sábado, 22 de fevereiro de 2025

Burgers, brejas, estética e impulsos


 Caio Augusto Caldas Nunes é chef por formação, opção e vocação. Influenciado por tradições familiares no fogão — mãe e avó eram boas na arte das panelas —, começou cedo a gostar da alquimia de temperos e da diversidade dos pontos de cocção. Diplomado pela Universidade São Francisco, lançou-se no mundo e acumulou experiências em cozinhas dos Estados Unidos, Campinas e Salvador.

Desse período na estrada, ele destaca o trabalho no resort Gaylord Palms, em Orlando, nos restaurantes Old Hickory Steak House, de carnes premium, e Moore, de frutos do mar. No Brasil, passou pelos campineiros Maialini e Lume, além do baiano Origem.

Durante a pandemia, Caio conheceu Fabiele da Silva Melo, a Bia, em Andradas, cidade natal de ambos, e o calor desse encontro transformou sua vida. Designer floral e arquiteta, ela trouxe seu refinamento visual para os jantares em grupo na casa dela, reuniões que ajudaram a atravessar o período difícil de restrições, unindo gastronomia, decoração e hospitalidade.

Com a flexibilização do isolamento social, novas necessidades e vontades surgiram: trabalhar mais, crescer, mudar de ares, explorar um novo mercado. A vulcânica Poços de Caldas foi eleita para essa nova fase do casal.

Num quarteirão underground da rua Corrêa Netto, um prédio bacaninha com uma cozinha minúscula abrigou a inauguração da Coyote Tap House, nascida da admiração de Caio pela cultura norte-americana. Cervejas artesanais, hambúrgueres, tacos tex-mex e música country inspiraram o empreendimento dos jovens andradenses.

Ali, por três anos, consolidaram um conceito informal e de alta qualidade culinária entre poços-caldenses e turistas. Em 2025, a Coyote estreou em um pedaço mais mainstream. Bia imprimiu seu apuro estético nas novas instalações da Praça dos Macacos. O cardápio renovado manteve o espírito original do negócio. As brejas autênticas e os burgers clássicos agora têm novas companhias na carta, como steaks, brisket sandwich, defumados, fantásticas e pungentes hot wings, coquetéis autorais, entre outras viagens do paladar.

Poderia elencar milhares de motivos para visitar e revisitar a Coyote, começando pela energia vital e simpatia de Caio e Bia, mas vou me ater a dois que falam diretamente à alma de quem ama um bom hambúrguer: lá tem cheddar de verdade e o faminto pode pedir ovo mole no seu burgão.


🍔🍺🍔🍺🍔

Coyote Tap House

Praça Dom “dos Macacos” Pedro II, 37
Poços de Caldas, MG

De terça à sexta e domingo, a partir das 17h

Sábado, a partir das 11h30



terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

Praia na montanha

 

Eduardo e Margareth fizeram a vida em São Paulo. Por décadas, ele se dedicou a implantar lojas de uma famosa rede de frango frito. Foi numa dessas viagens de trabalho que Eduardo conheceu Poços de Caldas e se apaixonou pela região. O desejo de empreender por conta própria surgiu como fruto da vontade e das circunstâncias da vida. E morar na praia também estava nos planos do casal.


Foi assim que, em Itanhaém, eles passaram a tirar o sustento de um quiosque à beira-mar. Camarão frito com caipirinha e porquinho com cerveja tornaram-se duplas imbatíveis, encantando veranistas famintos e sedentos pelos petiscos servidos sob a brisa oceânica. Ainda assim, Poços de Caldas nunca saiu do radar de desejos deles. Quando decidiram trocar o mar pelas montanhas que unem paulistas e mineiros, levaram na bagagem o know-how peixeiro e abriram o restaurante Navegantes. A casa navegou bem até a pandemia. O isolamento social, no entanto, afundou o barco.


