Ter espaço durante alguns anos em periódicos da província pode provocar enganosas impressões em leitores desavisados sobre a inépcia do escriba.
Tarde destas, um destes pobres incautos que me acha dotado de amplos conhecimentos, quis saber a minha opinião sobre a Copa 2014 em terras brasucas.
Indolente e bronco de marca maior, respondo tardiamente, mas falando só da minha aldeia.
Algumas notas sobre a Copa 2014 em São Paulo:
1. O alijamento do Morumbi como arena paulista para o Mundial 2014 foi uma manobra de bastidores ardilosamente engendrada por Ricardo Teixeira, pelo corintiano Andrés Sanches e pelo todo-poderoso secretário-geral da FIFA, Jèrôme Valcke. O enredo velhaco só obteve êxito porque contou com a omissão deliberada do ministro Orlando Silva e do governo de São Paulo;
2. A rejeição ao Morumbi, um estádio 100% privado que não teria um centavo de dinheiro público a fundo perdido para se adequar às exigências da FIFA, é uma afronta à boa gestão das finanças públicas;
3. O futebol de primeiro nível movimenta uma montanha de dinheiro no Brasil e no mundo. Num país como o nosso, com as nossas carências, é uma zombaria injetar dinheiro público para construir e/ou reformar estádios;
4. O Fielzão, ou o Itaquerão, essa aventura faraônica de um bando de desmiolados, tem enormes possibilidades de jamais sair do papel. E, se sair, contará com a sangria criminosa dos cofres governamentais. Serão recursos públicos irrigando investimentos particulares;
5. É fato que o Morumbi de hoje carece de muitas adequações para receber jogos de uma Copa do Mundo, mas é fato também que o projeto de reforma do estádio de autoria do genial Ruy Ohtake ―repito, sem dinheiro público― colocaria o Cícero Pompeu de Toledo no panteão das arenas mais modernas do planeta;
6. Fosse mais cheio de brio, o governo bandeirante deveria bater o pé e não abrir mão do Morumbi para a Copa 2014. Contaria, certamente, com o amparo da maioria dos paulistas. E, pela pujança econômica e representatividade do estado, FIFA e CBF, mais hora, menos hora, se curvariam aos anseios de São Paulo;
7. Acho uma bobagem essa coisa de bairrismo e de acirrar rivalidades entre RJ e SP, mas existe um núcleo forte de cariocas no Comitê Organizador da Copa que quer minimizar a participação de São Paulo no evento, vide o caso do Morumbi, a escolha do Rio como sede do Centro de Mídia do Mundial e as constantes ameaças de tirar da capital paulista o cotejo de abertura;
8. Com muita propriedade, Juca Kfouri grafa no seu blog: “São Paulo deveria fazer valer a máxima do lema de sua capital, ‘Non ducor, duco’ (‘Não sou conduzido, conduzo’) e determinar à Fifa e à CBF que ou as coisas seriam feitas como se deve ou São Paulo abdicaria da Copa”.
5 comentários:
Penso da mesma forma. Aliás, acho que São Paulo já deveria ter dito há muito tempo "fiquem com a Copa". Aconteceu que tem gente que gosta de migalhas (como um certo presidente de clube amigo do RT) e vai se contentando com elas. Pois que fique com as migalhas.
O escriba sanjoanense foi paulista, paulistano e são-paulino, ainda que em nenhum momento tenha "puxado a sardinha" para o seu clube do coração. Texto lavrado com lucidez e propriedade. Saudações macaúbicas.
Querido Lauro, parabéns pela análise lúcida e realista. Concordo em tudo com você! Estamos diante de uma Máfia que tem como maior, e talvez único, interesse se enriquecer ainda mais diante de mais uma grande oportunidade de assaltar o erário público de forma descarada. Importante, aliás, reforçar que esta discussão definitivamente não inclui a paixão por um ou outro clube. Estamos sim diante de uma questão de bom senso de incluir a maior, mais rica e mais bem estruturada cidade do País e toda a América Latina na Copa 2014 ou não!
Lauro, texto brilhante, análise certeira. Parabéns.
Lauro ... perfeito, impossível dar melhor ênfase a tamanho absurdo ... sábias palavras meu amigo, assino embaixo !!!
Eriko
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