping, não quero restaurantes bacaninhas de rede e sabor industrial. Quero Liberdade! Quero Bom Retiro, quero Centro, quero Moóca, quero Vila Sônia, quero Freguesia do Ó, quero Brás... quero restaurante de rua!

Pizza feelings


A paixão por pizza já me fez cometer algumas loucuras. Numa viagem de trem de Roma a Pompeia, a escala de hora e meia em Napoli não me impediu de sair da estação tresloucadamente pelo Centro da cidade —que eu não conhecia— única e exclusivamente para comer redondas na capital delas. Era um domingo e a intenção eram os discos da lendária Da Michele. A famosa pizzaria do filme “Comer, Rezar e Amar” estava fechada, o que aumentou a ansiedade deste roliço escriba. O Google contou que nas proximidades a Trianon da Ciro seria tão boa quanto a Da Michele. E foi! Enquanto comíamos, eu e Josi, a melhor pizza de nossas vidas, meu olho estava no relógio dividindo a atenção com o pizzaiolo que não parava de falar o quanto ele idolatrava o centroavante Careca, que fez com Diego Maradona a dupla mais infernal da história do time napolitano. Chegar esbaforido de volta ao terminal Napoli Centrale não foi nenhum incômodo depois daquela inesquecível pizza tão marcante quanto as incríveis ruínas de Pompeia.

Desde aquele março de 2014, buscar pizzas “vero napoletanas” passou a fazer parte da cesta básica da existência deste compulsivo cronista. Comi algumas realmente boas em outra viagem à Itália, em New Haven (EUA) e também em São Paulo na Napoli Centrale —olha o nome aí de novo— do Mercado de Pinheiros. No último mês de 2019 descobri uma “vero napoletana” não tão longe de casa. A Hannds de Mogi Mirim, antes da pandemia, me botou meia dúzia de vezes na estrada para devorar suas fantásticas e corretíssimas redondas. O isolamento pelo vírus maldito tirou violentamente a Hannds dos nossos deleites de outono e inverno.

Nesta primavera nascente, Josi foi a Mogi Mirim por motivos originalmente não tão prazerosos e, glória!, retornou com o carro revisado e com quatro lindezas napolitanas da Hannds que foram dignamente reavivadas no nosso modesto forno doméstico. Meu doloroso interregno acabou, acreditem!, na mesa de afetos da Tereziano Valim.

quinta-feira, 3 de setembro de 2020

Bedrock, o retorno

Que massa! Que molho! Matei a saudade, matei a vontade!


Aquele lugar fundado em 2002 que gravou sua marca na alma da cidade. No início, localizada no começo da Durval Nicolau, um barranquinho tinha que ser vencido pelo comensal que quisesse saltar da calçada para dentro da rústica pizzaria. Um som maneiro, às vezes ao vivo, um piso terroso, um atendimento despojado, a lenha queimando em homenagem às redondas deliciosas de nomes inusitados servidas na pedra. Claudinho Flaminio foi o idealizador —e construtor— da Bedrock. Claudinho era o cara.


Claudinho ainda é o cara. Agora, junto com o inquieto Renan Menezes, numa outra altura da Durval Nicolau, eles fizeram a Bedrock renascer cercada de bairros nobres e de condomínios que concentram o PIB crepuscular. Na concepção da nova casa há referências agrestes que remetem às origens. O prédio é zerado, bacaninha e funcional, erguido num dos chãos mais desejados da província, mas a essência Bedrock continua ali, temperada com a vibe da espontaneidade e aquecida com o forno de afetos de quem assa o que ama.


Pizza na ardósia e play no reggae, Sanja people, a Bedrock voltou!


🍕🍕🍕

Por enquanto, só no delivery

De segunda à segunda, a partir das 18h

19 3631-0300 // 19 99186-3155




segunda-feira, 31 de agosto de 2020

Café Galeria

Um casarão estiloso de 1894 construído pelo coronel Cristiano Osório de Oliveira. O elegante imóvel em Poços de Caldas era destinado a veraneio do ilustre personagem da história de São João da Boa Vista.


Hoje, propriedade do Instituto Moreira Salles, a edificação restaurada abriga um charmoso café onde o cliente pode comer e beber nos suntuosos salões, na varanda ou no jardim sob jabuticabeiras. 


O lugar por si só já valeria a visita, mas eles ainda têm a audácia de bem servir um montão de gostosuras. 


☕️🧇 ☕️🧇 ☕️🧇 

Rotina Café Galeria

de terça à sexta, das 14h às 19h

sábados e domingos, das 9h30 às 19h

Rua Teresópolis, 90

Poços de Caldas, MG


domingo, 16 de agosto de 2020

Home Office

Quase 150 dias trabalhando em casa. No que concerne à labuta em si: outro ambiente, outra disciplina, outras formas de produzir, outras maneiras de abordar clientes, outros trajes, outros horários. A tecnologia auxiliando fantasticamente na comunicação, nos métodos, na organização e no registro dos contatos. O saldo tem sido muuuito positivo. 