As portas fechadas guardavam um estoque generoso de camarão. E Eduardo, para não perder mercadoria tão preciosa, muniu-se de isopores, gelo e uma pequena pick-up e saiu mascateando os crustáceos por estas plagas abençoadas pela Mantiqueira. O sucesso foi imediato, e das vendas itinerantes nasceu o Carro do Peixe, uma verdadeira peixaria volante que percorre a região ofertando o melhor do mar: mariscos, lagosta, siri, polvo, robalo, atum, ostras e mais, muito mais. Fresquíssimos, os produtos vêm para a altitude semanalmente, transportados cuidadosamente pelo próprio empreendedor.


Mudança, afinal, sempre esteve no DNA do casal. Em busca de sossego e do frio montanhês, Eduardo e Margareth ancoraram no bairro da Cascata, em Águas da Prata. Mas a calmaria da aldeia que junta São Paulo e Minas se quebra nos segundos e últimos domingos do mês, quando a rua diante de sua casa, fechada com a devida autorização do poder público, transforma-se em um restaurante a céu aberto. Ali, pratos e porções protagonizados pelos tesouros das profundezas de Netuno conquistam cada vez mais adeptos.


Na Cascata lendária dos cafeicultores e batateiros, a questão “praia ou montanha” já não faz sentido. Porque ali, na mais improvável geografia, existe agora uma praia na montanha.



📍 Rua Manoel Diogo, 115 - Bairro da Cascata, Marco Divisório, Águas da Prata, SP


🌍 Clique aqui para saber como chegar


📞 Faça sua reserva: (13) 99609-4747 



domingo, 2 de fevereiro de 2025

Gerações, amores e sabores

 

Conheci Camila Mollo em um doce contexto. No coração de São João, ela preparava brigadeiros maravilhosos em seu pequeno e acolhedor espaço, a Dona Margot Brigaderia. Preciso confessar: a coxinha e o pão de queijo eram tão irresistíveis quanto as bolinhas de chocolate belga. O negócio nasceu em 2019, das necessidades da vida e de inspirações afetivas dos avós.


Zé Carlos, avô paterno, fez um fogãozinho a lenha para os netos brincarem em seu quintal. As primeiras lembranças de Camila na cozinha foram ali. Ela e a irmã, Renata, preparavam omeletes e bolos para o clã. Bem ruins, Camila revela, mas o vovô devorava tudo. Nascia, daquele fogo na madeira, a paixão pelas panelas.


Aos sábados, religiosamente, Dona Margot, avó materna, reunia a família em torno da mesa. Servir a comida mais gostosa aos queridos era o grande prazer da matriarca. O sabor da feijoada fumegante e as sobremesas caseiras da avó entraram definitivamente na alma de Camila.


A neta não nega os créditos à Dona Margot: dela vieram ensinamentos e estímulos para empreender no ramo da alimentação. Da já saudosa Brigaderia, onde Camila descobriu sua verdadeira vocação no comércio, a rua Prudente de Moraes jamais vai esquecer daqueles pequenos-grandes deleites gastronômicos.


Em março de 2023, ela saiu do Centro para se associar a dois primos na ambicionada Mantiqueira destes Crepúsculos. A sociedade na Maria Tapioca não vingou.


Apoiada pelos pais e empurrada pela força vital da mãe, Silvia, Camila vem, desde 2024, exercendo sua arte em um ambiente (bem) mais amplo. Mais área, mais trabalho, mais cores, mais sabores! O prédio na Durval Nicolau, onde as tapiocas reinavam, hoje acolhe um cardápio contemporâneo que segue homenageando a cozinha nordestina, mas vai além: o Flor de Mandacaru celebra a riqueza e a diversidade de toda a culinária brasileira.


E as doçuras da incansável e talentosa Camila? Ah!, elas continuam nos tentando no novo balcão.


Nota do autor: Não há como falar da protagonista desta crônica sem falar de seu filho, Davi. Autista, o menino é alvo de toda a devoção da mãe. De alguma forma, tudo o que ela fez, e continua fazendo, é para proporcionar o melhor para a cria. Sorriso genuíno sempre aberto aos clientes, a energia de Camila para cuidar de um rebento com necessidades especiais e vencer no concorrido ramo de restaurantes é admirável, resistente como a flor de mandacaru.



Flor de Mandacaru

📍 Av. Dr. Durval Nicolau, 252, São João da Boa Vista, SP

🕒 Segunda a sábado, das 11h às 22h