quarta-feira, 18 de outubro de 2023

Jabuticabas: paixão tardia

Desci agorinha do Coqueiro Torto com o embornal carregado daquelas negras frutinhas da safra 2023 do meu sogro. Jamais tinha visto e sentido tamanho diâmetro e dulçor numa jabuticaba caipira. Não sou daqueles que têm memórias de infância e juventude chupando jabuticabas no pé. Tampouco tenho no meu pobre currículo traquinagens de moleque para angariar jabuticabas em pomares alheios. Gostava da fruta, saboreava-a eventualmente, mas não era nenhuma paixão. Na última década, desde quando Zé Lino decidiu se refugiar na montanha à sombra de jabuticabeiras, fui arrebatado pelas neguinhas. Aprendi tardiamente a estourá-las sob o pé, fazendo o garimpo nos galhos mais baixos, circulando no solo como um orangotango faminto, mas cuidadoso, que evita colocar seu colossal peso sobre a frágil árvore. Josi, que é versada desde sempre no prazer delas, escala fácil o tronco e se equilibra nas alturas para colher as mais bonitas. Bem verdade que minha cúmplice na gula jabuticabesca tem feito uso de uma escada para alcançar as quase inalcançáveis, mas isso não tira a poesia dessa Jane adoçando a boca do seu roliço Tarzan. 




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