segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Cassinho, o rejeitado










Apologista da ditadura militar, Cássio Lima da Pérsia Júnior era o êxtase em pessoa sob o chumbo totalitário dos anos 70. Também podemos dizer que o sujeito nunca foi afeito aos bons modos.
            Nos mesmos cinzentos anos, Cassinho dedurava qualquer um que ousasse desafiar os governantes de farda. Achava a juventude um perigo para o regime. O consagrado jornalista Luis Habib, entre uma esfiha e outra, contou ao blogueiro a que ponto chegou a neura do insano delator.
            “Prezado Lauro, infelizmente estou atolado em serviço, caso contrário contaria o episódio em que eu e um grupo de amigos que fazíamos teatro em São João fomos dedados pelo Cássio para o serviço de informação do Segundo Exército. Não se tratou meramente de uma discordância doutrinária, mas de um sujeito que utilizava o poder das baionetas para ameaçar, inclusive de prisão, meros adolescentes que ousaram encenar a peça “Liberdade, Liberdade” na região. Em minha vida profissional já convivi com discordâncias profundas, mas jamais algo dessa natureza, de uma pessoa nascida em São João, não ter o escrúpulo de denunciar adolescentes, seus conterrâneos, sujeitando-os eventualmente até a prisões e torturas, muito comuns na época. Até hoje não compreendo o que faz pessoas agirem assim, de levarem discordâncias de bar ou de escola para os porões de um ambiente militar. Falei que não ia escrever, e acabei escrevendo. Utilize como quiser. Um abraço. Luis Habib. 11/03/2000”.
            Dada a clareza da história narrada pelo Habib, abstenho-me de acrescentar qualquer comentário ao triste relato. Mas segue o andor.
Causídico pseudo-erudito de uma família tradicional na província crepuscular, Cassinho achou que tinha estatura gastronômica suficiente para ingressar na Confraria dos Comedores de Macaúba. Inscreveu-se para o sufrágio e, num descuido, talvez, foi eleito.
Não obstante seus reprováveis maus modos, ele posava de bom samaritano e, como tal, foi à missa na igreja do Perpétuo Socorro agradecer pela sua improvável e quase milagrosa eleição à Confraria. Deu azar.
O azar dele foi a sorte da Confraria, do Brasil e vestia batina. O celebrante era um entre os vários representantes da fé católica que bravamente combatiam a ditadura vigente. Enquanto na cerimônia os ritos litúrgicos eram seguidos, a paz reinou. Bastou a palavra livre na homília para que os instintos mais primitivos de Cassinho fossem provocados. Para perplexidade dos fiéis, o iracundo defensor das tiranias usou toda a sorte de impropérios para desacatar o padre.
Claro que o verbo de baixo calão de Cassinho ecoou pelas esquinas desta Sanja. E a Confraria não foi surda à voz das ruas. O eleito não seria empossado por falta de decoro. E não foi. Furibundo, recorreu às mais altas instâncias da Justiça para comer macaúba com confrades e confreiras. O tribunal, lúcido, respondeu-lhe: “Comer macaúba pode, mas em casa, quietinho. A Confraria é soberana pra decidir quem quer entre os seus. E, meu caro Cássio Lima da Pérsia Júnior, parece que a Confraria preza os bons modos no convívio entre os pares”.
Cassinho, alguns sabem, não economiza em adjetivos pejorativos quando fala deste escriba internético. Dentre os vários já proferidos, nunca fui tachado de sonolento na percepção de notícias relevantes. Ele não falou, mas eu confesso: fui de uma imperdoável inépcia ao não propagar que em março de 2008 o Tribunal de Justiça de São Paulo rejeitou Cassinho no seu rol de desembargadores. E rejeitou por que, podem querer saber alguns súditos da Beloca. Vai lá, transcrição literal de trecho da nova publicada em 15 de março de 2008 no site Consultor Jurídico:
“As três novas listas da OAB paulista chegaram ao TJ quase no mesmo momento em que o STJ barrou seis candidatos da OAB nacional para preencher uma vaga aberta na corte. Os ministros usaram de diplomacia para vetar os nomes, ao contrário do tribunal paulista que, em junho do ano passado, devolveu a lista para a seccional da OAB com a justificativa de que dois dos candidatos indicados pelos advogados não preencheram os requisitos mínimos para ocupar o cargo.
De acordo com o tribunal paulista, um dos candidatos não tinha reputação ilibada e, ao outro, faltava notório saber jurídico. O primeiro, o advogado Cássio Lima da Pérsia Júnior, teria sido processado por desacato. Para os desembargadores, isso contaria pontos contra sua reputação”.
Joelho no milho é pouco para tamanha desatenção com meus conterrâneos que, bem mais espertos que o autor destas, sabem que pra bom macaúbico, meio pseudônimo basta.
Proezas são muitas entre os sânjicos espalhados pelo planeta. Quando percebo, carimbo com prazer: “Sanja se orgulha dos seus”. Mais raro, sim, mas, vez ou outra, um dos nossos é recorrente em pisadas na bola. Pelos maus modos de Cassinho, este sonolento comedor de macaúba não vai se omitir:
Sanja, por vezes, se envergonha dos seus.


3 comentários:

Eriko disse...

Caríssimo Amigo Lauro, nosso Escriba! Saudações!
Como dizia o ditado, a verdade tarda mas não falha, o que vale em qualquer situação, não sendo necessária suas honrosas escusas, pois não caducou a notícia!
Importante é divulgar o cotidiano crepuscular e de seus conterrâneos, tanto nos momentos memoráveis, como nas imperdoáveis agruras que cometem na terrinha, sempre narrando de forma clara, criativa e bem humorada, fatos notórios e/ou curiosos, cuja importância faz merecer o seu comento!
Ótima matéria, abraços!

Anônimo disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Anônimo disse...

Contundente texto, com a marca registrada do blogueiro.
PM