🏡 💻 📱

Uma cliente, preocupada com a ausência do contato visual, solicitou uma chamada de vídeo para saber se eu era eu mesmo. Família dela toda na sala olhando para este gordo operário na tela do celular, e a senhora festeja espantando a desconfiança: “olha lá, é ele mesmo, é o seu Lauro mesmo, não é golpe”.


Por pouco não arrisquei uma performance coreografada para tão seleta audiência. 

terça-feira, 11 de agosto de 2020

Cagaço


Depois de um dia longo, calórico e etílico, resolvo aliviar a culpa pelos excessos abdicando do carro para vencer a pé o chão terroso das imediações do Coqueiro Torto à Fonte Platina.

Quase 19h e a escuridão reina na estrada sinuosa. O frio da montanha bate inclemente no meu rosto.

No meio do caminho, perto de uma ponte, algumas reses perambulam pela mesma trilha. Que diabos fazem aqueles ruminantes ali, vagando sem rumo na imensidão da noite?

Miro neles a lanterna do iPhone para sondar as reais intenções daquele pequeno rebanho. As pupilas dos bichos brilham ameaçadoramente. Sinto-os acuados e acuado eu também fico. Dois ou três touros ostentam chifres mortais. Um deles se aproxima e faz algo como se fosse um sapateado pra me botar medo. Consegue. Sou tomado por um cagaço e solto instintivamente: “Ôôôôô!”. Não sei pra que esse som serve, mas meu algoz se afasta um pouco.

Metros à frente, dois dos chifrudos resolvem brigar. Enquanto eles se enfrentam num assustador combate de cabeças, os mugidos ecoam na floresta enquanto os outros desgraçados me cercam. Achei que me fazer de estátua seria prudente. Paralisado e apavorado, senti verdadeiramente que o meu fim estava próximo. Seria, talvez, uma vingança da espécie pelas centenas de picanhas que me deleitaram ao longo da vida.

Os faróis do meu Honda —Josi ia me resgatar na Fonte Platina— jogam luz naquele ambiente tenso. Os bovinos se distanciam com o ronco do veículo. Menos aturdido, eu desisto da caminhada, me aboleto no banco do passageiro e mais convencido fico da minha total incompatibilidade com o gado. 

segunda-feira, 3 de agosto de 2020

Do Genoma à Xícara

Andréa, a idealizadora e guia do roteiro
Um programa de fim de semana que valoriza uma das maiores riquezas da Mantiqueira. A vocação cafeeira de Espírito Santo do Pinhal, SP, mostrada em detalhes num gostoso passeio de quatro horas que começa no Centro da cidade, passa pela lavoura e termina num café caipira à mesa de uma propriedade centenária. 

O tour que junta História, conhecimento técnico e gastronomia foi idealizado e é guiado pela engenheira agrônoma, pesquisadora e ativista Andréa Squilace de Carvalho. Neta de italianos e filha de cafeicultor, ela é uma pinhalense entusiasta da gente e da cultura do seu torrão natal. 

No fim da jornada no Sítio Santa Rita do Olho d’Água, harmonizando um café coado à moda antiga com pão caseiro, manteiga, geleia de jabuticaba e bolos —o de limão cavalo é de outro mundo—, Andréa conta o quanto ela gostaria que mais turistas de Pinhal e região fizessem o roteiro que tantos paulistanos e estrangeiros fazem e se apaixonam. 

☕️☕️☕️ 
Contato: 19 99921-1272 
[o passeio para grupos de no máximo dez pessoas segue todos os protocolos sanitários relacionados à covid-19]

☕️☕️☕️ 
Mais fotos do roteiro:









domingo, 19 de julho de 2020

SOÉCO

Carolina, a inspiradora da marca, com a irmã Isadora
Carolina Palomo morou na Índia e estuda Naturologia em Santa Catarina. Ela é uma jovem sanjoanense que busca viver em harmonia com o planeta. Nessa nobre luta por sustentabilidade, Carol pediu à avó costureira que confeccionasse para seu uso um absorvente íntimo reutilizável. As amigas de universidade dessa brava geração que combate os bons combates compraram a ideia do respeito ambiental. Mas, óbvio, ninguém queria abrir mão do conforto. 

Carolina inspirou Andresa que convidou Gabriela. Gabriela é prima de Carol e sobrinha de Andresa. Andresa é mãe de Carol e tia de Gabriela.  

Andresa e Gabi estão empreendendo. Lógico, querem o êxito e o que dele advir, mas querem principalmente contribuir com pequenas-grandes mudanças culturais que proporcionem um consumo responsável e menos agressivo à Terra. Além disso, há benefícios à saúde da mulher na troca de um produto permeado por substâncias químicas por outro que é de tecido 100% algodão. 

Há estudos que mensuram uma mulher —da puberdade à menopausa— descartar no lixo, que loucura!, 14 mil absorventes. 

Sinto informá-los que óbices anatômicos impediram-me de dar um testemunho baseado num “test-drive” do produto, mas, troças de lado, exalto a SOÉCO, uma empresa de gente amiga da minha aldeia, uma empresa forjada em princípios e valores que pregam mais consciência por um mundo melhor.


Andresa e Gabriela Palomo, as empreendedoras

sábado, 4 de julho de 2020

Arlanch Massas Artesanais

Já falei por aí que o isolamento nos trouxe de volta o prazer de comer em casa, a revalorização dos nossos quintais e áreas domésticas de lazer. Cozinhar é bom, trazer boa comida pro nosso canto também é delicioso.

Conheci inúmeros novos sabores nos últimos meses. E uma das coisas que mais me surpreendeu foi a Arlanch, uma marca pinhalense de massas artesanais. Pati Noronha, da Carnes Mantiqueira, foi quem me apresentou o selo através de um incrível capeletti de ragu de carne.

Fui atrás do fio da pasta e descobri Mayra Arlanch, natural de Brotas e radicada em Pinhal, uma apaixonada pela culinária que traz no DNA os antepassados da Velha Bota e na memória afetiva as massas e os molhos da avó Zulmira.

Herdar a mão da matriarca e os segredinhos do seu fogão foram estímulos para Mayra confeccionar pastas em escala comercial sem jamais abrir mão da alma homemade da comida.

Terminei a semana recebendo na minha porta “o” presentão da Mayra: um generoso pot-pourri da Arlanch composto de cannelloni de espinafre com cream cheese, manicaretti de alho-poró, manicaretti caprese que leva mozzarella, tomate cereja e manjericão e, sublime dos sublimes, manicaretti de damasco com cream cheese.

Onde foi a degustação da belíssima seleção? No meu quintal. 
As massas foram bem acompanhadas do molho bechamel da Josi e do copa-lombo defumado do Empório 3 do amigo Renato Pires. 

🍝🍷🍝🍷 
Em São João, na Carnes Mantiqueira 
Em Pinhal, pelo zaPasta 19 99984-0490

domingo, 21 de junho de 2020

Sanja Fried Chicken

Em razão de princípios morais, éticos, religiosos e gulosos, aceito ofertas para experimentar e opinar sobre comidas da província. Por alguma estranha razão, gostam que eu fotografe e escreva em cima daquilo que provei. Por alguma estranha razão, eu gosto da missão a mim confiada. Nessa militância gastronômica, me considero um sujeito afortunado por aprovar a maioria do que me oferecem. Algumas vezes, a coisa é abaixo do decente. Quando isso ocorre, privadamente dou um feedback sincero ao ofertante e não espinafro ninguém publicamente nas minhas mídias.

Confesso que às vezes não boto muita fé no “você nunca comeu nada igual”. Nestes casos, minha intuição costuma funcionar. Sim, também quebro vergonhosamente a cara nos pré-julgamentos.

Então…

Não sou um fã ardoroso do frango frito do KFC. Prefiro mais o nosso franguinho frito, bem temperado e sequinho, sem empanar. Também sei da complexidade de fazer bem feito a especialidade penosa que os norte-americanos veneram. Não é fácil chegar numa mistura boa de temperos e itens de empanamento, como também não é fácil uma fritura perfeita que deixe o frango sequinho e crocante por fora e suculento no interior.

Quando Marcos Gabriel ofereceu-me a versão crepuscular do frango do Kentucky, fiquei com um pé atrás. Será que o jovem —21 anos— empreendedor nascido em Tapiratiba seria capaz de reproduzir dignamente a iguaria?

Feliz e satisfeito, quebrei vergonhosamente a cara! Mais do que reproduzir o empanamento do KFC, Marcos criou seu mix e método próprios de empanar, além de um tempero singular com oito especiarias. Muuuuuito, mas muuuuuito melhor do que o KFC.

🍗🍗🍗 
Frangotis Fritin
Delivery de terça a domingo, a partir das 19h
19 99490-8646 // 19 99587-3150

sábado, 20 de junho de 2020

P de pizza, P de Poiano!

Oriundo da Grande São Paulo, o descendente de italianos Antonio Poiano foi um dos precursores da pizza em São João da Boa Vista. As redondas chegaram à terrinha em 1964, quando ele comprou o Bar Jussara na Praça Coronel Joaquim José. Nascia ali, no coração da província, uma tradição familiar que resiste até hoje. À época, Antonio ensinou o ofício pizzaiolo aos filhos Zé, Roberto e Horácio. Todos eles, em negócios próprios, n’algum momento enveredaram pelos caminhos ensinados pelo pai. Tekinfin, Master Pizzas e Pizzaria Poiano são casas que têm nas suas cartas a grife Poiano de pizzas. Zé e Roberto, falecidos, têm os nomes honrados pelos filhos que abraçaram seus legados. Horácio, 70 anos, mantém bravamente aberta sua Pizzaria Poiano desde 1977. Só no delivery, de sexta a domingo, ele, enquanto tiver força e saúde, vai persistir servindo aos crepusculares o pioneirismo redondo de quase seis décadas de Antonio Poiano.

A pizza do post, uma bem montada portuguesa, é a campeã de pedidos do forno de Horácio Poiano.

🍕🍕🍕
Disk-Poiano: 19 3623-3626